Fórum anual do Re-Imagine Europa realizou-se em Lisboa

Entre os dias 31 de janeiro e 2 de fevereiro, realizou-se em Lisboa o fórum anual do Re-Imagine Europa, que reúne mais de uma centena de personalidades vindas de toda a Europa. Este encontro debruça-se sobre as questões da polarização e desinformação em toda a Europa, entre outros temas.

Cientistas, decisores políticos e representantes da sociedade civil estão a debater, até esta sexta-feira, 2 de fevereiro, os desafios da polarização e da desinformação em toda a Europa. Lisboa é a cidade anfitriã do fórum anual do Re-Imagine Europa, que arrancou na última quarta-feira, 31 de janeiro. O evento foi acolhido pela Câmara Municipal, e o seu presidente, Carlos Moedas, marcou presença, num evento de encerramento que teve lugar ao final da tarde desta quinta-feira, 1 de fevereiro, nos Paços do Concelho. De igual modo, também esteve a antiga ministra do Emprego e antiga deputada ao Parlamento Europeu, Maria João Rodrigues, e Erika Staël von Holstein, CEO da Re-Imagine Europa (RIE).

O autarca abriu o encontro, dizendo que estava “muito feliz por ter todos aqui”. “Estamos aqui para discutir a polarização e para mim, ela envolve dois aspetos: rigidez e distância”. Para Moedas, a polarização acontece “porque estamos cada vez mais distantes uns dos outros”. “Para mim, como autarca, considero que as cidades podem ajudar a transformar isso”, prosseguiu o presidente, reforçando que “as pessoas querem medidas que tenham impacto nas suas vidas”. Moedas referiu ainda que deve existir uma maior ligação das cidades com a Europa, embora a ligação da Europa com as mesmas “seja forte”. “Penso que esta distância com a Europa existe porque as pessoas não entendem o que ela é e o que faz”.

Apostar em políticas de proximidade

Por isso, defende que as cidades tenham políticas que vão ao encontro dos objetivos europeus. Aqui, deu como exemplo a descarbonização. “No caso de Lisboa, queremos ser uma cidade neutra em carbono até 2030. Por isso, uma das medidas que criámos é a oferta dos transportes públicos para jovens até aos 23 anos e idosos acima dos 65. As pessoas vêm ter comigo e agradecem-me”, sustentou. Outra medida, recordou ainda, passa também pela rega do Parque Trancão/Tejo com água reciclada, bem como o uso dessa água para a limpeza das ruas. “Se trazermos as políticas europeias para o terreno, conseguimos reduzir a frição que existe, porque estas ideias não são claras para as pessoas”.

Por outro lado, o autarca lisboeta lembrou também a Fábrica de Unicórnios como outra medida que ajuda a aproximar os cidadãos da Europa. “Em dois anos, num país que apenas tem sete unicórnios, já conseguimos trazer 54 empresas”. No mesmo discurso, Moedas referiu ainda que, para “criarmos uma democracia e protegê-la, temos que nos focar em políticas sociais. As maiores que temos, neste momento, são a habitação e a saúde”. Aqui, o presidente da CML aproveitou para agradecer aos fundos europeus, pois graças a eles, “vamos poder construír casas em Lisboa a preços justos”.

Ainda na mesma intervenção, o edil disse ainda que “os extremos políticos levam a uma destruição do sistema e os custos desta destruição são enormes”. Neste sentido, lembrou ainda a iniciativa ‘Conselho de Cidadãos’ que, a cada seis meses, reúne um conjunto de 50 munícipes, escolhidos aleatóriamente, para discutir ideias para a cidade. “Não são de nenhuma associação nem de nenhum grupo político”, frisou Moedas, salientando que alguns destas ideias já estão a ser postas em prática na cidade.

Encontrar soluções

Esta sessão contou ainda com um painel de discussão sobre “Narrativas, Emoções e Polarização”. De igual forma, teve uma intervenção inicial do Professor Manuel Castells, Sociólogo, Membro do Conselho Consultivo da RIE e antigo Ministro das Universidades do Governo Espanhol. Por sua vez, o painel era composto por Maria da Graça Carvalho, Deputada ao Parlamento Europeu, e Erika Koehler, Conselheira Estratégica para o Departamento da Europa do Ministério dos Negócios Estrangeiros dos Países Baixos.

Igualmente, também faziam parte deste grupo Mario Scharfbillig, Conselheiro para a Política Científica do Centro Comum de Investigação da Comissão Europeia, bem como Heriberto Tapia. Este último é Chefe da Equipa de Investigação do Gabinete do Relatório do Desenvolvimento Humano do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).  O coletivo expôs alguns pontos de vista e perspetivas sobre o tema da polarização, e o que fazer para combatê-la. Os oradores abordaram ainda a necessidade de construír políticas em parceria, e que tenham um impacto positivo na Europa.


Agora é a altura certa para tomar decisões

O final da sessão ficou a cargo de Maria João Rodrigues, Presidente do Conselho Consultivo da Re-Imagine Europa, Presidente da FEPS e antiga deputada ao Parlamento Europeu. “Estou orgulhosa por Lisboa ter sido escolhida como capital da Inovação”, começou por referir Maria João Rodrigues, salientando que agora “é o momento ideal para trazer mudanças”, dada a aproximação das Eleições Europeias, agendadas para junho. “Se queremos tomar decisões inteligentes, temos de começar a envolver os cidadãos, desde o início”. Ao mesmo tempo, é também fundamental “ouvir e entender os outros”, pois, desta forma, é mais fácil “identificar prioridades” e encontrar “soluções concretas para problemas concretos”.

A antiga deputada europeia lembrou também que, atualmente, “a Europa está a sofrer várias ameaças”, uma das quais a guerra na Ucrânia, e que “afetam os nossos valores”. “Temos de construír alianças em todo o mundo, para ajudar a trazer soluções para as mudanças climáticas, a transformação digital”, entre outros, reforçou ainda. “Nós, europeus, somos um sistema de governança a vários níveis, somos uma democracia a vários níveis”, prosseguiu Maria João Rodrigues, reforçando que “se queremos dar um futuro aos nossos sistemas democráticos, temos de envolver mais os cidadãos”. Por fim, concluíu o discurso a pedir, a todos os participantes neste fórum, que “trabalhemos juntos”.

Reforçar a democracia

O RIE é uma entidade apartidária, fundada pelo antigo presidente francês Valéry Giscard d’Estaing. O seu objetivo é encontrar soluções para os grandes desafios atuais. O encontro ‘Despolarizar a Europa: Redefinir Narrativas, Unir Futuros”, reúne cientistas europeus de renome e um vasto leque de representantes da sociedade civil. O seu objetivo é analisar como é que as narrativas polarizadoras e desinformação afetam as instituições e processos democráticos. Contudo, outros temas em destaque serão ainda a Democracia Deliberativa, Narrativas sobre o Clima, a Agricultura, os Impostos, o papel da Europa no mundo, entre outros.

Nesta quarta-feira, 31 de janeiro, a Fundação Calouste Gulbenkian acolheu um workshop sobre como despolarizar o debate em torno da Agricultura Sustentável. “Acolher o Fórum Anual da Re-Imagine Europa é uma oportunidade única para discutir uma das questões mais prementes do nosso tempo: a polarização política. Lisboa é a cidade perfeita para reimaginar a forma como enfrentamos o aumento do populismo e do radicalismo na Europa. Uma cidade onde promovemos a tolerância e a paz social, ao mesmo tempo que apostamos ativamente em políticas moderadas”, considera Carlos Moedas.  Por outro lado, Maria João Rodrigues lembra que “2024 será um ano crucial para a democracia em todo o mundo.

Juntar as pessoas

Mais de quatro mil milhões de pessoas, incluindo os cidadãos da União Europeia, irão votar num contexto marcado por discursos polarizadores e uma crescente falta de confiança nas nossas instituições democráticas. A Europa deve liderar o processo de restabelecimento da confiança nas nossas instituições”.  Para isso, defende, é necessário trabalhar “em conjunto com a comunidade científica para fornecer soluções baseadas em factos que permitam criar um debate mais aberto, inclusivo e construtivo na esfera pública”.

Por fim, Erika Staël von Holstein, CEO da RIE, explica que este organismo tem como um dos seus propósitos trabalhar “para resolver o paradoxo que define a nossa era”. Ou seja, “por um lado, há um reconhecimento generalizado da necessidade de uma profunda mudança social para enfrentar os desafios atuais”. Por outro, “estes mesmos desafios estão a conduzir-nos a uma polarização extrema que bloqueia qualquer mudança”. Assim, e para resolver este paradoxo, a RIE “desenvolveu uma metodologia inovadora”. Esta” reúne pessoas de diferentes comunidades e opiniões”. Assim, é possível “reformular as narrativas que impedem os debates construtivos e a criação de soluções conjuntas para os desafios mais prementes do século XXI”.

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