Reunião que levou ao fim da ditadura lembrada em Cascais

Os 50 anos do encontro em que os capitães decidiram derrubar a ditadura portuguesa através de um golpe de Estado foram lembrados esta terça-feira, 5 de março. Assim, no dia em que passou meio século desse encontro clandestino de 200 jovens capitães (em representação de mais de 600), a comissão comemorativa dos 50 anos do 25 de Abril, a Associação 25 de Abril e a Câmara de Cascais evocaram a data com a inauguração de duas peças que integram o projeto artístico “Girândolas de Luz”.

A Câmara Municipal de Cascais associou-se à Comissão Comemorativa dos 50 anos 25 de Abril na evocação esta terça-feira, dia 5 de março, em Cascais, dos 50 anos de um encontro de Capitães. Foi nesta reunião que se assumiu como irreversível a opção pelo golpe de Estado, onde os jovens militares também determinaram um reforço da organização do Movimento e acionaram os mecanismos para a conclusão de um Programa político que sintetizasse os seus objetivos.
A iniciativa foi organizada pela Associação 25 de Abril e pela Câmara Municipal de Cascais. Aqui, foram ainda inauguradas duas peças que integram o projeto artístico «Girândolas de Luz».

Este é da autoria de Catherine da Silva, e pode ser visto em locais do concelho onde decorreram reuniões relevantes no caminho para a Liberdade. Maria Inácia Rezola, Comissária Executiva, afirma que “num momento em que a Democracia portuguesa cumpre 50 anos e o país se mobiliza para celebrar com entusiasmo e orgulho o seu momento fundador, é fundamental recordar o determinante contributo do encontro de Cascais para o 25 de Abril de 1974″.

Ainda na mesma visão, “as comemorações permitem-nos rememorar criticamente datas e acontecimentos, figuras e processos”.  Neste sentido, é possível celebrar “a história e um futuro que todos queremos mais justo e participado”. Assim, “conhecer o passado permite-nos valorizar as conquistas de Abril e combater a indiferença e o esquecimento, nomeadamente junto das gerações que já nasceram em Liberdade.”

Honrar Abril

Vasco Lourenço, Presidente da Direção da Associação 25 de Abril, refere que “na reunião de 5 de março de 1974, em Cascais, decidimos avançar para uma ação de força, de derrube da ditadura”. Aqui, definiu-se um “programa político, que definisse as linhas do futuro regime e confirmámos a escolha de Francisco da Costa Gomes e de António de Spínola para futuros Chefes, desde que aceitassem o Programa do Movimento”. Igualmente, “demos um voto de confiança à Comissão Coordenadora à respetiva Direção para executarem as decisões aprovadas. Foram resultados francamente preciosos para a evolução do caminhar para a Libertação.”

“Há 50 anos unimo-nos e vencemos um regime não democrático. A celebração do 25 de Abril em Cascais é uma afirmação de princípios. É a afirmação de uma democracia forte. Honrar Abril é lembrar e admirar aqueles homens e mulheres que nos libertaram da servidão para nos dar a liberdade plena. É agradecer aos vários homens que estiveram na linha da frente, os Capitães de Abril”. Estes, “com coragem, fizeram a única Revolução do mundo sem sangue, substituindo as armas por flores: os nossos cravos. Lutemos, hoje mais do que nunca, por uma Democracia sem amos. Aqui, nesta nossa Vila de Cascais, também é o povo quem mais ordena”, salientou, por seu turno, Carlos Carreiras, Presidente da Câmara Municipal de Cascais.

Um regime a 51 dias do fim

Ou seja, na reunião realizada em Cascais a 5 de março de 1974, os Capitães assumiram como irreversível a opção pelo golpe de Estado. Ao mesmo tempo, determinam um reforço da sua organização e acionam os mecanismos para a conclusão de um projeto político que sintetiza os seus objetivos fundamentais. No entanto, o encontro clandestino é preparado com relevantes preocupações de segurança. Por isso, os cerca de 200 homens (em representação de mais de 600) que estariam presentes são convocados para 18 cafés ou pastelarias em Lisboa, onde devem esperar por um elemento que os encaminhe para o local da sessão.

O plano inicial é realizar a reunião no edifício Franjinhas, no cruzamento das ruas Castilho e Braamcamp, mas é alterado nesse mesmo dia. Assim, o destino acabou por ser o 1.º andar do número 45 da rua Visconde Luz, em Cascais, no ateliê do arquiteto Braula Reis. Por isso, e nesse pequeno espaço, cumpriu-se uma etapa determinante na história do Movimento dos Capitães e para o sucesso da «Operação Viragem Histórica». Esta, após 51 dias, derrubaria uma ditadura que durava há quase meio século. Durante o encontro, é aprovado pela maioria dos presentes (111) o documento de síntese «O Movimento, as Forças Armadas e a Nação».


Definição de funções

Este é o primeiro projeto político dos Capitães, fundamental para balizar os seus objetivos. De igual modo, fica patente a intenção do Movimento de democratizar o país e de acabar com a guerra. É também aqui que se dá a passagem do Movimento dos Capitães a Movimento das Forças Armadas (MFA). Por outro lado, os Capitães decidem delegar em Melo Antunes a responsabilidade de presidir e coordenar a comissão de elaboração do Programa.

No entanto, e no mesmo encontro, realizou-se uma nova votação sobre os futuros chefes do Movimento. O escrutínio é ganho por Francisco da Costa Gomes, então Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas. Simultaneamente, os presentes dão ainda um voto de confiança à Comissão Coordenadora do Movimento e à direção. O objetivo é que eles possam desenvolver todas as atividades necessárias à preparação do golpe de Estado.

Dois locais de memória

No dia em que passaram exatamente 50 anos sobre a reunião de Cascais, inauguram-se duas peças que integram o projeto artístico «Girândolas de Luz». Este é da autoria de Catherine da Silva e tem o objetivo de promover e preservar a memória destes acontecimentos. Neste sentido, a primeira assinalou o local onde se realizou a reunião de 5 de março de 1974, simbolicamente no n.º 13 da Rua Visconde Luz, em Cascais.

Já a segunda, assinalou o local onde se realizou uma outra relevante reunião do Movimento dos Capitães naquele concelho. Por sua vez, este encontro foi a 24 de novembro de 1973, e realizou-se na residência da família Fonseca Ribeiro, em São Pedro do Estoril (perto do local onde hoje se situa o restaurante “O Mira”). Por fim, as Girândolas evocam a forma dos cravos que deram nome à Revolução e têm entre 3m e 3,5m.

Comemorações dos 50 anos do 25 de Abril até 2026

As Comemorações dos 50 anos do 25 de Abril tiveram início em março de 2022 e vão decorrer até 2026, sendo que cada ano vai focar-se num tema prioritário. Desta forma, pretende-se reforçar a memória e enfatizar a relevância atual destes acontecimentos na construção e afirmação da democracia. Por fim, o período inicial das Comemorações tem sido dedicado aos movimentos sociais e políticos que criaram as condições para o golpe militar. A partir de 2024, os três ‘D’ do Programa do Movimento das Forças Armadas (MFA) começam a ser revisitados. Por isso, haverá iniciativas que evocam o processo de descolonização, a democratização e o desenvolvimento.

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