NÃO-CRISTÃOS TAMBÉM “CELEBRAM” O NATAL

Apesar de não serem cristãos, as comunidades muçulmanas, budista e hindu de Lisboa associam-se e comemoram a quadra natalícia.

Desta forma, as diferentes comunidades religiosas de Lisboa pretendem promover o diálogo inter-religioso e o ecumenismo das várias religiões, assinalando a data com um trabalho de ação social e com celebrações que têm no seu epicentro o objetivo de “criar harmonia”       

A religião muçulmana não comemora o Natal. Para seus seguidores, Jesus é um dos cinco principais profetas dos muçulmanos, mas não é considerado o Messias, semelhante a Deus.

Ainda assim, é já tradição a comunidade muçulmana de Lisboa organizar um almoço de Natal para os mais necessitados. Mahomed Abed, responsável pelo refeitório, acompanha cada pormenor da preparação e do serviço à mesa.

Segundo ele, este almoço “já é uma tradição” na comunidade. “Apesar de sermos uma comunidade religiosa muçulmana, que não celebra o Natal, estamos inseridos na sociedade”, justificou o responsável, explicando que a ideia do almoço está em prática desde 2005.

O presidente da comunidade islâmica de Lisboa, Abdool Vakil, sublinhou a convicção no “ecumenismo das várias religiões”, que possibilita desenvolverem-se “muitos diálogos inter-religiosos”.

Iniciativas várias

Por toda a cidade, organizar-se-ão uma série de atividades culturais para celebrar o nascimento de Cristo, nomeadamente vários concertos de música erudita e encontros inter-religiosos.

O Centro Ismaili de Lisboa – este ano reuniu na capital portuguesa mais de 50 mil fiéis de todo o mundo para as comemorações do jubileu de diamante (60 anos de liderança espiritual do príncipe Aga Khan) – junta-se às comemorações e abre as portas a todos os que tiverem curiosidade conhecer a comunidade muçulmana Shia Imami Ismaili (muçulmanos moderados e com comportamentos “ocidentalizados”). Vai haver visitas guiadas e duas sessões musicais com Begoña Olavide e Javier Bergia que vão interpretar canções populares das tradições muçulmana, judaica e cristã, entre Portugal, Espanha ou Marrocos.

A União Budista não quis ficar de fora. A venerável mestre Chueh Yann, da Associação Internacional Buddha’s Light de Lisboa, revela ao OL que estes crentes não celebram a data, mas que “respeitam todas as religiões e suas crenças” e que não se alheiam das tradições comemorações natalícias, designadamente da mensagem de “paz e amor” que imperam nesta altura.

Integração e harmonia

As atividades programadas incluem visitas guiadas ao templo, um espetáculo de dança e música indianas, uma festa de Natal com comida, pinturas de Henna, insufláveis, música de Bollywood com DJ e só termina com a chegada do Pai Natal que vai oferecer presentes às crianças presentes.Contatado pelo OL, Aspi Tavaria, vice-presidente do Templo de Chiva, em Santo António dos Cavaleiros, Loures, diz que é já tradição na comunidade hindu a celebração desta quadra natalícia, porque os hindus de Portugal, que adoram várias deidades hindus (Shiva, Brahma e Vishnu), fazem questão de se inserir plenamente nas tradições e costumes do país de acolhimento, até porque estes fiéis “têm um importante trabalho social, de apoio aos mais necessitados” nos locais onde estão instalados. Para Aspi Tavaria, Natal é sinónimo de harmonia e concórdia. E é também a festa das crianças, “para eles se sentirem integrados” na cultura onde foram acolhidos. “Para nós é importante que as crianças se integrem e que percebam qual é o espirito do Natal”, justifica.

O responsável religioso avança que é comum entre os hindus de Portugal organizarem festas natalícias nas suas casas.  “Eu e a minha família celebramos a data. Comemos o bacalhau, temos a árvore de Natal, trocamos prendas, comemos o bolo-rei e bebemos uma boa garrafa de vinho”, narra, acentuando que é objetivo “sentir o fenómeno da aculturação” aos hábitos lusos.

Esta integração plena nas tradições dos portugueses, diz Aspi Tavaria, ocorre “por influência das crianças, que são criadas numa comunidade diferente e têm outras vivências”. No hinduísmo, explica, “não se exclui. Não é objetivo ‘chamar’ os outros à nossa fé, mas antes tentarmos que as pessoas se sintam inclusivas”.

No fundo, é objetivo promover “a harmonia” com a comunidade “que nos rodeia”, conclui.

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