Esta terça-feira, dia 6 de junho, os concelhos de Loures, Odivelas, Mafra e Sobral de Monte Agraço assinaram, nos Paços do Concelho, em Loures, um Memorando de Entendimento para a constituição de uma Comissão Intermunicipal de Acompanhamento ao Hospital Beatriz Ângelo (HBA).
O documento foi assinado pelos presidentes de câmara destes quatro concelhos, servidos pelo HBA. Importa ainda reforçar que esta unidade de saúde responde a uma população de cerca de 278 mil habitantes, oriundos destes quatro concelhos. Com este documento, passamos agora a falar a uma só voz”, reforçou o presidente da Câmara de Loures, Ricardo Leão.
Por sua vez, este memorando de entendimento tem como objetivo estabelecer os termos de uma cooperação intermunicipal. O objetivo será reivindicar a melhoria da prestação de cuidados de saúde no HBA, aumentando a resposta aos utentes e a relação com esta unidade hospitalar. Desta forma, o coletivo pretende intervir junto “das várias entidades”, entre as quais a Administração Regional de Saúde (ARS) para pedir soluções “a curto prazo”.
Degradação no serviço do HBA, consideram autarcas
Ao mesmo tempo, servirá também para “monitorizar e acompanhar” a situação neste hospital, explicou Hugo Martins, autarca de Odivelas, ao nosso jornal. Segundo o edil, alguns dos problemas mais emergentes deste hospital dizem respeito a utentes, entre quais crianças, que já chegaram a estar à espera de uma consulta “durante 16 horas” ou a “carência de profissionais de saúde, que tem limitado as intervenções cirúrgicas”.
Ainda na sua perspetiva, tem havido “uma degradação sistemática e permanente dos serviços, quer ao nível do serviço de urgência, quer ao nível da marcação de consultas”.Neste ponto, Hugo Martins ressalvou que ” há pessoas com marcações de consultas com mais de dois anos”. Ao mesmo tempo, há ainda “profissionais desmotivados” no HBA, o que faz com que muitos queiram sair desta unidade. Também o encerramento das urgências pediátricas ao fim de semana é outro dos pontos que a nova comissão quer abordar junto das entidades competentes.
No entanto, Ricardo Leão sublinhou que o Ministério da Saúde prometeu a reabertura da urgência pediátrica ao fim de semana, no horário diurno, mas ainda não existem respostas nesse sentido. Por outro lado, esta comissão quer ainda pedir mais respostas nos cuidados primários de saúde, uma vez que a falta de médicos de família leva a que muitos utentes tenham de ir para o hospital, deixando-o sobrelotado.
Presidentes dos quatro concelhos querem ser ouvidos
“Queremos tentar que menos gente chegue ao hospital, para que este consiga dar uma resposta mais eficaz”, disse o presidente da Câmara Municipal de Sobral de Monte Agraço, José Quintino. Já o autarca de Mafra, Hélder Sousa Silva, lembrou ainda que, na altura da Parceria Público-Privada (PPP), havia “um conselho consultivo”, e que se reunia pelo menos uma vez por ano para fazer um ponto de situação do trabalho desenvolvido no HBA.
“Após o fim da PPP, o conselho de administração tornou-se ausente relativamente às interações com os autarcas”, lamentou. Ainda na sua visão, “o HBA deixou de cumprir os mínimos olímpicos relativamente àquilo que é uma boa prestação de cuidados”. Hélder Sousa Silva referiu ainda que é fundamental reforçar os recursos humanos do HBA, “o seu maior ativo”.
Unidades locais de saúde não resolvem o problema
Para minorar estes impactos, o Governo criou, na Área Metropolitana de Lisboa, três Unidades Locais de Saúde. A primeira é a de Santa Maria, no concelho de Lisboa, a segunda Loures/Odivelas e a última diz respeito à ULS do Oeste. Para o presidente da Câmara de Mafra, isto traz um problema para os utentes do seu concelho, que poderão ser encaminhados para o Centro Hospitalar do Oeste.
Para já, já estão constituídas as comissões que vão definir para onde é que os utentes de determinado concelho serão atendidos. “Eu não quero mandar nenhum doente meu de Mafra para Torres Vedras”, disse o edil, lembrando que as maternidades de Torres Vedras e Caldas da Rainha fecharam, sendo a única opção seguir para Leiria.
“Se não nos quiserem no HBA que é o mais próximo, estou disponível para ir para Santa Maria”, reforça Hélder Sousa Silva. O autarca adianta ainda que já expôs a situação ao Ministro da Saúde, e ao CEO do SNS, Fernando Araújo, mas ainda não há respostas concretas.
Resolver problemas em conjunto
Por outro lado, este memorando estabelece também a definição de estratégias conjuntas para a prevenção da doença e promoção da saúde junto da população em geral. Neste sentido, pretende-se ainda sensibilizar para a correta utilização dos serviços de urgência hospitalar. A ideia de se avançar com esta Comissão Intermunicipal com os presdentes dos quatro concelhos partiu da Câmara Municipal de Loures, que irá coordenar o grupo, explica a autarquia em nota de imprensa.
Ainda de acordo com Hugo Martins, a criação desta comissão surge também pelo motivo de “sentimos que não temos respostas, e que há uma grande impotência para resolver os problemas do HBA”. “Entendemos que os quatro, que representamos perto de 700 mil pessoas, juntos teremos portanto uma responsabilidade perante os munícipes”, concluíu.
Ministro da Saúde garante que vai resolver problemas em breve
Ao Olhares de Lisboa, à margem da inauguração da Unidade de Saúde de Famões, o Ministro da Saúde, Manuel Pizarro, garantiu “estar com a devida atenção” sobre a situação vivida no Hospital Beatriz Ângelo e garantiu dar respostas em breve. “O HBA é um hospital jovem, que saiu de uma gestão público-privada. Apesar de obedecer às regras de contratação, está ali com muitos constrangimentos”.
“Estamos a tentar superar estes constrangimentos, para recuperar a antiga capacidade de resposta que o Beatriz Ângelo tinha. É um equipamento essencial para esta população”, concluíu o ministro.