A União de Associações do Comércio e Serviços (UACS) recebeu, no passado dia 18 de outubro, um encontro onde se debateu alguns desafios do mercado laboral. Um dos temas em destaque foi as vantagens e desvantagens da implementação da semana laboral de quatro dias.
A União de Associações do Comércio e Serviços (UACS) promoveu o Labour Summit, um encontro que juntou diversas personalidades ligadas aos setores do comércio e serviços, restauração, hotelaria e logística, e onde se debateu a crescente falta de mão de obra no mercado português, bem como algumas vantagens e desvantagens da semana laboral de quatro dias. O Secretário de Estado do Trabalho, Adriano Moreira, e Secretária de Estado Adjunta e da Igualdade, Carla Mouro, também marcaram presença, aproveitando para deixar a sua perspetiva sobre o impacto da falta de mão de obra e as desigualdades no setor do comércio.
Alguns dos temas em destaque foram ainda a implementação da semana de trabalho de quatro dias, bem como a igualdade de direitos e deveres no mercado de trabalho. No palco do Labour Summit, que aconteceu na sala do conselho da UACS, o Secretário de Estado do Trabalho ressalvou a importância de uma sociedade organizada e que quer crescer, não poder deixar ninguém para trás. Adriano Moreira falou no primeiro painel, intitulado ‘Escassez de Mão-de-Obra e de Competências na U.E. e o Caso Português’, moderado por Filipe Alves, diretor do Diário de Notícias.
Semana de quatro dias pode criar desigualdades
Já o segundo painel foi moderado por Filomena Abraços, Diretora Técnica APPACDM de Lisboa, e versou sobre a questão da “Semana dos quatro dias”, onde participaram personalidades como Luís Cordeiro, Diretor Financeiro e Administrativo LISTOR; Armando Correia, Presidente da Direção AECC; Carlos Moura, Presidente AHRESP e Luís Cabaço Martins, Presidente ANTROP. O primeiro deu o exemplo da sua empresa, onde, “há dois anos que é implementada a semana dos quatro dias. Criámos equipas espelho e aumentámos o horário dos quatro dias, reorganizámos o trabalho, pausas desnecessárias e tarefas inúteis”.
Por outro lado, Armando Correia referiu que “se conseguirmos resolver em quatro dias aquilo que resolvemos em cinco, tudo bem, mas eu penso que não”, até porque existem diferenças entre “uma empresa de 100 pessoas para uma de três ou quatro pessoas”. Por sua vez, Carlos Moura, destacou que “toda a gente quer trabalhar menos e , por isso, esta é a altura menos adequada para discutir esta questão. Nós temos problemas de demografia, problemas sérios de força laboral transversal. O nosso foco atualmente não é reduzir o trabalho, não podemos. Temos défice de produtividade, o nosso foco está em aumentar o salário mínimo”.
Portugal tem a geração mais qualificada de sempre
Luís Cabaço Martins considerou ainda que a semana laboral de quatro dias “é um sistema que vai criar desigualdades, porque ou se reduz o salário ou trabalha-se mais horas nos quatro dias. 80% [dos colaboradores] acha que ganha abaixo do que devia, por isso não querem reduzir o salário, nem aumentar a carga horária”. Assim, considera, “uma das saídas possíveis para um maior equilíbrio familiar, sem prejudicar a empresa, será a flexibilidade de horário”. Neste painel abordou-se ainda a fiabilidade de adoptar a semana de quatro dias em áreas como o comércio e a hotelaria, onde discursaram Domingos Lopes, Presidente do Conselho Diretivo do IEFP; Vera Chaves, Diretora Coordenadora de Recursos Humanos Portugália; André Brodheim, Administrador Grupo Brodheim e Afonso Carvalho, Presidente da Direção da APESPE.
Para o presidente do IEFP, “as atuais gerações são as mais qualificadas, de sempre, em Portugal e não estamos a conseguir retê-las. Temos de perceber se o modelo que estamos a utilizar é sustentável”. Já Vera Chaves ressalvou que “a diferença de Portugal para a União Europeia está nas microempresas que fazem parte do tecido empresarial em Portugal. Na nossa cultura ainda achamos que trabalhar mais horas, é trabalhar muito. A integração não é só formação, há o preenchimento das necessidades básicas que se não forem asseguradas, como a habitação e sobrevivência, aumenta a criminalidade e outros incidentes”.
Apostar na capacitação
De acordo com André Brodheim, “a nova geração rompe com o mindset de produtividade e as horas de trabalho, que colocam Portugal num ranking baixo. Vejo situações um bocadinho vergonhosas como as pessoas terem que lutar para ter casa porque não lhes arrendam”. Por outro lado, Afonso Carvalho disse ainda que “nós não somos bons a planear 10 ou 20 anos. Vamos viver mais, teremos de estudar mais. Sem uma visão a longo prazo, vamos andar a navegar à deriva e quando há escassez – e vai haver nos próximos anos-, os líderes PME resolvem com o preenchimento interno ao invés do apoio profissional”.
Na sessão de encerramento do período da manhã, Adriano Moreira reiterou que “o maior empregador nacional aplica 35 horas por semana. Há uma coisa que temos de perceber, o horário de trabalho do trabalhador, em nada tem a ver com o horário de trabalho de funcionamento da atividade da empresa, são coisas totalmente distintas.” Este encontro teve ainda uma painel dedicado ao tema “Igualdade Direitos e Deveres no Mercado de Trabalho”, onde foi abordada a capacitação dos colaboradores, igualdades e deveres”.
Aqui, estiveram presentes Susana Cipriano, Diretora APCC; José Manuel Lucas, Vogal do Conselho Diretivo Casa Pia, e Rodrigo Ramos, Presidente INR. O Labour Summit foi organizado pela UACS em colaboração com a Confederação do Comércio e Serviços de Portugal, e o seu encerramento coube a Carla Mouro, que referiu que “as empresas e organizações só se tornam mais resilientes e respeitadas se investirem no que mais valioso têm: as pessoas. Acreditamos que as empresas que se adaptam melhor e que compreendem, sobretudo, a riqueza da diversidade, que reconhecem que a inclusão e a igualdade não são apenas uma questão de justiça e responsabilidade social, mas são também uma questão de competividade”.