Uma homenagem a Gonçalo Ribeiro Telles marca a reabertura de igreja de São José dos Carpinteiros e da «Casa dos 24», a mais antiga assembleia deliberativa de Lisboa. Hoje, o Presidente da República inaugura uma exposição sobre a vida e a obra do arquiteto na «Casa dos 24».
O principal arquiteto paisagista Gonçalo Ribeiro Telles, que completou 98 anos a 25 de maio, é homenageado esta sexta-feira pela Câmara de Lisboa através de uma exposição que marca a reabertura, depois de profundas obras de reabilitação, da Igreja Paroquial de São José dos carpinteiros e da histórica Casa dos Vinte e Quatro (órgão de administração da capital durante quase 500 anos).
Gonçalo Ribeiro Teles, o decano da arquitetura paisagística em Portugal e o «pai do Plano Verde de Lisboa», como faz questão de sublinhar o vereador do ambiente da Câmara de Lisboa, Ricardo Sá Fernandes, está a ser homenageado pela autarquia lisboeta, no âmbito da programação da Lisboa Capital Verde Europeia 2020, com a inauguração de uma exposição sobre a sua obra e carreira intitulada, «O Mester da Paisage», que vai estar patente na renovada Casa dos 24 e Igreja de São José dos Carpinteiros (Rua de S. José, 64-100 / Rua da Fé, 98).
A homenagem a Gonçalo Ribeiro Teles e a inauguração oficial da exposição vai ter a presença do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, do Primeiro-Ministro, António Costa, do cardeal Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, do presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina, e de vários elementos da família do homenageado.
Sá Fernandes recordou que a «Casa dos 24, fundada em 1383, foi a primeira assembleia municipal com poder deliberativo, onde tinham lugar dois representantes de cada uma das corporações ou ofícios da cidade».
Local histórico da cidade de Lisboa, a Igreja e a casa que lhe é adjacente, são propriedade da Irmandade de São José dos Carpinteiros, constituindo um valioso património de Lisboa que durante anos esteve fechado ao público e que agora, após obras de reabilitação apoiadas pela Câmara e que representaram um investimento de cerca de 900 mil euros, passam a poder ser visitadas por todos.
Gonçalo Ribeiro Teles, ele próprio membro da secular irmandade que corporizava e reunia tudo o que dizia respeito ao ofício (mester) de carpinteiro, é o «Mester da Paisagem» e o alvo desta homenagem que percorre a sua obra e mestria de pensar e trabalhar a paisagem.
Numa visita exclusiva para a imprensa, o vereador Sá Fernandes considerou o arquiteto Ribeiro Telles um «espírito visionário» e um «exemplo de vida no qual todos deveriam refletir e meditar», recordando alguns episódios que ocorreram com o decano dos arquitectos paisagistas portugueses nos tempos em que ele foi funcionário da Câmara de Lisboa.
Sá Fernandes recordou que, na segunda metade do século XX, o discurso da sustentabilidade entrou em Lisboa pela voz, tão clara quanto solitária, de Gonçalo Ribeiro Telles que, incorporando as ideias dos antecessores, desenhou os jardins da Gulbenkian, defendeu o pulmão e o “continuo natural” de corredores ecológicos, tendo acrescentado ainda a defesa das hortas urbanas e o uso de bacias de retenção para reter a água da chuva no solo.
O vereador do ambiente elogia ainda Gonçalo Ribeiro Telles «pela rara coerência de princípios e valores, entre os quais avulta o amor profundo ao seu país e aos seus concidadãos e pela dedicação corajosa e indomável à proteção do planeta, e da beleza dos seus frágeis equilíbrios».
«Pelo seu espírito visionário, que o levou a antecipar problemas com que hoje nos confrontamos – e que teriam um perfil bem diverso se, em devido tempo, tivéssemos escutado os seus avisos», acrescenta.
Exemplo de vida
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, considerou, no dia do 98º aniversário do arquitecto Gonçalo Ribeiro Telles, que o decano dos arquitectos paisagistas é um exemplo de vida no «qual todos deveriam refletir e meditar».
«O arquiteto Gonçalo Ribeiro Telles é das pessoas mais admiráveis que tenho o privilégio de conhecer. Os seus 98 anos são um exemplo de vida no qual todos deveríamos refletir e meditar», afirma o chefe de Estado, numa mensagem divulgada no portal da Presidência da República na Internet, onde o descreve como «cidadão corajoso e empenhado, homem de profundas convicções que se bateu pela democracia e pela liberdade antes e depois do 25 de Abril de 1974».
Pátio do Sá com carvalho abençoado pelo Patriarca
As obras de reabilitação da Igreja de São José e da Casa dos 24 estiveram a cargo do atelier de Luís Rebelo de Andrade que tem no seu curriculum projetos como a Embaixada Britânica (1990) ou a Casa do Artista (1991), ambos em Lisboa.
Na apresentação deste «novo» espaço histórico de Lisboa, o arquiteto Luís Rebelo de andrade fez questão de salientar que existem três espaços ajardinados e no pátio do Sá, em homenagem ao vereador Sá Fernandes, foi plantado um carvalho oferecido pelo próprio vereador (durante a apresentação de Lisboa Capital Verde Europeia) e abençoado pelo Cardeal Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente.
Mais do que uma arquitetura de imposição, o atelier propõe e pratica uma arquitectura de superação, pois crê que é do encontro entre opostos que surge a perenidade que caracteriza as melhores obras. Com um olhar posto no futuro, o arquiteto Luís de Andrade e o seu atelier nutrem uma profunda preocupação pela pegada visual e ecológica dos projectos que concretizam, usando novos materiais e tecnologias do modo mais sustentável possível.
A arquitetura do atelier Rebelo de Andrade consiste em procurar em cada projeto superar as divergências existentes e entregar o melhor resultado possível, respeitando no processo as regras subjacentes e complementando de forma harmoniosa a paisagem.