Num espaço de 100 anos, o Covid-19 é a segunda grande pandemia que «atinge» o nosso planeta. Em Portugal, a gripe espanhola matou, entre 1918 e 1920, mais de 120 mil pessoas.
A gripe espanhola, também conhecida como gripe de 1918, foi uma pandemia que, entre janeiro de 1918 a dezembro de 1920, infectou 500 milhões de pessoas, cerca de um quarto da população mundial na época, estimando-se que o número de mortos se tenha situado entre 17 milhões a 50 milhões, e possivelmente até 100 milhões, tornando-a uma das epidemias mais mortais da história da humanidade. Em Portugal, verificou-se uma elevada taxa de mortalidade, com duas ondas epidérmicas e uma ocorrência muito marcada entre os 20 e os 40 anos, que teria causado cerca de 120.000 mortes, cerca de 1,96% da população total.
Mas Portugal, ao longo da sua história, tem atravessado crises profundas que provocaram grandes alterações «na sua vida económica». O politólogo Oliveira Dias conta, em artigo de opinião para Olhares de Lisboa, algumas das crises que «arrasaram» o nosso país, desde a sua fundação como nação.
- D. Dinis foi, a vários títulos, um dos Reis mais importante da Dinastia Borgonhesa, mas o que realmente é notável, é que sendo Portugal, na sua época, um Reino sem grandes recursos financeiros, fomentou o desenvolvimento interno, absolutamente decisivo para a nação portuguesa, com o fomento de actividades como a instituição das feiras e mercados, uma rede de fortificações composta por castelos em todo o País, a exploração das terras agrícolas, mandando “enxugar” pântanos, transformando-os em terra arável, institui uma bolsa de mercadores para celebrar acordos internacionais, sobretudo com Inglaterra, a criação da marinha de guerra e o desenvolvimento da actividade piscatória, construção de portos marítimos e fluviais,sem esquecer a criação da primeira Universidade portuguesa, a escola dos estudos gerais, e a consolidação da língua ao ordenar que todos os documentos oficiais do reino fossem grafados na língua que o povo fala, eliminando a pratica de o serem em latim, grande impulsionador dos Concelhos. Sem isto, não haveria Portugal, Ponto. Por isso iniciar esta “jornada” por Dom Dinis.
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Marquês de Pombal (Sebastião José de Carvalho e Melo, Marquês de Pombal e Conde de Oeiras), primeiro-ministro do Rei Dom José I, foi o responsável pela impressionante resposta às consequências do do tríplice evento de 1755, composto por um Terramoto de grau 9º na escala de richter, que dizimou quase completamente a cidade de Lisboa, um Maremoto (tsunami) que afogou milhares de populares que se concentraram no terreiro do Paço, e um incêndio devastador para as poucas estruturas que ficaram de pé. Estima-se que tenham perecido cerca de 90.000 dos 300.000 habitantes da cidade. A reconstrução foi paga com o Ouro da capitania de Minas Gerais.
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Os Generais, Beresford e Wellington, tomaram conta de Portugal, com a desculpa de nos ajudarem a expulsar as tropas de Napoleão, após a retirada da corte para o Brasil. As tropas francesas rechaçadas pela última vez em 1810, fizeram enorme estrago no País, entre 1807 e 1810, num País pobre e sem recursos internos, o Brasil ficava longe, tendo Portugal ficado à mercê dos Britânicos, que exauriram os nossos parcos recursos. 100 anos depois, os nossos amigos britânicos humilham-nos com o “ultimatum”, ao mapa cor de rosa, pelo qual Portugal, no âmbito de uma conferência internacional dedicada à questão africana, pretendia unir Angola a Moçambique, agravando a depauperada situação económica de Portugal. Foi pois sem surpresa que, chegados ao reinado do Rei Dom Carlos I, e perante a miserável situação do País, o Rei viu-se forçado a pedir um empréstimo internacional com um prazo de maturação de 100 anos. Foi integralmente liquidado, pese embora não lhe tenha sido dada a publicidade que merecia.
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Oliveira Salazar, o poderoso Presidente do Conselho de ministros, depois de ter sido ministro das finanças, nos primórdios da República, beneficiou, e muito com o Plano Marshal, que “despejou” na Europa elevadas somas de dólares. Marshal, General americano, e secretario de estado da defesa, gizou um plano de apoio à Europa devastada pela segunda guerra Mundial, tendo Portugal beneficiado de cerca de 170 milhões de dólares. A bem dizer, Portugal na I Guerra Mundial perdeu muito mais (10% da sua população masculina nas trincheiras francesas de La Lys) e quase nada recebeu, na II Guerra como País neutral, sofreu economicamente, mas por actos de guerra, não houve nada de significativo, pelo que não deixa de ser bizarro ter sido premiado. Este dinheiro deu muito jeito à nossa economia, e certamente a guerra colonial não teria sustentação se não fosse esta almofada financeira.
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Mário Soares e José Sócrates, foram os protagonistas de pedidos de ajuda internacionais, num primeiro momento ao FMI, pela mão de Mário Soares, a fim de fazer frente a uma crise de recursos financeiros do País, depauperado por uma longa guerra colonial, e de isolamento internacional, devido a essa guerra, cujo impacto nas contas do país foram dramáticas. Posteriormente José Sócrates, haveria de ser confrontado com o desastre do Banco Lemhan Brothers americano que provocou um Tsunami económico e financeiro à escala mundial, a que se somou uma acção concertada de especuladores internacionais que atacaram as dividas soberanas dos países mais expostos, como Portugal, pondo o país de cócoras, e sem nenhuma outra alternativa que não fosse sujeitar-se à humilhante posição de solicitar a intervenção do FMI, BCE e União Europeia. Todos eles com juros agiotas, amealhando largos milhões em juros.
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Sócrates, vê-se a braços, em Fevereiro de 2010, com uma tragédia na Madeira, cuja dimensão foi dantesca, levando o então Presidente do Governo Regional, Alberto João Jardim, homem que se entretinha a ridicularizar o governo da república e o respectivo chefe de governo – o Pinto de Sousa como lhe chamava então – a declarar que perante a atitude de Sócrates, o qual nem pestanejou quando disse “Para a Madeira não se regateia montantes para fazer face aos problemas que os portugueses lá têm”, enterraria o machado de guerra. Foram Mil milhões, ou 1 bilião, como quiserem, que o governo destinou para a Madeira. Claro que Alberto João aproveitou para fazer mais uns quantos túneis de duvidosa oportunidade.
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António Costa, nem teve tempo de se regozijar com o facto das contas de 2019 terem fechado positivas pela primeira vez na história da democracia portuguesa, coroando toda uma série d e”feitos” nunca antes alcançados, pois foi ensombrado pelo COVID-19, o vírus vindo da China, com abomináveis repercussões, na humanidade. O ano de 2020, último desta década em curso ficará indelevelmente marcado por esta pandemia. A década encerra assim da pior maneira. Resta a esperança da nova década, que se inicia em 2021, possa ser mais promissora para todos.
Portugal, que cá está há 900 anos, cá estará, para durar outros 900 anos, e continuar a sua caminhada.