Rui Teixeira faz balanço do mandato “ESPERO CONCLUIR O MEU MANDATO COM A DIGNIDADE QUE SE IMPÕE”

O presidente da União e Freguesias de Algés, Linda-a-Velha e Cruz Quebrada-Dafundo diz-se “uma voz livre” e independente e admite ser um outsider na política. Mas assume que a sua experiência empresarial funcionou como uma mais-valia para o desempenho do cargo.

 OL –Estamos a pouco mais de meio ano das próximas eleições autárquicas. Já é possível fazer um balanço do seu mandato?

RT – Quando foi interpelado para me candidatar a este lugar, estava a “leste do paraíso”. Nem sabia bem onde me vinha meter. As pessoas são lestas em críticas a nossa ação (eu próprio também era um pouco assim), mas ninguém sabe o quão difícil é este cargo. Tinha muita experiência na área empresarial, da saúde e na área social, mas nunca tinha desempenhado qualquer cargo político. Aos poucos, fui-me adaptando e tentei trazer algumas da minha experiência como gestor para o cargo. Tentei que a União de Freguesias funcionasse como uma empresa, como várias áreas de negócio, inclusive do setor social.

– Um cargo deste tipo pode ser exercido com se tratasse de uma empresa?

RT – Este cargo implica um serviço à população, ao povo, mas isso não implica que não tenha uma dinâmica empresarial, porque é muito importante haver rigor na gestão de uma autarquia. A nossa equipa herdou algumas dívidas da gestão anterior e fomos tentando endireitar as coisas do ponto de vista administrativo, nas contas da autarquia, tentando que os recursos humanos se valorizassem (apoiando nas licenciaturas, pós-graduações, etc., porque esta valorização tem influencia do ponto de vista da progressão das carreiras da função pública).

– É um autarca com preocupações sociais?

RT – Do ponto de vista humano, demos muito ênfase à parte social. Aliás, foi essa razão que me fez tomar a decisão de desempenhar este cargo, porque já conhecia as pessoas, sou de aqui, e tenho realizado bastante trabalho de apoio às populações, que também me ajudaram enquanto empresário estabelecido na zona há mais de 25 anos.


– Enquanto autarca, quer deixar a sua “marca” no apoio aos mais desfavorecidos?

RT – Ao longo da minha vida, tive a honra de participar em múltiplos projetos de cariz social e de apoio aos mais desfavorecidos. O facto de ser empresário e ter algumas valências na gestão e de ter formação na área da saúde, que é e minha área, poderá ter alavancado alguns dos projetos sociais que temos vindo a desenvolver na autarquia, como o “Comunidades Pró-Envelhecimento” ou mesmo o Armazém Alimentar, que é um projeto totalmente autónomo (foi iniciado pelo anterior executivo, mas nós demos-lhe maior maturidade e autonomia). A este nível, foi um mandato extremamente produtivo e sinto-me realizado e agradecido a quem me elegeu e me possibilitou estar neste cargo.

– Acha que conseguiu transpor a sua veia empresarial para o cargo de líder de uma autarquia?

– Acredito que consegui transpor aquilo que é melhor: a minha forma de estar, o humanismo e solidariedade, que são muito mais importantes que tudo o resto. Acho que é mais importante eu ser uma pessoa humana, do que o lado empresarial. Na minha outra vida tento ser uma pessoa preocupada com o seu semelhante, atenta à realidade e às necessidades de quem me rodeia, com humanidade e uma a forma de estar solidária. Acresce que o facto de ser organizado e de primar a minha ação pela racionalização dos recursos foi uma mais-valia para o meu trabalho neste cargo.

–  O facto de ser um outsider da política motivo alguns olhares de viés pelos seus pares ou não?

RT – De facto, quem vem das “jotas” e da militância de um determinado partido vem com uma certa educação partidária, mas essa minha falta de experiência pode ser um ponto a favor porque pessoas como eu têm a vantagem de vir com ideias novas e de fazer as coisas fora da caixa. De facto, há desvantagens, porque não estamos dentro da orgânica política, mas também pode ser um ponto a favor, pois temos a tendência para não ser politicamente corretos.

– Nestes anos de experiência na liderança de uma autarquia essa inexperiência política pesou mais que a sua liberdade e independência dos aparelhos partidários?

– Eu acho que nestes quatro anos de vida política me deparei com o medo da competência, das pessoas competentes. E isso faz com algumas pessoas se sintam inseguras. Mas ninguém está aqui para tomar o lugar de outrem. Não tenho ambição de tomar o lugar de ninguém. Quando já não me quiserem, vou-me embora pelo meu pé, sem qualquer problema.

 – Ser autarca tem-lhe roubado tempo (e dinheiro) para se dedicar os seus negócios e outras atividades?

– Quanto ao dinheiro, apraz-me dizer que quem corre por gosto, não cansa. Em relação ao resto, ser autarca é ser um servidor público. É muito penoso para quem o é. Poucos são aqueles que valorizam o trabalho feito; deixamos de ter vida própria e estamos inteiramente ao serviço da comunidade. Por exemplo, os meus amigos de “telemóvel”, com quem mantinha contacto regularmente, eram 200 ou 300, mas hoje são quase 2 mil. Tenho pessoas que me ligam a toda a hora, todos os dias da semana, a pedir comida, a protestar com um buraco da rua deles. Em suma, deixei de ter vida própria e deixei de ser empresário para ser autarca.

– Como classifica as suas relações com a Câmara de Oeiras?

– Foram normais. Cada pessoa tem a sua personalidade e não é agora, com 50 e tal anos, que vou deixar de ser quem sou para agradar. Tenho mau feitio e não estava habituado à disciplina (partidária) e sempre pautei a minha vida pela independência, que é uma chatice. Sou um ser livre e não me apego às coisas. Tanto estou aqui, como estarei debaixo da ponte de Santa Apolónia a ajudar os sem-abrigo, que era aquilo que fazia antes. Não tenho qualquer apego e não tenho qualquer problema com o poder instituído. Apesar de ser livre, devo dizer que não tive nenhum atrito com a vereação, com o presidente da Câmara, com os meus colegas da União de Freguesias, nem com o resto da população.

– O facto de ser uma voz livre não lhe trouxe problemas?

– A liberdade tem sempre um preço. E o facto de ser um radical livre posso ser apontado como um tipo perigoso. Até na ciência o radical livre, se não for controlado, pode ser maligno. Sendo eu um radical livre, tento controlar-me para não perder o pé. Tentei ser fiel aos meus princípios e continuar a ser um irreverente q.b.

– Quais foram os seus pontos altos neste mandato?

– Infelizmente, os meus pontos altos ocorreram durante a pandemia. Fui desafiado a cozinhar 600 refeições por dia, às quarta-feira, para distribuir à população. Nunca pensei vir a ser um “chefe de cozinha” e fazer tantas refeições. Também fazia as compras às pessoas, ia à farmácia, etc. Essa experiência foi muito dura, mas senti que estava, de facto, a ajudar quem mais precisava, que deve ser o grande objetivo dos autarcas. Devo salientar que a câmara de Oeiras foi um parceiro imprescindível nesta luta.

– Caso não seja reconduzido ou reeleito no cargo, considera que o seu trabalho ficará para a história da União das Freguesias como o autarca que ajudou quem precisou e não por alguma obra ou rotunda?

– Também ao nível das obras públicas fizemos coisas interessantes, como o Armazém Alimentar, mas a nossa situação periclitante a nível financeiro não nos deixou fazer tudo aquilo que queríamos. Não fomos mais além porque não conseguimos e também não tivemos grandes ajudas da câmara municipal.

O que ficou por fazer?

– Tínhamos um projeto para um novo estacionamento, mas a câmara não deu andamento ao projeto. Tínhamos um projeto de requalificação de um apartamento na avenida dos Combatentes da Grande Guerra (em Algés) que também não avançou. Era nossa intenção avançar com Centro de Juventude nesse imóvel, mas não o conseguimos. Tínhamos também previsto realizar obras de requalificação na Capela de Nossa Senhora do Cabo, em Algés de Cima, que está em ruínas e que ficaram por concluir, mas, até ao final do meu mandato, espero vê-las concluídas.  A pandemia congelou grande parte destes projetos, porque houve uma emergência mundial, nacional e local, e não podíamos ficar de braços cruzados face às dificuldades das populações.

– Vai recandidatar-se ao lugar? Já foi convidado pelo seu Movimento ou outros partidos?

– Ainda é muito cedo para assumir o que quer que seja. Não estou à espera de nada, nem de nada maior. Espero concluir o meu mandato com a dignidade que se impõe. O resto, o futuro a Deus pertence. As coisas não dependem só de mim. Sou candidato pelo Movimento, de que sou um dos fundadores, mas este projeto político tem departamentos nesta área e eles é que decidem.

– Se dependesse apenas de si, voltava a candidatar-se?

– “Nim” (risos). Há razão e há a emoção. Ambas têm de pesar neste tipo de decisões.

 

 

 

 

 

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