Na data que assinala 25 anos após a morte de Amália Rodrigues, abriu, neste domingo, dia 6 de outubro, o projeto ‘Ah Amália – Living Experience’, em Marvila, e que pretende homenagear a fadista através da divulgação da sua vida e obra, cruzando o físico com o digital. Durante o mês de outubro, os bilhetes custam 12 euros.
Foi inaugurado, este domingo, 6 de outubro, o ‘Ah Amália – Living Experience’, um espaço localizado em Marvila que convida o público a mergulhar na vida e obra de uma das figuras mais icónicas da história de Portugal e que contribuiu amplamente para a divulgação da cultura portuguesa, ao dar voz ao fado e levá-lo ao mundo. Segundo Sofia Moura, responsável pelo projeto, o “Ah Amália pretende fazer um mergulho no tempo, na obra, na história, no país e na cidade”, sendo ainda “uma experiência nunca vista”.
“Aqui encontramos Amália de uma forma nunca vista, ouvida ou sentida. Amália é muito mais do que a rainha do fado. É alma. É eterna e é etérea. Vive nas referências de todos, na história da nossa cultura e na representação consagrada de um povo”. Para a responsável, a fadista é também “inspiração, poesia, e uma estranha forma de vida. É revolucionária e encantadora, é o retrato do fado e de um imaginário que apaixona o mundo inteiro. Cantora, intérprete, atriz, poeta ou simplesmente mulher, que criou um estilo próprio, deu asas ao fado, popularizou a grande poesia e tornou-se um dos rostos da alma do nosso país, e que deu um grande contributo para que o fado seja reconhecido hoje como Património Imaterial da Humanidade”.
Exposição com 700 metros quadrados
“Amália não é só um ícone cultural, é uma inspiração emocional e para conhecê-la, não basta explicar, porque Amália vive-se e vai-se vivendo e absorvendo. Este foi o mote para esta experiência que só nos fez sentido que fosse assim, imersiva, sensorial, viva, que cruza todos os sentidos e emoções, o som, o visual, o virtual, o imersivo e o inesperado”.
Este novo espaço conta com uma área de de 700 metros quadrados de exposição, onde é possível visitar o espólio material e imaterial da artista, através de uma combinação de tecnologia de ponta, como videomapping 360º, hologramas e realidade virtual. É esta fusão entre o físico e o digital que proporciona uma experiência única, conectando gerações e revelando a alma de Amália de forma imersiva e envolvente.
O ‘Ah Amália’ conta ainda com o apoio da Fundação Amália Rodrigues. De acordo com Luís Andrade, presidente do Conselho de Administração desta fundação, explicou que “Amália não partiu: continua e continuará sempre em nós. Através da sua presença e da sua voz, Amália fez chegar aos quatro cantos do mundo uma parte de nós, da nossa língua, cultura, história, da nossa maneira de estar, ser e sentir, sendo por isso um dos maiores símbolos da nossa identidade e da afirmação da portugalidade no mundo”.
Amália levou o fado aos quatro cantos do mundo
Luís Andrade referiu ainda que “Amália é uma mulher fascinante, simples e simultaneamente complexa, sedutora, livre e independente, irreverente, intensa, desconcertante, criativa, inspiradora, visionária, extremamente humanista e socialmente inclusiva e solidária, tendo sido pioneira em quase tudo na sua vida”. Desta forma, exemplificou, “conseguiu levar a música popular portuguesa e o fado, até então circunscrito aos pequenos espaços das casas de fado, para os grandes palcos a nível mundial e ousou trazer para o fado os poetas eruditos, dando-os a conhecer ao mundo e ao povo português.
“Foi das primeiras mulheres a ter a lucidez de criar uma fundação, como forma de partilhar com todos os portugueses o seu legado e dar continuidade aos valores e às ações de caráter humanitário e de inclusão e solidariedade social que sempre praticou em vida”. Igualmente, lembrou ainda Luís Andrade, “foi a primeira mulher a decidir criar e transformar a sua residência habitual, na Rua de São Bento, numa Casa-Museu, partilhando com todos o seu quotidiano e uma parte da sua intimidade”.
Primeira mulher portuguesa a ter honras de Panteão
“Esta casa faz parte da rede europeia de casas museus de músicos europeus, a par de nomes como Mozart, Beethoven, Chopin, entre outros. [Amália] é uma das mulheres mais condecoradas e homenageadas em todo o mundo, e foi a primeira mulher portuguesa a ter a honra de ser sepultada no Panteão Nacional”. Por isso, referiu ainda, não existe melhor homenagem do que esta exposição, que “utiliza uma linguagem criativa e contemporânea, e nos convoca para uma viagem fascinante, inesquecível, sensorial e emotiva através da sua obra e vida”. “Tenho a firme convicção que Amália estará muito feliz, muito contente e muito grata com a homenagem deste projeto.
“A Casa-Museu Amália Rodrigues e esta exposição biográfica são excelentes exemplos de projetos com um grande significado, qualidade, relevância e atratividade, e que constituem importantes mais-valias, quer enquanto equipamentos culturais da cidade de Lisboa, quer enquanto veículos de promoção e divulgação da sua história, identidade e memória”, disse ainda o presidente da Fundação Amália Rodrigues, que aproveitou para agradecer ao presidente da CML, Carlos Moedas, por marcar presença nesta inauguração, bem como a todos os responsáveis para que este projeto se tenha tornado uma realidade.
Inspiração para gerações
Esta abertura contou ainda com as atuações da fadista Cuca Roseta, que interpretou três temas icónicos de Amália: ‘Alhoa’, ‘Lágrima’, e ‘Foi Deus’, tendo-se seguido uma atuação do coletivo Amália Hoje, liderado pela cantora Sónia Tavares. Segundo a artista, que em conjunto com Cuca Roseta, foi convidada a ser embaixadora deste projeto, foi graças a Amália Rodrigues que se estreou a cantar fado. “Eu cheguei à Amália aos 18 anos, através de uma música chamada ‘Summertime’, que estava cheio de sentimento e eu pensei: ‘afinal, a Amália não canta só fado’. Eu tinha outros gostos e, de repente, chega a Amália com este ‘Summertime’ e eu fico rendida”
“Eu vejo a Amália como uma estrela pop, a estrela que frequentou os melhores sítios, que fez os maiores duetos com as maiores personalidades, que pisou os maiores palcos, que foi uma diva de Hollywood e eu fiquei maravilhada e apaixonada por esta Amália que eu não conhecia”. “Depois, veio o projeto Amália Hoje e é neste contexto que eu percebo o porquê de me terem feito este convite. Eu não sou fadista e ela chegou-me com uma profundidade imensa e aquilo que nós fizemos, no projeto Amália Hoje, foi precisamente dar à luz e explorar aquilo que podiam ter sido os caminhos das canções da Amália que tinham tantas portas, e de repente chegámos às pessoas que não ligavam muito ao fado”.
Uma mulher à frente do seu tempo
Ainda de acordo com Sónia Tavares, “Amália foi e será provavelmente a maior artista pop que alguma vez Portugal conheceu e isso tem que ser celebrado todos os dias”. Já Cuca Roseta agradeceu o convite para ser uma das embaixadoras deste projeto, que é um “projeto incrível, e que permite ter Amália assim tão próxima, e onde a podemos conhecer de forma mais profunda”. Para além de Sónia Tavares e Cuca Roseta, houve ainda interpretações do guitarrista Custódio Castelo, acompanhado por estudantes da licenciatura em Guitarra Portuguesa da Escola Superior de Artes Aplicadas de Castelo Branco. Igualmente, esteve ainda presente o presidente do Conselho de Administração da EGEAC/Lisboa Cultura, Pedro Moreira, bem como algumas personalidades de ligadas ao fado.
Já o presidente da CML, Carlos Moedas, referiu que este museu “está na interseção entre o físico e o digital”. Destacando o trabalho de Sofia Moura e Luís Andrade, Moedas disse ainda que “Amália era uma mulher à frente do seu tempo”. Lembrando os tempos em que viveu em França, o autarca recordou ainda que “Amália era a nossa marca, é a nossa identidade, e a nossa alma. Eu lembro-me do orgulho que nós tínhamos em pensar que ela cantou no Olympia, e que o Bruno Coquatrix, um dos maiores produtores franceses, a convidou para fazer carreira em França, e ela não quis, porque queria ser portuguesa”. “Há algo que muda tudo quando pensamos no que ela foi, não só como fadista, mas também como mulher”.
Bilhetes custam 12 euros durante o mês de outubro
“O Alain Oulman foi um homem absolutamente extraordinário, foi ele que lhe trouxe Camões e os grandes poetas, e todos naquela altura criticaram, porque ela estava a fazer algo que nunca tinha sido feito”, recordou o presidente da CML. “É um orgulho para o presidente da Câmara estar aqui, é com muito, muito gosto que aqui estou e fiquei muito emocionado por este momento”, concluíu Carlos Moedas. O ‘Ah Amália – Living Experience‘ está aberto ao público, sendo que, durante o mês de outubro, para celebrar os 25 anos da morte de Amália Rodrigues, os bilhetes custam 12 euros, ao contrário dos habituais 20 euros.
Amália Rodrigues nasceu em Lisboa em julho de 1920 e é considerada a artista portuguesa mais bem sucedida do século XX. Aos 15 anos, começou a trabalhar como vendedora de fruta na zona do Cais da Rocha, onde deu nas vistas devido ao seu timbre de voz especial. Pouco tempo depois, em 1936, foi convidada a integrar a Marcha de Alcântara. Para além do fado, destacou-se também no teatro e no cinema. Faleceu a 6 de outubro de 1999, aos 79 anos, na sua casa na Rua de São Bento. Foi sepultada no Cemitério dos Prazeres, sendo que, dois anos depois, em julho de 2001, o seu corpo foi trasladado para o Panteão Nacional, onde ainda hoje permanece.