LISBOA CAPITAL VERDE EUROPEIA LEVAM MARCELO, GUTERRES, COSTA E MEDINA AO PARQUE EDUARDO VII

Lisboa é a nova Capital Verde Europeia, tendo recebido o testemunho da cidade de Oslo, na Noruega. Assim, durante 2020, vai ser desenvolvido um vasto programa que inclui a plantação de 20 mil árvores, exposições e conferências sobre ambiente. Sábado, 11 de janeiro, o jardim Amália Rodrigues, situado no topo do Parque Eduardo VII, recebeu a cerimónia de abertura do Lisboa Capital Verde Europeia 202, uma distinção recebida depois de Oslo, na Suécia, carregar o título no ano passado. Um dos grandes momentos do evento foi a substituição da bandeira que está nessa zona da cidade e que, segundo revelou o presidente da Câmara, Fernando Medina, é «a primeira bandeira produzida com plástico recolhido dos oceanos». Fernando Medina, que entregou três bandeiras (a de Portugal, da União Europeia e a de Lisboa Capital Verde) feitas com material reciclado ao Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, salientou que «foram todas confecionadas por uma fábrica portuguesa, que reciclou mais de duas toneladas de plástico para produzir as diferentes bandeiras» a serem utilizadas durante 2020.

«Escolher evoluir» é o slogan da Lisboa Capital Verde Europeia 2020, que neste sábado arrancou com uma cerimónia oficial que contou com a presença do secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres. «Evoluir porque nestas questões do ambiente não se pode cruzar os braços e porque há a consciência de que a capital portuguesa ganhou o galardão não por ser a cidade mais sustentável, mas porque mostrou que sabe conjugar o verbo e que pretende continuar a fazê-lo: mantendo a aposta na mobilidade, na criação de mais e mais espaços verdes, na redução do ruído, da poluição e dos gastos de água», afirmou Fernando Medina.

Este ano em que ostenta o título, a Câmara Municipal de Lisboa quer que seja igualmente uma oportunidade para mostrar o que de positivo há no resto do país. «Na Capital Verde Europeia não devemos olhar só para nós. O país é pequeno, tem coisas muito boas para ver, temos universidades ótimas e centros de investigação extraordinários e também devemos mostrar as coisas boas dos outros», diz o vereador dos espaços verdes, José Sá Fernandes, que, segundo sublinhou o presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina, foi um dos principais obreiros da estratégia e planeamento de Lisboa Capital Verde Europeia.

O presidente da Câmara de Lisboa reiterou que o galardão Capital Verde Europeia 2020 atribuído à cidade destina-se «acima de tudo a fazer mais pela melhoria da qualidade de vida das cidades».

«O galardão não se destina a premiar os feitos que conseguimos. Destina-se acima de tudo a conseguirmos utilizá-lo de forma a fazer mais. Fazer mais para vencermos em conjunto esta batalha das alterações climáticas, fazermos mais pela melhoria da qualidade de vida das cidades, fazermos mais no domínio dos parques verdes, da água, da mobilidade sustentável», realçou Fernando Medina.

Já Marcelo Rebelo de Sousa, também presente, elogiou as políticas desenvolvidas pelo governo em defesa do ambiente. «Portugal aposta na verdade. Portugal aposta no ambiente. Portugal aposta no combate às alterações climáticas», disse elevando a voz para ultrapassar a rouquidão, sublinhando que as políticas ambientais «contam com o apoio de todos os portugueses». Dirigindo-se depois ao secretário-geral da ONU, António Guterres, o Presidente da República elogiou a sua «figura inspiradora para todo o mundo, pela causa de defesa do ambiente e de combate às alterações climáticas». E gritou: “Nós apoiamos António Guterres”.

Já no Pavilhão Carlos Lopes, Fernando Medina garantiu o que o município está consciente daquilo que tem “de fazer em matéria de ação climática e de sustentabilidade ambiental», o que na sua ótica deve ser «uma prioridade para as cidades».

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«E se é verdade que nós não vamos vencer a batalha das alterações climáticas aqui em Lisboa, nós temos a consciência bem clara de que temos de fazer a nossa parte», acrescentou o chefe do executivo municipal.

O presidente da Câmara referiu ainda que «o que motivou fundamentalmente a atribuição do galardão foi o compromisso do município “com a ação”, estando previstas ações concretas todos os dias a contribuir para a sustentabilidade ambiental».

O autarca destacou a plantação de 20 mil árvores na cidade de Lisboa em quatro locais da cidade. Hoje, domingo, Fernando Medina procedeu à plantação simbólica de uma árvore no Parque Urbano da Ameixoeira. Paralelamente, decorreram ações de plantação de árvores no Vale da Montanha, Corredor Verde de Monsanto e Encostado Calhau e Parque Urbano do Rio Seco (Ajuda).

Em termos de ação em prol do ambiente, o edil fez questão de falar das obras do novo parque verde da Praça de Espanha, que arrancam amanhã, segunda-feira, assim como a renovação da frota da Carris, a entrada em funcionamento de autocarros elétricos, assim como «as novas 130 casas com zero emissão de carbono que estão em construção»

Costa quer ministros com carros elétricos

O Primeiro-Ministro, António Costa, também presente na cerimónia, revelou que a partir de 01 de fevereiro, todos os ministros só circularão em Lisboa e na área metropolitana em viaturas elétricas para assinalar simbolicamente o facto de a cidade ser Capital Verde Europeia em 2020.

«Eu tenho a experiência própria desde que fui presidente da Câmara de Lisboa que é possível circular exclusivamente numa viatura elétrica na cidade de Lisboa e na área metropolitana. A partir do próximo dia 01 de fevereiro, todos os ministros só circularão na área metropolitana com viaturas elétricas», disse o primeiro-ministro.

Além deste «gesto simbólico», o executivo gostaria ainda de dar «uma prenda» à cidade de Lisboa e, ao longo deste ano, será assegurada a neutralidade carbónica da residência oficial do primeiro-ministro, que produz anualmente 85 toneladas de dióxido de carbono.

«É a prenda simbólica que o Governo gostaria de dar à cidade de Lisboa ao longo deste ano, mas também para servir de exemplo para todos os outros», salientou.

Quarenta das 85 toneladas de dióxido de carbono produzidas anualmente pelo edifício da residência oficial do primeiro-ministro serão compensadas através da produção local de energia, 35 toneladas através de medidas de gestão de eficiência energética e dez toneladas através do arvoredo do jardim, adiantou.

Segundo o chefe do executivo, o investimento que será feito «é totalmente recuperável nos próximos cinco anos. Foi, aliás, assim que o ministro das Finanças aprovou, porque não contribuirá para o défice a longo prazo do Estado português».

O primeiro-ministro salientou ainda que estas duas medidas correspondem a exemplos que o Governo quer dar. «É um exemplo de que se isto é possível naquele edifício, é possível em todos os edifícios, se é possível relativamente à mobilidade dos membros do Governo, é possível para a mobilidade de todos e é essa mudança que temos de fazer coletivamente ao longo dos próximos dez anos se quisermos mesmo ganhar esta batalha», reforçou.

Sobre a distinção que Lisboa recebeu para ser em 2020 Capital Verde Europeia, António Costa recordou que é a primeira cidade do sul a receber o título, considerando que, «mais do que um prémio, é um enorme compromisso» que terá de ser assumido por todos, porque «a realidade das alterações climáticas é absolutamente inquestionável e exige uma ação rápida», sublinhou o primeiro-ministro, mostrando uma imagem do degelo na Gronelândia para ilustrar que «a realidade está mesmo aí e exige ação».

António Costa aproveitou a ocasião para lançar um desafio «a todos» para participarem na «corrida pela ação climática, que é mesmo uma corrida de longo curso, mas que tem de ser feita ao ritmo de uma corrida de 100 metros».

«Não podemos adiar as medidas que são possíveis de lançar hoje», insistiu.

Já o vice-presidente da Comissão Europeia, Frans Timmermans, realçou o papel que tem sido desempenhado por Portugal na promoção do combate às alterações climáticas e, durante uma conversa com jovens, apelou para irem «para as ruas, exigiram ação», insistindo na necessidade de a Europa alcançar a neutralidade carbónica em 2050. Caso contrário, acrescentou, «a situação poderá ficar fora de controlo».

Por seu turno, o secretário geral da ONU, António Guterres, realçou que ” esta distinção tem um significado especial” porque, é este ano, ” que temos de dar provas que queremos acabar com a guerra contra o planeta.

Para Guterres, “Estamos a perder as batalhas da biodiversidade e a luta contra o plástico nos oceanos, sento absolutamente indispensável inverter esta situação.”

Apesar desta leitura pessimista, o secretário geral da ONU mostra-se esperançado que os encontros internacionais sobre a biodiversidade e os oceanos possam levar os países, mesmo os mais céticos, a implementarem politicas que promovam “a drástica redução de emissões  de CO 2 até 2030”

Metas para cumprir ao longo da década

Como Capital Verde Europeia, os objetivos implementados pela Câmara Municipal de Lisboa passam por várias áreas, começando pela energia. O município pretende reduzir as emissões de dióxido de carbono até 2030, atingindo a neutralidade carbónica até 2050; aumentar a poupança energética, diminuindo o consumo em 60%; limitar em 67% o consumo energético na iluminação pública; aumentar a produção de energia solar; erradicar a pobreza energética até 2050, aumentando o conforto nas casas e concluir, em Carnide, uma central fotovoltaica para abastecimento da frota elétrica da Carris.

Também há metas no que toca aos resíduos. A Câmara Municipal de Lisboa pretende diminuir em 50% os resíduos indiferenciados que são enviados para a reciclagem; implementar até 2030 em toda a cidade a recolha seletiva, porta a porta, de bio resíduos; aumentar dos atuais 28% para 50% a taxa de recolha seletiva de resíduos; atingir, até 2030, 60% na taxa de reciclagem e reduzir a produção de resíduos per capita em 15% até 2030.

Já para a mobilidade, o município quer criar 410 novos autocarros de elevado desempenho ambiental até 2023; duplicar a frota de elétricos rápidos; aumentar em 40% a oferta de transportes públicos rodoviários na área metropolitana de Lisboa; expandir a rede do metro; renovar a frota da Transtejo e criar uma infraestrutura circular que ligue toda a cidade.

A Câmara de Lisboa tenciona também expandir a infraestrutura verde e a biodiversidade, criando mais 100 hectares de zonas verdes até 2021 para que 25% da cidade seja composta por espaços verdes até 2022; fazer com que 90% da população de Lisboa, até 2021, habite a menos de 300 metros de um espaço verde com pelo menos 2.000 metros quadrados; criar mais sombras para combater as ondas de calor, plantando anualmente 25.000 árvores e arbustos e resistir à escassez de água, aumentando em 75% a área de prados de sequeiro.

Por último, em relação à água, pretende-se instalar um sistema de rega e lavagem de ruas com água reciclada e reutilizada que, em 2025, entrará em pleno funcionamento; poupar 25% de água através de um programa de eficiência hídrica e investir na drenagem da cidade através, por exemplo, da criação de várias bacias de retenção naturais para minimizar os efeitos das cheias.

 

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