Afonso Reis Cabral venceu, esta terça-feira, 8 de outubro, o Prémio Literário José Saramago. O escritor de 29 anos foi distinguido com um dos maiores galardões literários em Portugal graças a “Pão de Açúcar”, um livro que retrata a vida de Gisberta Salce Júnior, sem-abrigo transsexual assassinada na cidade do Porto
No discurso de aceitação do prémio, entregue pelo presidente da Fundação Círculo de Leitores, Paulo Oliveira, o escritor de 29 anos começou por dizer que gostava de dizer «obrigado como uma criança. Mas, entretanto, o tempo tropeçou e parece que deixei de ser criança». Contudo, há coisas que ainda o espantam como se fosse ainda pequeno e, por causa disso, disse, «qual puto: ‘obrigado’».
«Nesta época do bom moralismo, dos bons sentimentos públicos, só espero que haja muitos artistas que produzam em quantidade por todos os outros. Até lá faço, o que posso», disse, acrescentando que esta é a «procura da natureza humana no seu melhor e no seu pior. Inspirei-me num caso real».
Afonso Reis Cabral disse ainda que «houve vários momentos belos e tristes na escrita deste romance». Um dos mais belos e também mais tristes foi quando entregou as páginas do romance a uma amiga, Ariana Mascarenhas, «para as ler na cama do hospital». Foi a ela que dedicou o prémio. «Doente, a Ariana teve o maior gesto de generosidade gastou com o que escrevi o pouco tempo que lhe faltava.»
No entender da ministra da Cultura: «Às vezes só a ficção pode dar resposta ao mistério e fazer incidir uma luz a onde as notícias não chegam».
«Às vezes só a ficção pode dar resposta ao mistério e fazer incidir uma luz onde as notícias não chegam», afirmou a ministra da Cultura, considerando ser este «um dos aspetos mais notáveis desta obra, que trata com talento literário e também com imensa dignidade e sentido ético um tema tão sensível e tão fundamental que nunca pode ser esquecido – o preconceito contra a comunidade homossexual».
«Pode ser ficção, mas às vezes precisamos de ficção para entender a realidade», disse ainda Graça Fonseca, agradecendo ao autor por ter «trazido de volta um tema que, nos dias que correm, nunca podemos esquecer».
Por último, Guilhermina Gomes anunciou que, a partir da próxima edição, “a idade limite” do Prémio Literário José Saramago vai passar a ser “os 40 anos à data de publicação da obra a concurso”. Criado em 1998, depois de José Saramago ganhar o Prémio Nobel, o prémio tinha, até então, distinguido escritores com idade não superior a 35 anos por uma obra de ficção, romance ou novela, publicada em qualquer país da lusofonia nos dois anos anteriores à atribuição do galardão.