Oeiras assinou protocolo com a Autoridade Marítima para reforçar parceria na investigação

A Câmara Municipal de Oeiras (CMO) e a Autoridade Marítima Nacional, assinaram, na manhã desta terça-feira, 28 de maio, um protocolo de colaboração institucional, integrado no âmbito das comemorações do centenário da Direção-Geral de Faróis. 

Na manhã desta terça-feira, 28 de maio, o presidente da Câmara Municipal de Oeiras (CMO), Isaltino Morais, e o Diretor-Geral da Autoridade Marítima Nacional, Vice-Almirante Ventura Soares, assinaram um protocolo de cooperação. Este documento pretende reforçar a parceria em temas como a investigação, servindo ainda para estudar qual a influência da proximidade do Oceano Atlântico nos atuais processos de estágio em barricas do vinho de Carcavelos Villa Oeiras. Para além da investigação, haverá ainda a realização de ações conjuntas de âmbito educativo, científico, cultural e desportivo com interesse para ambas as entidades.

Nesta ocasião, foi ainda apresentada uma edição especial deste vinho generoso, intitulado “Vinho de Carcavelos Villa Oeiras Colheita 2012 – 1924 PHAROES 100 Anos”. Este vinho estagiou durante 11 anos na Adega do Palácio do Marquês de Pombal e um ano no Forte de S. Lourenço, na ilha do Bugio, em barricas de 225Lt de Carvalho Português. Segundo o arquiteto Alexandre Lisboa, está atualmente a decorrer um “projeto de investigação científica que procura estudar a influência atlântica no processo de envelhecimento dos vinhos de Carcavelos em oxidação, sendo que, por isso, eles são armazenados em pipa e não em garrafa”.

Atualmente, e em parceria com a Direção de Faróis, estão ainda em estudo “três vinhos, em nove pipas”, ou seja, três pipas de cada vinho. Um deles é do ano de 2022, outro é de 2017 e o outro é de 2012.

Vinho diferenciador

Igualmente, e” juntamente com outras nove pipas que estão na nossa adega no Palácio Marques Pombal, estamos a fazer amostras de seis em seis meses e vamos analisá-las agora juntamente com o Instituto Superior de Agronomia e o Instituto da Vinha e do Vinho (IVV), para perceber se há efetivamente uma divergência na evolução”. No entanto, e “para além destas nove pipas, temos mais quatro que constituem edições especiais. Nessas quatro pipas pusemos também um vinho de 2012, que é este que aqui está, e que veio para cá em Abril de 2023 e saiu em Abril de 2024”. A Comissão Vitivinícola da Região de Lisboa já certificou este vinho e já está em condições de ser provado.

1800 garrafas desta edição especial

“É um vinho diferenciador e diferente daquilo que estamos habituados a provar nos vinhos de Carcavelos, marcado acima de tudo pela sua frescura e acidez extrema. É um vinho vibrante na boca, e isso vocês vão conseguir identificar”.  No total, existem “1800 garrafas” deste vinho especial, acompanhadas por “uma brochura que conta esta história do vinho e desta experiência que estamos a fazer. A origem desta garrafa é diferente das que nós utilizamos, utilizámos uma garrafa cúbica, porque o cubo e a esfera estão relacionados, representam a estabilidade da natureza e a planta circular do Bugio”.

Já a transparência, justifica-se com a necessidade de “mostrar a cor” deste vinho, e a estrela de oito pontas está associada ao Marquês de Pombal e ao ano deste vinho, 1924. Após esta explicação, procedeu-se à assinatura do protocolo. Por sua vez, e de acordo com o Chefe do Estado-Maior da Armada, Almirante Henrique Gouveia e Melo, também presente nesta cerimónia, “a Câmara de Oeiras e a Marinha têm uma longa tradição de cooperação, não só com a Direção de Faróis, mas também através do Aquário Vasco da Gama.

Protocolo pretende valorizar Farol do Bugio

Esta cooperação é benéfica para o cidadão comum, porque beneficia de eventuais equipamentos militares ou que estão sob a alçada militar, e que de outra forma não estariam disponíveis ao público. O Bugio é um exemplo disso, é icónico. Não há quem viva ou passe em Lisboa, que não reconheça o Bugio, um farol que nós mantemos e que estamos permanentemente a combater para que não se degrade”. Por isso, considera o Almirante, este novo acordo com a autarquia de Oeiras será possível encontrar novas formas de “rentabilizar esta infraestrutura, que é do Estado, e um desses exemplos são os vinhos”. O Chefe Maior da Armada revelou ainda, no seu discurso, que, durante a sua carreira militar, chegou a ser Diretor de Faróis, um dos “melhores momentos” da sua vida.


“Os faroleiros são de uma dedicação extrema e são quase uma população, dentro da própria população, e fazem coisas extraordinárias. Quando saí da Direção de Faróis e tive que fazer outras funções na Marinha, fiquei sempre com uma grande saudade desta unidade e uma grande consideração pelas pessoas que passam da vida nos faróis”, disse ainda Henrique Gouveia e Melo, agradecendo à Direção de Faróis, à Autoridade Marítima, mas também ao presidente da Câmara de Oeiras, “por tudo o que nos tem ajudado”, sendo ainda “um verdadeiro amigo da Marinha”.

Longa ligação da CMO à Marinha

Já Isaltino Morais, começou a sua intervenção a sublinhar a “simbologia desta operação e do acordo que estamos aqui a assinar. Estou certo que esta nossa visita aqui ao Bugio vai de certeza criar condições para que seja criada uma forma de garantir o acesso às pessoas aqui”. Para o autarca, este farol “é uma obra extraordinária, com uma enorme beleza do ponto de vista da arquitetura”. “Estou certo que estamos a dar um contributo para uma maior divulgação deste património extraordinário, mas também para fazermos um esforço no sentido de o abrir mais às pessoas”.

O presidente da CMO lembrou também a ligação histórica de Oeiras com o mar, uma vez que “as instituições ligadas à Marinha sempre tiveram um papel muito importante. Estas entidades, ressalvou Isaltino Morais, ajudaram na construção da identidade do concelho, mas também na sua afirmação, servindo de exemplo espaços como o Aquário Vasco da Gama, a Escola Náutica, ou o Instituto Gulbenkian de Ciência, entre outros.

Cooperação de longa data

“Eram as grandes instituições que eu citava para mostrar que Oeiras era uma terra acolhedora e podia ter mais instituições, até porque tinha uma localização fantástica”, recordou o edil. Atualmente, acrescentou, “há um potencial tecnológico” em Oeiras, que tem uma grande “concentração de empresas, instituições de investigação e de universidades”. Neste sentido, Isaltino Morais acabou por revelar ser contra a ligação rodoferroviária Chelas-Barreiro, defendendo que ela devia ser entre Algés e a Trafaria.

O presidente da CMO destacou a excelente relação com o Almirante Gouveia e Melo, aproveitando ainda para parabenizar o Diretor de Faróis, o comandante Pedro Miranda de Castro, por ser “um homem muito ativo e também porque aproveita todas as oportunidades”. Neste sen

tido, o autarca destacou que “o vinho pode constituir uma narrativa interessante, quer do ponto de vista da história da Direção de Faróis, mas também da história do vinho. Este vinho nasceu não para ser comercializado ou para ser rentabilizado do ponto de vista económico, mas sim para garantir que não se extinguisse. É um património que estava em vias de extinção, produzia-se em quatro ou cinco hectares e tudo indicava que iria desaparecer”.

Destacar as potencialidades do concelho

Assim, realçou Isaltino Morais, a CMO, em 1999 decidiu pegar neste projeto e dar-lhe a importância devida. “O nosso objetivo era puramente a defesa de um património cultural deste território. Este vinho afirmou-se muito rapidamente, e hoje, é indiscutível o Villa Oeiras é mais do que um produto cultural e patrimonial”, tendo igualmente um grande “valor económico”. Para além do vinho, lembrou ainda o presidente da CMO, a autarquia já produziu azeite, tendo trazido “três mil oliveiras do Alentejo”. “Quando nós temos vontade de desenvolver e diferenciar o nosso território e a nossa comunidade, isso tem uma força extraordinária”, referiu ainda Isaltino Morais.

O autarca lembrou ainda que, nos últimos anos, a CMO adquiriu alguns edíficios que pertenciam ao Estado, tais como o Palácio Marquês de Pombal, ou a Quinta de Cima, onde, no passado, se produzia vinho, azeite, mel e seda. “Acabámos de plantar 300 amoreiras, sendo que, dentro de dois anos, nós podemos retirar as folhas e criar bichos da seda, para que, daqui a três anos nós possamos estar a fabricar colchas de seda”, adiantou. Por fim, o presidente expressou ainda a “total disponibilidade” da CMO para “qualquer ação de cooperação com a Marinha”, aproveitando ainda para agradecer a todos os colaboradores da autarquia pelo desenvolvimento deste projeto.

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