Colaborador do OL escreveu um livro de reportagem sobre o suicídio. O jornalista Luís Henriques Antunes realizou uma investigação que põe a nu a necessidade de se falar de forma descomplexada sobre saúde mental em Portugal, pondo a tónica na urgência da prevenção do suicídio.
O suicídio é um problema de saúde pública que continua a ser ocultado sob um pesado manto de silêncio. Durante mais de 3 anos, o jornalista Luís Henriques Antunes, colaborador do Olhares de Lisboa, mergulhou a fundo numa investigação jornalística que teve como objetivo desmistificar os tabus que rodeiam este assunto, entrevistando os psiquiatras mais conceituados que tratam estes casos, assim como intelectuais da Igreja Católica e os familiares de pessoas que autoinfligiram a morte.
OS LABRIRINTOS INSONDÁVEIS DO SUICÍDIO, apesar de ser um livro bastante duro, traz uma nova perspetiva sobre este problema, tão antigo quanto a Humanidade, abrindo as portas para a necessidade de haver a discussão pública deste terrível problema social.
Luís Henriques Antunes afirma ao OL que este livro de reportagem “foi o trabalho mais difícil” de conseguir levar a cabo ao longo da sua carreira como repórter e anota que pensou “desistir muitas vezes”, uma vez que poucos foram os familiares que revelaram as histórias que estavam (bem escondidas) na esfera privada para a esfera pública, dando o seu testemunho sobre os processos suicidários que desembocaram no desaparecimento dos seus entes queridos.
“Esta obra tem como objetivo maior tentar salvar (algumas) vidas de pessoas – podem ser os nossos vizinhos, os nossos amigos e até os nossos familiares –, que estejam à beira do abismo. É preciso realçar que podem contar connosco e que o nosso ombro é suficientemente forte para os amparar, e que os nossos braços estão cá para os ajudar a levantar”, explica o jornalista.
Escutar, apoiar, encaminhar
Em entrevista de fundo que marca o início do livro, o psiquiatra CARLOS BRAZ SARAIVA, o mais conceituado perito em suicidologia em Portugal, sublinha as origens dos problemas de saúde mental que acabam em suicídio, onde as depressões profundas pautam na maioria dos casos, mas aponta caminhos de atuação para prevenir a ocorrência de novos casos. Defende a importância da deteção precoce de sinais que indiquem a ideação suicida e a necessidade de o meio envolvente da pessoa em risco abrir os braços e acolher quem esteja em risco.
Segundo o psiquiatra, que é docente na Faculdade de Medicina na Universidade e Coimbra, importa sublinhar que, com ajuda especializada, é possível reverter as intenções de alguém que esteja no fio da navalha, mas que essa pessoa tem de ser acompanhada nos serviços de saúde por um profissional de saúde que estabeleça um “pacto” de tratamento com o doente. Carlos Braz Saraiva reitera que a doença mental é ainda hoje um tema tabu e que este manto de silêncio prejudica as pessoas que estejam a atravessar um momento de “grande desesperança”.
Durante o lançamento do livro, no dia 13 de fevereiro, na livraria Buchholz em Lisboa, o sociólogo e presidente da linha de prevenção SOS Voz Amiga, reconheceu a necessidade de os problemas de saúde mental deixarem de estar ocultados pela vergonha e a culpa da sociedade e que urge começar a falar-se de saúde mental “sem reservas”, pois só assim se conseguirão obter resultados na prevenção dos casos de suicídio em Portugal.
Francisco Paulino citou dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) em que se apontam um caso de suicídio a cada três segundos no mundo, sendo que em Portugal se registam três suicídios diários, mas admitiu que estes números “deverão estar desatualizados e aquém da realidade”, pois os casos por “morte indeterminada” poderão revelar uma realidade ainda “mais preocupante”.
“Há muitas mortes cujas causas nunca chegam a ser apuradas. Por vergonha ou por não querem ser conotados pela falta de atenção a um familiar, as famílias querem esconder as razões de determinada morte em circunstâncias por apurar”, referiu Francisco Paulino.
O líder desta linha de apoio, a mais antiga em território nacional, revelou que recebem uma média de dez mil pedidos de socorros anuais e que, ultimamente, têm aumentado as chamadas de adolescentes e mesmo de crianças. Para Francisco Paulino é urgente aumentar a prevenção do suicídio para estancar esta “preocupante realidade” e que este livro, “que está excelente”, “vai ser uma ferramenta fundamental” para ajudar nesta tarefa.
OS LABIRINTOS INSONDÁVEIS DO SUICÍDIO foi editado pela Guerra & Paz e já pode ser adquirido nas livrarias ou diretamente no site da editora.