Américo Grova não vai trabalhar com as Marchas de Lisboa em 2024

Américo Grova é cenógrafo das Marchas Populares de Lisboa há quase 40 anos, colaborando também com as marchas de Almada. Este ano, não irá trabalhar com o concurso da capital, concentrando todo o seu trabalho para a Marcha das Barrocas, em Almada, que vai regressar à competição após 10 anos de ausência. Contudo, pondera voltar em 2025.

Américo Grova é um nome incontornável no mundo das Marchas Populares. O cenógrafo começou nestas andanças em 1985 na Marcha da Mouraria, convidado por Domingos Alves, antigo cenógrafo desta marcha. Desde então, já fez dezenas de arcos, festões e arraiais para vários bairros lisboetas. Em quase 40 anos de atividade, Américo já trabalhou com bairros como os Olivais, Alto do Pina, Lumiar, Penha de França, entre outros, tendo ainda dado o seu contributo para marchas infantis como por exemplo os Fidalgos da Penha, e também para as Marchas de Almada.

Em 2023, trabalhou com a Marcha dos Mercados, que aponta como aquela que, ao longo de quatro décadas, foi a que “correu menos bem”. “Não foi pelo projeto em sim, mas sim por coisas que aconteceram depois”, explica o cenógrafo a Olhares de Lisboa, sem querer, contudo, adiantar mais pormenores. Este ano, não vai trabalhar com nenhuma marcha lisboeta, mas irá continuar a fazer cenários, desta vez para a Marcha das Barrocas, que vai regressar às Marchas de Almada após 10 anos de paragem. No ano passado, trabalhou ainda com a Marcha da Costa da Caparica, que venceu o concurso com o tema ‘Nem Seria de Outra Maneira’.

Cenógrafo já conquistou oito prémios de categoria especial

Até ao momento, Américo Grova já conquistou oito prémios de Melhor Cenografia, seis por Lisboa e dois por Almada. Para além da Costa da Caparica, o cenógrafo, natural do bairro do Alto do Pina, também já trabalhou com a Capa-Rica, o Pragal e as Barrocas. Em 40 anos de marchas, confessa que é díficil escolher uma especial, mas destaca a prestação do Alto do Pina “em 2001 ou 2002”, em que “levámos uma cenografia tridimensional”, recorda o cenógrafo, que trabalha como funcionário da Higiene Urbana na freguesia do Areeiro. “Eu só tenho a quarta classe”, salienta Américo Grova. Por isso, não tem nenhuma formação como cenógrafo, tendo entrado neste mundo “por curiosidade”.

Uma cenografia completa, revela, demora até dois meses a ser concluída, mas as ideias começam a surgir logo em dezembro, assim que mal sai o tema central do concurso. “Por norma, começamos a pensar no tema em dezembro”, diz o cenógrafo, explicando que, o primeiro passo é definir como serão os arcos, e se estes serão de uma ou de duas pessoas. Américo Grova faz tudo na cenografia, desde os desenhos até à concepção dos arcos, e revela que faz tudo “à mão”, utilizando materiais como a esferovite, papel vegetal ou alumínio, havendo ainda “muita reciclagem” de materiais.

Valor de uma cenografia depende do tempo gasto e dos materiais usados

Apesar de ser um fã das Marchas Populares, Américo Grova é remunerado pelo trabalho que faz para o concurso, adiantando que os valores “variam muito”, em função do tempo despendido ou dos materiais usados. Por outro lado, ressalva que também investe “muito dinheiro próprio” no trabalho que está a fazer, “pelo gosto e também pela vontade de dar o melhor e vencer” o concurso.

Na sua opinião, as Marchas Populares são muito importantes para a cidade, não só pela tradição, mas também “porque, muitas vezes, é a única forma de cultura” que as pessoas com menos recursos financeiros têm acesso. Por fim, e apesar de não trabalhar com nenhuma marcha lisboeta em 2024, adianta que irá “acompanhar todos os desfiles” na Altice Arena e na Avenida da Liberdade.

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