LISBOA VAI TER MAIS 200 KM DE CICLOVIAS

O presidente da Câmara apresentou hoje o programa «Lisboa Ciclável», que inclui a construção de um conjunto de ciclovias e a atribuição de apoios para a compra de bicicletas. O objetivo é sair da crise com menos poluição e mais sustentabilidade.

A Câmara de Lisboa anunciou hoje que vai construir 200 quilómetros de ciclovia até 2021 e que vai conceder apoios para compra de bicicletas, que podem ir até aos 50%. O presidente da Câmara, Fernando Medina, considera que esta é uma das formas de sair da crise pandémica com menos poluição e mais sustentabilidade.

«No final da pandemia queremos uma cidade mais poluída ou uma cidade com mais qualidade de vida para todos?», interroga-se Fernando Medina para defender que os dois novos programas para a estratégia da cidade no período pós-pandemia,  «A Rua é Sua» e «Lisboa Ciclável», que se juntam à já anunciada «Renda Segura», vão permitir mais pessoas na cidade, mas com menos poluição, já que Lisboa, não sendo globalmente muito poluída, «apresenta indicadores de várias substâncias poluentes acima do que devia apresentar».

Numa altura em que a utilização do transporte público na cidade de Lisboa desceu 70% e em que o objectivo é impedir o aumento da poluição do ar e da utilização do automóvel particular, Fernando Medina pretende acelerar a implementação de ciclovias durante o desconfinamento, até ao início do ano escolar. No total, até 2021, a capital portuguesa vai ter mais 200 quilómetros de vias para a bicicleta e estão previstas mais de 100 intervenções no espaço público, com vista a libertar as ruas para os peões. «Lisboa Ciclável» e a «A Rua é Sua» são os dois grandes planos da equipa de Fernando Medina para melhorar o espaço público e a mobilidade activa no pós-pandemia.

«Fazer mais e mais depressa» é a grande ambição da autarquia na transformação e «humanização» do espaço público para o período pós-pandemia, justificando a aceleração da construção da rede ciclável planeada para a cidade com uma «urgência que ganhou mais sentido com a pandemia».

Fernando Medina quer evitar que os passageiros que o transporte colectivo perdeu optem, agora, por recorrer ao automóvel privado, apontando para a relação entre a poluição do ar gerada pelo sector dos transportes e os milhares de mortes prematuras resultantes da exposição aos poluentes atmosféricos. Optar pelo automóvel no período de desconfinamento, diz, «é uma péssima solução a nível colectivo e que resultará numa cidade mais congestionada e com mais poluição que nos vai atingir a todos».

Do ponto de vista de Fernando Medina, «o programa Lisboa Ciclável passa pela criação de uma rede estruturante de ciclovias que cobre os grandes eixos de deslocação», para que as pessoas possam usar a bicicleta sem receios do automóvel. «Será criada num sistema “pop up”, muito rápido, podendo depois ser avaliada e sofrer adaptações, seja o desenho, seja criando novas vias, seja avançando para soluções mais definitivas», explicou o autarca.


Faixa de rodagem cortadas em prol da ciclovia

Na prática, a ideia é ter 200 quilómetros de ciclovias por toda a cidade em 2021, de preferência logo no primeiro trimestre. A iniciativa está calendarizada em três fases, a primeira já até julho deste ano, pretendendo a edilidade «chegar ao arranque do próximo ano letivo já com a rede bastante avançada. E, até julho, ter prontas ciclovias em artérias como a Alameda dos Oceanos com ligação a Loures». Dessa forma, salienta «fica construído o eixo que vai ligar Algés ao Parque das Nações, através da utilização de uma faixa de rodagem na avenida da Índia».

Até setembro, devem estar prontas as intervenções na Avenida de Roma, Marechal Gomes da Costa ou avenida de Berna. «Começa a ganhar corpo o grande sistema de radiais que vão permitir ligar a zona ribeirinha à zona central da cidade, com uma ciclovia também na Avenida Lusíada», explica o autarca. «Vamos trabalhar para criarmos uma rede nas imediações de todas as escolas EB 23, secundárias ou universidades, para que quem usa as bicicletas o passa fazer em total segurança», acrescentou.

Apoio à compra de bicicletas e mais estacionamento

Além da construção de ciclovias, a Câmara vai apoiar a compra de bicicletas até ao limite de 50% do valor de aquisição em várias modalidades: 100 euros para bicicletas adquiridas por estudantes de escolas de Lisboa; 350 euros para os residentes em geral, que adquirem bicicletas elétricas; e até 500 euros para bicicletas de carga, sempre no máximo de 50% do valor.

Deste modo, Fernando Medina afiança que «quem adquirir bicicletas a partir de hoje está elegível para ser reembolsado, por isso guardem as faturas». Numa primeira fase, o apoio será dado contra-reembolso, mas depois a Câmara paga diretamente às lojas da cidade os descontos feitos no acto de compra.

A Câmara prevê gastar quatro milhões de euros com os apoios para as compras de bicicletas.

Por outro lado, está prevista a criação de lugares de estacionamento. A estimativa é que o estacionamento fechado para bicicletas nos parques subterrâneos da EMEL e concessionados pela autarquia some 1050 lugares. A estes somar-se-ão 1.700 lugares nos principais interfaces de Transporte Público, estando ainda previstos 5.000 lugares para estacionamento em todas as entidades de interesse público que o solicitem, como escolas, clubes desportivos e outras instituições.

Mais espaço para os peões e ZER em suspenso

Mas, para incentivar os modos activos (deslocações a pé e de bicicleta), a Câmara de Lisboa, no âmbito do programa “A Rua é Sua”, anunciou «mais de 100 intervenções no espaço pedonal, tendo em vista o aumento do espaço disponível e da segurança para os peões da cidade».

Assim vão ser alargados passeios, criados espaços de sombra, mitigação de ilhas de calor e do apoio ao comércio local e instalação de esplanadas em lugares de estacionamento automóvel.

A Avenida da Igreja, na freguesia de Alvalade, será uma das artérias a sofrer mudanças: aos fins de semana, parte da rua será destinada à «fruição de residentes e visitantes».

Sobre a Zona de Emissões Reduzidas (ZER), anunciada pelo município no final de janeiro e que previa a implementação de medidas de restrição à circulação automóvel, Fernando Medina anunciou uma «recalendarização do seu desenvolvimento». O autarca revelou que vai propor ao município que assuma a realização das obras previstas como a execução de corredores cicláveis e alterações ao espaço público, mas a «dimensão da limitação da circulação automóvel, que estava definido que ocorresse agora» fica, por enquanto, em suspenso, adiantou o autarca, porque: «é a solução mais razoável, mais ponderada, para todos os comerciantes, residentes e todos os que vivem e habitam a cidade de Lisboa».

«Temos de ter a noção que muitas lojas ainda não abriram, muitos trabalhadores ainda estão em casa, em lay-off e não sabem como será o regresso da sua vida. Não queremos ser um fator de dificuldade e de perturbação, sobre uma vida que, neste momento, está muito alterada», esclarece o autarca. No entanto, garante: «o projeto será levado até ao fim». Recorde-se que, segundo o plano inicial, quando for concretizada, a ZER Avenida Baixa Chiado prevê tirar do centro da cidade 40 mil automóveis por dia e devolver ao tráfego pedonal e ciclável uma área de 4,6 hectares.

Habitação e teletrabalho em Lisboa mais verde

Apesar de aparentemente não estarem interligadas, a Câmara de Lisboa quer «acelerar o esforço relativamente à oferta da habitação a custos acessíveis para os jovens e para as classes médias», de modo a que mais pessoas vivam na cidade, apostem no teletrabalho, continuem a investir no transporte público, bem como «priorizar toda a acção no aumento da rede ciclável», salienta Fernando Medina.

«A agenda verde é um grande ativo para nós sairmos melhor desta situação de pandemia», vincou, sublinhando que pretende «ter uma cidade que esteja preparada para criar mais valor», designadamente no âmbito do turismo e da habitação.

O presidente da autarquia lisboeta lembra que, neste momento, vários operadores lisboetas vivem uma situação complicada, «as empresas estavam a investir num mercado em expansão e enfrentam agora uma situação abrupta nunca vivida».

N perspetiva de Fernando Medina, Lisboa tem de se tornar uma «cidade mais sustentável e «mais capaz de atrair segmentos de maior valor do ponto de vista do turismo no futuro».

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