ODIVELAS TEM UM FUTURO «RISONHO»

A futura utilização que se pretende dar ao Mosteiro de D. Diniz e o metro de Odivelas, são temas que Jorge Mendes, um dos pais fundadores do concelho de Odivelas, contesta.

A 14 de Março de 1997 foi criado o Movimento Odivelas a Concelho (MOC) que levou ao nascimento, em novembro de 1998, de um novo concelho da Área Metropolitana de Lisboa: Odivelas.

Ontem, 19 de Novembro, comemorou-se o 22º aniversário da elevação de Odivelas a concelho e Jorge Mendes, considerado um dos «mentores» de Odivelas, acredita que o futuro do concelho se apresenta «risonho», contestando, contudo, «as atitudes menos corretas de alguns autarcas» locais que são prejudiciais ao «desenvolvimento socioeconómico» do município.

Professor do ensino secundário, Jorge Mendes (autarca durante 12 anos na Junta de Freguesia de Odivelas) é a «voz da consciência» da autarquia odivelense e, nessa qualidade, critica alguns dos aspetos que considera mais negativos da atual gestão autárquica, nomeadamente o facto do executivo autárquico «ter embarcado na história da linha circular do Metro, apresentada pelo Governo e Metropolitano de Lisboa, e a cedência a privados do Mosteiro de D. Diniz», entregue à Câmara de Odivelas pelo Ministério da Defesa.

Segundo Jorge Mendes, «a continuação do Metro até Odivelas foi uma grande luta protagonizada por autarcas e habitantes do concelho», não se admitindo, por isso, que, «por causa de interesses económicos, se aceite a criação de uma linha circular, em vez de se falar da expansão deste meio de transporte a Loures».

Do ponto de vista deste «histórico de Odivelas», a linha circular «vai causar problemas na distribuição dos passageiros, porque as pessoas deixam de entrar naturalmente em Lisboa, sendo obrigadas a mudar nas grandes estações que têm de ser implementadas».

Na perspetiva deste professor, «é necessário expandir-se o metro a Loures, Vila Franca e a Oeiras e, só depois, dentro de quatro décadas, é que se pode pensar em criar uma linha circular entre Vila Franca e Cascais».


Defensor da atribuição de mais poderes às Juntas de Freguesia e, por isso, pede também que Famões e Caneças voltem a ser Juntas de Freguesia, Jorge Mendes censura, também, a futura utilização que se pretende dar ao Mosteiro de D. Diniz, que foi «um marco incontornável na vida de centenas de raparigas que vão guardar para sempre as recordações do percurso que ali traçaram».

A cedência deste monumento identitário dos odivelenses, da história e do passado ao município de Odivelas teve como principal objetivo «melhorar as condições existentes e abrir as suas portas a todos quantos queiram conhecer e aproveitar a sua beleza e reviver as suas memórias». Mas, pelos vistos, no entendimento de Jorge Mendes, o executivo pretende «ceder a privados, nomeadamente a uma faculdade particular, o usufruto desse espaço, que foi entregue, durante o mandato do presidente Hugo Martins, em consequência do trabalho realizado nas décadas anteriores por autarcas e habitantes».

Independentemente de considerar que Odivelas se está a transformar num território «de betão e ruas pretas», Jorge Mendes salienta alguns dos aspetos positivos da presidência de Hugo Martins, que conseguiu criar condições que permitiram a nomeação de «Odivelas Capital Europeia do Desporto 2020», ter conseguido atrair para Odivelas vários congressos internacionais e por ter, em conjunto com Bernardino Soares, presidente da Câmara Municipal de Loures, criar os SIMAR – Serviços Intermunicipalizados de Águas e Resíduos de Loures e Odivelas.

Três presidentes em 22 anos de concelho

Apesar das críticas que faz, Jorge Mendes considera «muito positivas» as decisões e as medidas que foram tomadas pelos presidentes de Câmara que «tem comandado os destinos do concelho de Odivelas».

Comparando a «construção» do concelho de Odivelas à edificação de um prédio, Jorge Mendes defende: «Manuel Varges, o primeiro presidente eleito, foi o pilar, sendo uma peça fundamental na ‘construção’ da estruturação do concelho. Susana Amador, a segunda presidente eleita, consolidou o trabalho realizado por Manuel Varges e apostou na Educação, construindo escolas e conseguindo que algumas escolas passassem para a responsabilidade municipal. E, agora, o Hugo Martins, meu colega de ensino, está nos ‘acabamentos’ que, às vezes, não são perfeitos. Mas, no cômputo geral, pode-se dizer que tem feito um bom trabalho».

Na perspetiva de Jorge Mendes, os três presidentes foram «peças fundamentais» na construção e consolidação de Odivelas como concelho, tendo contribuído para o desenvolvimento social e económico do município e das suas gentes.

Histórias que ficaram por contar

No entanto, em mês de aniversário de elevação a concelho, há que recordar as razões que motivaram a criação do Movimento Odivelas a Concelho (MOC) e os que estiveram nas primeiras lutas pela criação município.

Jorge Mendes recorda: «foi em janeiro de 1996, ainda membro do executivo da então Junta de Freguesia de Odivelas, que decidiu, em conjunto com Carlos Lérias (também membro da Junta de Odivelas), avançar para a criação do concelho de Odivelas. O Vítor Peixoto também alinhou com este projeto».

A partir daí começaram os contactos telefónicos com várias pessoas, tendo sido decidido que o Vítor Peixoto «não deveria pertencer, oficialmente, ao MOC por ser presidente da Junta de Freguesia de Odivelas. Mas ele esteve sempre presente na primeira linha da batalha que desencadeamos para a criação do concelho. O Vítor Peixoto é uma das figuras incontornáveis da história do município», defende.

Para que o processo não «abortasse» decidiram não efetuar contactos com os partidos políticos do concelho, tendo «ido diretamente à fonte, a Assembleia da República, a quem competia o processo legislativo de criação do município», recorda, sublinhando «a importante intervenção de Vítor Peixoto que proporcionou ligação e integrou a comissão que reuniu com os diferentes grupos parlamentares».

Segundo Jorge Mendes, «é nessa altura que surge Manuel Varges, que viria a ser nomeado presidente do novel município, porque o Vítor Peixoto e eu não queríamos abandonar a Junta de Freguesia de Odivelas. Mas, é de realçar que o empenhamento de Manuel Varges foi importante nessa fase».

A criação do concelho de Vizela deu origem à oportunidade única da criação do concelho de Odivelas. «Fomos à boleia de Vizela e, assim, conseguimos, a 19 novembro de 1998, a aprovação por unanimidade na Assembleia da República da criação do Município de Odivelas.

«Não posso omitir o papel preponderante do PSD e da CDU, a partir de determinada altura, na construção do concelho, fazendo uma oposição muito construtiva aos primeiros executivos», adianta Jorge Mendes.

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