USO DE MÁSCARA É OBRIGATÓRIO NAS ESCOLAS MAS ESPECIALISTAS ALERTAM PARA 2ª VAGA DO COVID

No próximo ano lectivo, os alunos não podem entrar na escola sem máscara, para se evitar casos de infeção. As escolas já estão a testar as medidas a adoptar. Todavia, os especialistas alertam para a possível segunda vaga de Covid 19, prevista para outubro.

O novo ano letivo já está a ser preparado e centenas de escolas estão agora, durante o mês de agosto, a testar as medidas a adotar já no próximo ano letivo. O Ministério da Educação enviou na semana passada às escolas as orientações para planificar o novo ano, porque, entre 14 e 15 de setembro, milhares de crianças e jovens regressam ao ensino presencial, apesar dos avisos dos especialistas que alertam para o facto de, em outubro, ser provável que chegue uma nova vaga de infeções, coincidindo com a reabertura das escolas.

Para setembro, os especialistas esperam novos surtos entre alunos e professores. «É impossível que não haja casos, infelizmente vai acontecer», refere Ricardo Mexia, presidente da Associação de Médicos de Saúde Pública. As deslocações de transportes públicos, muitas vezes em autocarros lotados, as deslocações dos pais às escolas para levar os filhos – tudo isto são fatores que aumentam as probabilidades de contágio.

Entretanto, o ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, já garantiu que o Ministério vai distribuir, gratuitamente, máscaras «às comunidades educativas» no regresso às aulas. O ministro Tiago Brandão Rodrigues. durante a audição na comissão parlamentar de Educação, desvalorizou a polémica em torno do distanciamento físico entre alunos e professores.

Porém, de acordo com as orientações da Direção-Geral da Saúde já enviadas às escolas, deve ser garantido «sempre que possível um afastamento de 1 metro». Contudo, como as turmas não vão ser desdobradas e muitas funcionam no limite de alunos por sala, os diretores já avisaram que vai ser impossível cumprir esse distanciamento.

Redistribuir alunos para manter distanciamento

Do ponto de vista do ministro, «a medida do distanciamento não pode ser vista isoladamente. Há várias medidas que estão previstas como os circuitos de circulação e grupos de alunos separados, a higienização e a etiqueta respiratória, a disposição das salas de aula», salientando as vantagens de um regresso às aulas presenciais para todos e os custos a vários níveis de não o fazer, desde prejuízos para a educação, sociedade e saúde pública.


Todavia, para Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP), «a máscara vai passar a ser um material mais importante do que o manual, ao ponto de o aluno não poder entrar na escola se não levar a máscara – se não levar o manual tem falta de material, mas pode entrar».

Do ponto de vista do médico Ricardo Mexia, «a utilização das máscaras é uma das medidas que podemos utilizar para reduzir a potencial disseminação das doenças e, mesmo que se consiga redistribuir os alunos de forma a manter as distâncias de segurança, o facto de terem uma máscara pode ajudar a reduzir a tal transmissão da doença». «É um espaço fechado, faz todo o sentido que se utilize», acrescentou o médico especialista em saúde pública.

Os mais de quatro milhões de euros anunciados pelo Ministério da Educação em julho para a compra de máscaras já foi distribuídos pelas escolas e a cada aluno, a partir do 5.º ano, serão distribuídas três máscaras comunitárias, o que significa que, tendo em conta que estas máscaras podem ser lavadas 25 vezes, os alunos terão máscara garantida para utilizar durante o primeiro período de aulas.

Reduzir número de alunos por turmas

Além do uso obrigatório de máscara, as escolas estão a adotar outras medidas para cumprir as regras da Direção-Geral da Saúde, ainda que os diretores de escolas considerem que as regras são «claras, algumas não são é exequíveis». Exemplo disso é o distanciamento físico de um metro e meio durante as aulas. As turmas vão continuar com o mesmo número de alunos – 25, e algumas chegam a ter 30 alunos –, «as salas têm 50 metros quadrados, ou menos, e, portanto, não é fácil ter num espaço com esta dimensão 25 ou 30 alunos e manter o distanciamento», explicou Filinto Lima.

Também os horários das aulas vão ser diferentes no próximo ano letivo. «Há escolas que começavam as aulas às 8h30 e vão começar às 8h e há escolas que terminavam as aulas às 18h30 e vão acabar agora às 19h», acrescenta Filinto Lima.

«A ideia é ter na escola o menor número possível de alunos por dia e, se possível haver dois turnos – o da manhã e o da tarde. Mas isso implica que o Ministério reforce o número de assistentes operacionais, não só pelo alargamento do horário, mas também porque os funcionários vão desempenhar outras funções que antes não desempenhavam, nomeadamente higienização das salas, das casas de banhos».

Sobre as aulas de Educação Física, o Ministério da Educação ainda não enviou às escolas as respetivas orientações e os estabelecimentos de ensino não sabem o que podem ou não fazer.

«É urgente que o Ministério da Educação oriente as escolas de forma a percebermos como é que vai funcionar», disse o presidente da ANDAEP, considerando que, mesmo sem conhecer as orientações, «os desportos coletivos não deverão fazer parte dos conteúdos».

Por outro lado, cada turma vai estar sempre na mesma sala, evitando assim trocas de materiais, as bibliotecas vão ter a sua lotação reduzida e algumas cantinas vão optar pelo serviço de takeaway. Esta estratégia vai ser adotada em algumas escolas para evitar a concentração de alunos à mesma hora e, se possível, os alunos são aconselhados a levar as refeições para casa.

Ministério tem planos A, B e C

O ensino presencial é a regra para o funcionamento de todas as escolas públicas e privadas, afiançou o ministro Tiago Brandão Rodrigues, admitindo, contudo, que se a evolução da situação epidemiológica se agravar e as autoridades de saúde assim o determinarem é que as escolas avançam para o plano B – ensino em regime misto – e, no pior dos cenários, para o plano C, com o regresso ao ensino à distância.

Mas mesmo nestes dois cenários de contingência, são definidas prioridades: os alunos mais novos, do pré-escolar ao 2º ciclo, devem ser privilegiados no caso da direção de um agrupamento ter de decidir quem vai aprender em casa e quem se mantém no espaço escolar, com os professores em sala.

Além dos mais novos, também os estudantes mais carenciados (beneficiários da ação social escolar), os que têm acompanhamento especial ou que estão sinalizados como estando em risco devem poder ficar nas escolas a aprender.

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