Vão desfilar extraconcurso mas isso não lhes retira motivação e empenho. São mais de cinquenta os marchantes que este ano voltam a representar a Marcha da Santa Casa, depois da instituição ter participado pela primeira vez na edição de 2017 das marchas populares.
É o caso de Maria Carrilho. Pela segunda vez na marcha, a participante nasceu no Alentejo mas vive em Lisboa há quase 60 anos.
“Desde miúda que sempre gostei de dançar e queria ir para os ranchos, mas o meu pai não deixava”, conta.
A utente do Centro de Dia da Charneca do Lumiar recorda ir assistir aos desfiles na avenida e depois ir “ver os bailes”, já depois de casada.
E é através da Santa Casa que concretizou, no ano passado, o seu sonho. “Foi uma coisa maravilhosa. Isto foi um sonho que eu realizei”.
Para Maria Carrilho, “descer avenida foi uma sensação única, que não se compara a nada. Quando somos nós é diferente”.
A marchante considera que, apesar da marcha não estar a concurso, “não fica atrás das outras”. E espera que este ano o espetáculo seja ainda melhor do que em 2017.
Mas para isso é preciso ensaiar com afinco: “por vezes não estamos concentrados, mas se estivermos aprendemos tudo depressa. Mas tem que haver sacrifício para virmos para os ensaios. Desde que a pessoa goste, faz de vontade”.
Porque para além do gosto por marchar “vão criando-se amizades”. E como há várias gerações, “aprendem uns com os outros”.
“Isto é a alegria de viver. Com a nossa idade, se pararmos morremos. Foi a coisa melhor que aconteceu”, afirma.
Também repetente nestas andanças é Otávia Costa. “Estou no Centro dos Anjos da Santa Casa e apaixonei-me pelas marchas no ano passado”, relata. “Pela camaradagem que há e pela diversidade”, acrescenta.
A marchante revela ainda que aprendeu muito, como por exemplo a “ser mais humilde”.
“Fez-me bem na parte psicológica e física porque aprendi com a vivência dos outros”, refere.
Oriunda do Bairro da Mouraria, Otávia Costa nunca manifestou em nova vontade de participar nas marchas. “O espírito bairrista era muito pesado”, lembra.
“Mas com a idade fui perdendo o preconceito. E aqui não há bairrismos”, sustenta. “Há solidariedade e espírito de equipa”.
Quem voltou também foi Augusto Paulos, do Bairro Alto. O utente da Santa Casa recorda a “boa experiência” na avenida.
Desde novo que “ia ver as marchas na avenida” mas nunca teve “a oportunidade de participar”.
Augusto Paulos parte para estes ensaios com mais confiança, depois de no desfile do ano passado não se “ter esquecido das marcações e das músicas”.
Para o marchante, o mais importante é “amizade que se guarda e o convívio entre pessoas diferenciadas”.
TRABALHO SOCIAL
A experiência de Paulo Jesus nas marchas populares já é significativa. Ensaia marchas há 12 anos, tendo dirigido a de Madragoa durante quase uma década.
No ano passado ensaiou em simultâneo as marchas de Marvila e da Santa Casa. Mas este ano tomou a decisão de ficar apenas com a última.
“A Marcha da Santa Casa está no meu coração”, diz. “Para mim tem muito mais valor que outra marcha qualquer”.
Nas palavras do ensaiador, a experiência do primeiro ano foi inesquecível: “fez lembrar um pouco a minha primeira experiência com a marcha da Madragoa”.
Mas “a diferença é que esta vai para a avenida tentando ser o melhor possível, sem se preocupar em ser melhor ou pior que a outra”.
Porém, Paulo Jesus mantém a exigência: “o trabalho tem que ser muito bom para chamar a atenção de quem vai assistir”.
Já os mais novos “vão indo atrás dos outros”. Mas até ao Altice Arena, “a coisa vai ficar certinha”, garante.
Apresentação da Marcha da Santa Casa 2018 – Altice Arena a 3 de Junho
Vídeo Ensaio: Marcha Santa Casa 2018