Lisboa homenageou bombeiros nos 36 anos do incêndio do Chiado

A Câmara Municipal de Lisboa (CML), através do Regimento Sapadores Bombeiros (RSB), a mais antiga e maior corporação de socorro em Portugal, prestou, este domingo, 25 de agosto, uma homenagem aos Bombeiros do município este domingo, na mesma data em que se assinalam 36 anos do incêndio no Chiado.

25 de agosto de 1988. A cidade de Lisboa acordou com a notícia de um incêndio de grandes dimensões na zona do Chiado, e que começou nos Armazéns do Grandela, tendo-se propagado rapidamente para outros edíficios contíguos, nas ruas do Carmo e Garrett. 36 anos depois da tragédia, que fez uma vítima mortal (um bombeiro), 70 feridos e mais de 300 desalojados, a Câmara Municipal de Lisboa (CML) realizou uma cerimónia evocativa deste incêndio, na qual homenageou à perseverança, o altruísmo, o esforço e a solidariedade de todos os bombeiros do Município de Lisboa. A cerimónia aconteceu junto à lápide evocativa do incêndio, na Rua do Carmo.

Segundo Carlos Fernandes, do Regimento de Sapadores Bombeiros (RSB), “a CML, pela importância que atribui ao papel dos bombeiros, institucionalizou o Dia Municipal do Bombeiro no dia 25 de agosto. Este dia visa relembrar e homenagear os bombeiros de Lisboa, homens e mulheres empenhados na proteção e socorro e no bem-estar das populações do município, colocando, muitas das vezes, a sua própria vida em risco. Estamos certos que existe unanimidade no pensamento de que esta nobre tarefa merece ser reconhecida nos seus feitos, honra e glória”.

Cerimónia contou com vários elementos ligados à Proteção Civil

Na ocasião, lembrou o regimento, “Lisboa, fruto da sua atividade comercial e económica, foi desde há muitos séculos uma cidade de muitos incêndios. É em finais do século XIV que a Câmara Municipal de Lisboa manifesta a preocupação de criar e organizar um serviço de incêndios de forma evolutiva, tendo ao longo dos tempos contribuído para a construção deste serviço no município”. Esta homenagem contou ainda com a deposição de uma coroa de flores em memória dos que combateram e dos que faleceram em 1988 na sequência do incêndio no Chiado, a que se seguiu a entoação dos toques de silêncio e alvorada.

Nesta cerimónia evocativa, estiveram presentes várias entidades ligadas à Proteção Civil, nomeadamente representantes da Liga dos Bombeiros Portugueses, da Escola Nacional de Bombeiros, da Associação Nacional de Bombeiros Profissionais, da Associação Nacional de Bombeiros Profissionais, do Sindicato Nacional de Bombeiros Sapadores, entre outras entidades.

Mais de 70 feridos e 300 desalojados

De acordo com a vereadora Joana Oliveira e Costa, em representação do presidente da CML, Carlos Moedas, “a celebração do Bombeiro Municipal e a evocação desta tragédia não são coincidência. Há 36 anos, na madrugada de 25 de agosto de 1988, aqui onde nos encontramos, um incêndio destruiu os armazéns do Chiado, mas destruiu muito mais do que isso. Roubou desde logo a vida a duas pessoas, um septuagenário aqui residente e um colega vosso, Joaquim Ramos”. “Foram 18 os edifícios destruídos, alguns dos quais levantam consigo parte da história da cidade”

“Foram mais de 70 feridos, mais de 300 pessoas desalojadas e cerca de duas mil pessoas desempregadas. Este dia ganhou um lugar na memória coletiva da cidade como uma das piores catástrofes que assolaram Lisboa”. No entanto, referiu ainda a autarca, esta data pretende também assinalar “a bravura, o serviço ao outro, a entrega e o amor que todos vós põem ao serviço de todos nós. Num mundo tão individualista e num tempo tão individualista como aquele em que vivemos, contarmos com quem tem por lema ‘vida por vida’, como tragicamente Joaquim Ramos [o bombeiro falecido no incêndio no Chiado] nos mostrou há 36 anos, não é só um garante de segurança, é também um sinal de esperança”.

Investimento de sete milhões nos bombeiros

Por isso, e tendo em conta a importância do trabalho dos ‘soldados da paz’, lembrou ainda Joana Oliveira e Costa, a autarquia “tem um forte compromisso com todos vós”, pelo que faz de tudo para que “nada falte aos nossos bombeiros”. “Prova disso é que estamos hoje muito mais bem preparados, não só em recursos humanos, mas também em viaturas e equipamentos, desde logo graças ao investimento feito em 2023 de cerca de sete milhões de euros. Que esta capacitação nunca tenha de ser posta à prova, mas que a cidade nunca falte aos bombeiros, porque temos a certeza de que os bombeiros nunca faltarão à cidade”, concluíu a vereadora.

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Joana Oliveira e Costa terminou a sua intervenção a deixar uma “palavra de confiança e um agradecimento pelo extraordinário trabalho que os bombeiros de Lisboa e todas as entidades relacionadas com a proteção civil fizeram nesse dia e continuam a fazer todos os dias”. Esta cerimónia evocativa contou ainda com uma exposição de meios ao serviço do Regimento de Sapadores Bombeiros de Lisboa, entre os quais um Veículo de Socorro e Assistência Técnica, utilizado em acidentes com vítimas encarceradas, dois Veículos de Operações Específicas, afetos às Equipas de Resposta Rápida em Motociclo, e que têm como finalidade o patrulhamento, prevenção e resposta a ocorrências, entre outros meios.

“Era um grande braseiro”, recorda o fotojornalista Corrêa dos Santos

O incêndio no Chiado deflagrou por volta das cinco da manhã nos Armazéns Grandella, do lado da Rua do Carmo, e destruiu 18 edíficios e uma área equivalente a oito campos de futebol. Fernando Corrêa dos Santos, antigo repórter fotográfico do vespertino Diário Popular, esteve, uma vez mais, nesta cerimónia evocativa, na qual levou alguns registos fotográficos do dia da tragédia. O fotojornalista, com mais de 70 anos de carreira, vive no Chiado – onde também vivia na altura do incêndio -, e, por esse motivo, foi o primeiro a chegar ao acontecimento. Em 2023, por ocasião dos 35 anos do incêndio, o repórter lembrou, ao Olhares de Lisboa, que, nessa madrugada “fui à janela e vi umas fagulhas. Peguei na máquina e nos rolos e vim para a rua começar a disparar”.

Daquele dia, recorda-se de assistir ao fogo a alastrar-se pelos Armazéns Grandella, mas não conseguiu fotografar mais de perto “porque não me deixaram”. “Era um grande braseiro”, disse Corrêa dos Santos, atualmente com 90 anos.  Após captar as primeiras imagens do incêndio, o fotojornalista correu para a redação do Diário Popular para revelar as fotografias. “Estava no laboratório, com um rádio a pilhas, a ouvir a evolução do incêndio. [Na altura] estava já a chegar às antigas instalações da Rádio Renascença, que eram perto da minha casa”, recordou o profissional, cujas imagens do incêndio foram publicadas na edição daquele dia do Diário Popular – jornal onde trabalhou mais de 20 anos até ao seu fecho, em 1991.

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