OPOSIÇÃO E COMERCIANTES PREOCUPADOS COM OBRAS NA BAIXA LISBOETA

Plano de Contingência

As novas regras à mobilidade do trânsito na zona ribeirinha e na Baixa de Lisboa, devido às obras, estão a causar um verdadeiro pandemónio na baixa lisboeta. Carlos Moedas descarta responsabilidades e culpa Metropolitano, mas oposição diz “que não é bem assim”. Entretanto, a UACS diz que as obras estão a criar “dificuldades de entrega e abastecimentos de produtos às lojas”.

Com as obras, o trânsito em Lisboa tornou-se caótico e o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas sacudiu responsabilidades para o Metro. Mas, segundo o Bloco de Esquerda, “tinha na sua posse, há quase um ano, um instrumento fundamental para responder a esta realidade”, acusa a vereadora Beatriz Gomes Dias, que viu aprovada por unanimidade a proposta bloquista para a criação de um Plano de Contingência.

Para os partidos na oposição na Câmara Municipal de Lisboa, as afirmações de Carlos Moedas não correspondem à verdade. Eles desmentem as declarações do autarca que desresponsabilizavam a Câmara e apontavam culpas para o Metro, porque a “operação é da competência do Governo”. Nesse âmbito, a Câmara “lamenta os transtornos que as interrupções na circulação de comboios nas linhas Amarela e Verde do Metropolitano de Lisboa estão a causar aos utilizadores de transportes públicos da cidade de Lisboa”.

Assim, Carlos Moedas adianta “a Câmara Municipal de Lisboa é alheia” a esse problema e “relativamente à qual a entidade competente é o Metropolitano de Lisboa, a Carris reforçou o serviço de várias carreiras para minimizar o transtorno causado”. Aliás, o vice-presidente do município, Filipe Anacoreta Correia, reafirma esta posição de Carlos Moedas e salienta que a culpa é toda do Metropolitano de Lisboa.

Alternativas existem há 1 ano

O mesmo não pensam os partidos na oposição. Por isso, a vereadora Beatriz Gomes Dias, do BE, solicitou o agendamento como extra-agenda para a reunião pública da Câmara Municipal de Lisboa desta quarta-feira (3 de maio) das suas propostas para resolver “o caos no trânsito e transportes públicos criado pela inação de Carlos Moedas”.

A proposta do Bloco para a criação de um plano de contingência, aprovada por unanimidade, “obriga a Câmara a articular com Carris, Metro e CP soluções para encontrar alternativas de mobilidade face ao caos de trânsito que se está a viver em Lisboa”.

No período antes da ordem do dia, a vereadora bloquista lembrou que “reunimos com o presidente da Câmara em abril de 2022, há mais de um ano, e apresentámos esta proposta em outubro de 2022, depois de não termos nenhuma resposta nem nenhum plano apresentado pelo Presidente”.

Trata-se da proposta para criar um Plano de Contingência em conjunto com a Carris, Metro e CP para o tráfego na cidade durante o período em que decorrem grandes empreitadas como a do Plano de Drenagem e o alargamento da rede do Metropolitano de Lisboa.


Descartar de responsabilidades

“Demos um instrumento perfeito para o Presidente usar para resolver os problemas que estavam colocados”, prosseguiu Beatriz. A autarca acrescenta que Carlos Moedas “ignorou este plano e deixou-o na gaveta a ganhar pó e mofo durante este tempo”.

Por isso, “é com surpresa que vemos agora o presidente a descartar-se da sua responsabilidade, apontando exclusivamente culpas ao Metro pelo caos que se está a viver”, acusou a vereadora, referindo-se às declarações públicas de Moedas esta semana.

Para a vereadora bloquista, “o papel do presidente da Câmara não é só fazer o diagnóstico do problema e não apresentar uma solução”. Criticando Moedas por nem sequer ter reunido com o Metro “para poder ver qual seria a melhor forma de acautelar esta realidade, nem com a CP ou a Carris”. Ou seja, “ignorou a proposta e agora considera que não tem capacidade para responder às pessoas que vivem e trabalham em Lisboa”, resumiu.

Plano de Contingência

A proposta do Bloco defende que a Câmara, em conjunto a Carris, o Metropolitano de Lisboa e a CP, e auscultando as Juntas de Freguesia e a população, desenvolva um Plano de Contingência para o tráfego durante o período destas empreitadas. Por sua vez, este Plano deve “reforçar a oferta dos transportes públicos nas zonas mais afetadas e desenvolver percursos alternativos para que os impactos no trânsito automóvel sejam mitigados através da utilização dos transportes públicos”.

Por outro lado, o Plano de Contingência proposto “deve ter em conta a utilização de alternativas de mobilidade ativa, nomeadamente ciclovias e zonas pedonais”. Estas soluções devem permitir “manter a mobilidade dos munícipes nas zonas mais afetadas” e incluir “um plano de comunicação eficaz e abrangente, que indique aos munícipes os constrangimentos na circulação rodoviária e as alternativas de transportes públicos”.

Comerciantes preocupados

Por outro lado, numa sessão de esclarecimento com o vice-presidente da autarquia, Filipe Anacoreta Correia, que tem a tutela da mobilidade, os comerciantes, empresários e dirigentes associativos mostraram preocupação com os constrangimentos causados pelas obras na Baixa e na zona ribeirinha. Alguns destas dificuldades prendem-se com a proibição de acesso, entre as 08h00 e as 22h00, de veículos com mais de 3,5 toneladas para cargas e descargas, “que resulta na dificuldade de entrega e abastecimentos de produtos às lojas”, destacou, numa nota, a UACS.

Segundo a UACS, Anacoreta Correia considerou necessário “trabalhar num plano de logística ajustado de forma a proteger o comércio e preservar a economia da cidade”. Este documento será trabalhado após uma reunião a realizar entre os comerciantes e a Câmara Municipal para, em conjunto, “reverem e criarem soluções ajustadas, para adequar o horário de cargas e descargas”.

A união de associações de comerciantes voltou a recomendar a criação de uma comissão de acompanhamento das alterações de mobilidade em Lisboa. Ao mesmo tempo, pediu à autarquia que concilie “a calendarização das obras em curso com a vivência e funcionamento da cidade, que não podem ser inviabilizados”.

Necessário atenuar dificuldades

Segundo a UACS, está previsto que as obras da Rua da Prata demorem quatro meses. No caso da Avenida Dom Carlos, até ao dia 24 de dezembro. Por fim, no caso do Plano Geral de Drenagem de Lisboa, em Santa Apolónia, o fim das obras deverá ocorrer até ao dia de Natal, “podendo haver alterações de acordo com as características das obras”.

No encontro, os comerciantes pediram soluções para atenuar a dificuldade de circulação e de acesso à baixa. Para eles, estas dificuldades levam ao afastamento dos consumidores, prejudicando o tecido empresarial da cidade.

Sugeriram ainda “que deve ser feita uma clarificação na mensagem de identificação nas plataformas tecnológicas, como por exemplo o Waze, para facilitar a circulação na Baixa, apesar das limitações.

O trânsito está condicionado desde 26 de abril, por tempo indeterminado, na zona ribeirinha e Baixa de Lisboa devido a várias obras. Por isso, a Câmara Municipal sugere alternativas para circular de Alcântara ao Parque das Nações.

Para desviar o trânsito das zonas condicionadas, a CML sugere que seja utilizada para atravessamento uma “5.ª Circular”. Esta diz respeito a um percurso que parte de Alcântara, passando depois pela Avenida Infante Santo — Estrela – Avenida Álvares Cabral — Rato — Rua Alexandre Herculano – Conde Redondo — Avenida Almirante Reis – Praça do Chile — Rua Morais Soares – Praça Paiva Couceiro — Avenida Mouzinho de Albuquerque, terminando no Parque das Nações.

Entre as obras que vão provocar os condicionamentos estão a expansão do metro de Lisboa, a realização do Plano de Drenagem, para evitar situações de cheias na capital, a reabilitação da rede de saneamento e a repavimentação de vias.

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