Sob o lema «Quem quer só o que pode, pode tudo o que quer», a Câmara de Lisboa anunciou hoje o relançamento da Lisboa Capital Verde Europeia e revelou que os cruzeiros vão ter de utilizar eletricidade do porto quando atracam em Lisboa.
A situação de pandemia que vivemos levou ao cancelamento de muitos eventos que haviam sido inicialmente programados para Lisboa Capital Verde Europeia 2020, com especial prejuízo das conferências internacionais agendadas para os meses de abril, maio e junho. Contudo, o gradual regresso à atividade em espaço público permite reprogramar diversas iniciativas no calendário do ano – incluindo eventos e obras com impacto na vida da cidade.
Assim, entre outras medidas tomadas sabe-se que os navios de cruzeiros vão deixar de poder utilizar gasóleo quando atracarem em Lisboa, a partir de 2022, anunciou o vereador do Ambiente da Câmara Municipal de Lisboa, José Sá Fernandes, durante a apresentação de um conjunto de iniciativas que integram a nova programação de Lisboa Capital Verde Europeia, que contou com a presença do presidente da Câmara, Fernando Medina.
«Conseguimos chegar, na última quarta-feira, a acordo com o Porto de Lisboa para que os cruzeiros a partir de 2022 não usem gasóleo quando atracam em Lisboa. Portanto, que haja eletrificação do porto para não haver poluição atmosférica», disse o vereador.
Por outro lado, o responsável pelo pelouro do Ambiente revelou ainda que a capital terá uma estação de hidrogénio em Carnide, na central fotovoltaica prevista para aquele local até ao «início do ano que vem». Trata-se da «primeira estação de hidrogénio para abastecer veículos e para armazenar hidrogénio e, portanto, é outra fonte de energia renovável», salientou.
Ainda na área energética, Sá Fernandes anunciou que, parte da produção da central fotovoltaica, vai contribuir, ainda este ano, para reduzir as tarifas energéticas em alguns bairros sociais de Lisboa.
Uma outra novidade anunciada por Sá Fernandes prende-se com o facto de a cidade de Lisboa voltar a usar água de nascente, além de continuar com «o trabalho de água reutilizada», permitindo que os lisboetas possam poder «voltar a ir buscar água para regas e para lavagens de rua».
Adiamento de conferências da ONU e da UE
Relativamente à programação da Lisboa Capital Verde, Sá Fernandes recordou que as «três maiores conferências», designadamente a dos Oceanos da ONU, já não ocorrerão, mas adiantou que haverá «uma grande conferência sobre a saúde pública e sobre a poluição atmosférica, na Culturgest».
«Vamos ter conferências, obviamente, menos do que estávamos a pensar. Vamos ter vários eventos, menos do que estávamos a pensar, mas vamos continuar com as obras, vamos continuar com as iniciativas, vamos procurar informar da melhor maneira possível os cidadãos», disse, defendendo que Lisboa «fica sempre a perder, mas ganha-se noutras coisas». Mas, mesmo assim, lamentou que não se realizem a Urban Future Global Conference 2020 (1 a 3 de abril), o Planetiers World Gathering (23 e 25 abril), ITS 2020, (sobre transportes inteligentes, de 18 a 21 maio), a Semana Verde Europeia, sobre biodiversidade (1 a 3 de junho), a Conferência dos Oceanos das Nações Unidas (2 a 6 junho) e a EcoProcura 2020 (novembro).
Por outro lado, estão também previstas «várias conferências na Academia das Ciências» e a conferência de abertura da semana verde, que costuma acontecer em Bruxelas e que deveria acontecer este mês em Lisboa e que foi adiada para outubro.
Sá Fernandes anunciou, também, que o Museu da Reciclagem, em Alcântara, que devia ter aberto nestes meses de confinamento, vai ser inaugurado ainda este ano.
Sá Fernandes, após sublinhar que a Calçada de Carriche vai, até ao final do ano, poder ser atravessa por peões, destacou as obras, «em projeto final do Vale da Montanha II e do Vale do Forno, as únicas que faltam para concluir o Plano Verde do arquiteto Gonçalo Ribeiro Telles, lembrando que já se encontram concluídas as obras do Parque Ribeirinho e que a Ribeira das Naus já se encontra aberto.
Ainda no capítulo das obras, Sá Fernandes referiu os projectos intermunicipais, designadamente a nova ponte sobre o Trancão que vai unir os concelhos de Lisboa e Loures.
Jardins abertos
Os portões de alguns dos jardins mais bonitos da cidade, muitos deles privados, vão estar abertos ao público. José Sá Fernandes desvendou os locais dos jardins surpresa previstos abrirem ao longo deste ano, destacando o da Quinta da Alfarrobeira, da Caixa Geral de Depósitos (Av. D. João XXI) e da EPAL, junto às Amoreiras, da Quinta da Pimenteira e da Casa do Arco.
«Praticamente todos os meses vamos abrir um jardim novo», afirmou, referindo que alguns necessitarão ainda de obras, sublinhando que, dentro em breve, vai ser inaugurado o primeiro parque infantil com o chão em cortiça portuguesa, proveniente de um montado alentejano.
Aprender com a pandemia
«Acho que podemos aprender várias coisas com aquilo que a cidade nos ensinou. Esta cidade que ficou parada, que ficou silenciosa, que parecia que se estava a escutar a si própria, e que nós pudemos escutá-la também», considerou, assegurando que a sociedade está a aprender, fruto da pandemia de covid-19, que é possível «trabalhar mais em casa nalguns casos e a desfasar os horários, contribuindo para uma cidade mais sustentável e com menos engarrafamentos nas horas de ponta».
No Dia do Ambiente, Sá Fernandes lembrou estamos a atravessar «momentos difíceis para todos. Queremos lembrar bem as pessoas que morreram, que sofreram, que não se abraçam, mas é o Dia do Ambiente. Queremos que seja um dia de esperança. É também nas adversidades que nós devemos ganhar ânimo, que devemos procurar fazer aquilo que temos de fazer».
Sustentabilidade ambiental
Já o presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina, defendeu que a «pandemia deu à capital verde uma urgência acrescida» e uma evidência de mudança que as «alterações climáticas não tinham sido capazes de o fazer», lembrando que «temos uma palavra decisiva sobre os caminhos que queremos seguir» que, obviamente, terão de ser «os caminhos de uma cidade que cuida da saúde dos seus cidadãos e da sustentabilidade ambiental».
O período de confinamento foi, na opinião de Fernando Medina, «um momento de maior consciencialização e de força para o compromisso de Lisboa Capital Verde».
O presidente da Câmara acredita que a pandemia alertou e uniu as pessoas em torno das questões do ambiente: «Acho que estamos mais aliados nesta luta. As pessoas estão mais sensíveis para este tipo de questões. Perceberam o que é uma cidade menos poluída, mais silenciosa, perceberam a importância dos espaços verdes para onde muitas vezes fugiam. Muitas deles descobriram sítios que nem imaginavam antes desta tragédia. Mas isto também nos obriga a fazer mais e melhor no futuro. Temos de ter força para que este seja um dia do ambiente assinalado com objetivos muito claros para o futuro».
Do ponto de vista de Fernando Medina, «a lição que podemos tirar desta pandemia é que é necessário agir em defesa do ambiente», acreditando que «Lisboa vai sair desta pandemia com uma verdadeira capital verde europeia que vai mobilizar todos para este compromisso ambiental».
No âmbito de Lisboa Capital Verde Europeia, Fernando Medina chegou à Estufa Fria de Bicicleta e recordou as medidas anunciadas para tornar a capital uma cidade mais saudável, nomeadamente a construção 200 Km de ciclovias.