A empreitada da estação de metro de Arroios está a dar cabo dos nervos e está a levar à valência alguns estabelecimentos comerciais da Praça do Chile e zonas envolventes. 2021 é a nova data prevista para a conclusão das obras. Todos estão na expectativa: Será desta?
A estação de metro de Arroios encontra-se fechada desde 19 de julho de 2017 para obras de ampliação, prevendo-se que reabra no segundo semestre de 2021. Comerciantes e moradores já não sabem com quem falar para saberem, concretamente, quando é que as «obras terminam».
A consignação da empreitada foi assinada em janeiro de 2020, data em que se iniciou, formalmente, estando previsto que tenha «uma duração de 18 meses», anuncia o Metropolitano de Lisboa, salientando que, apesar de algumas perturbações devido à pandemia de Covid-19, a obra «está a decorrer em concordância com a nova normalidade», não antevendo, para já, perturbações que impeçam a abertura da estação no segundo semestre de 2021, conforme previsto.
Mas, para moradores e comerciantes de Arroios as respostas do Metro não «satisfazem», lembrando que as obras de remodelação têm afetado todos e, inclusivamente, levou ao encerramento de estabelecimentos comerciais. É o caso da cervejaria que vendia frangos assados e a retrosaria, ambas situadas à entrada do estaleiro de obras.
A presidente União de Associações de Comércio e Serviços (UACS), Maria de Lourdes Fonseca, adianta que, nos últimos três anos, encerraram cerca de 40 estabelecimentos, não só na Praça do Chile, mas também na Avenida Almirante Reis e outras vias que eram «alimentadas pela estação do metro», nomeadamente cabeleireiros, cafés, mercearias.
A maioria dos proprietários dos estabelecimentos, ainda abertos, «não sabem quanto tempo é que vão conseguir resistir», adianta Lourdes Fonseca, acrescentando que, apesar das obras estarem a correr a bom ritmo, a pandemia do Covid-19 trouxe «problemas acrescidos aos comerciantes».
Um facto é que várias lojas com décadas de existência não resistiram à falta de fregueses e, aqueles ocuparam os espaços vagos também já estão a fechar, afiança Lourdes Fonseca que, apesar de considerar que «o desenvolvimento e modernização da cidade de Lisboa é fundamental», acredita que deveriam existir «mecanismos oficiais instituídos que apoiem os empresários a resistir às dificuldades provocadas por situações como estas, em que a capacidade de intervenção por parte dos empresários é nula».
«Se existissem mecanismos instituídos, não estaríamos a referenciar situações de valências por causa de obras numa estação de metro. Nestas circunstâncias o mais pequeno detalhe torna-se importante para a sobrevivência das lojas até ao término das obras», defende.
Necessário fundo de emergência
Mas, como esse fundo não existe, a presidente da UACS lembra que os estabelecimentos, em geral, estão a atravessar uma crise «muito grave» e, por isso, o Governo deveria criar «um fundo de emergência, com alguma componente a fundo perdido, para auxiliar o comércio tradicional». Esse fundo poderia também ser utilizado para evitar novas situações de valência na zona de Arroios.
Segundo Lourdes Fonseca, neste momento, «os comerciantes já consideram bom conseguirem fechar o dia com 50% da facturação que costumavam efectuar», existindo vários estabelecimentos que «não realizam uma venda por dia», lembrando que na Baixa-Chiado «já fecharam algumas lojas». Mas, em Arroios a situação, se assim se pode dizer, é mais grave: os estabelecimentos já estavam em crise e, agora com a pandemia, a situação agravou-se, havendo a necessidade urgente de «apoiar também esses comerciantes».
Para além da criação do fundo de emergência, a dirigente associativa considera importante que «se mexa» no arrendamento, à semelhança do que sucedeu com os centros comerciais, porque uma «fatia substancial das despesas prende-se com o pagamento das rendas inflacionadas das lojas e, neste momento de crise, muitos não conseguem facturar o suficiente para pagar a mão-de-obra e os alugueres dos espaços».
A mesma posição é defendida por José Diamantino, antigo sócio de uma pastelaria e também morador na freguesia, que lamenta o impacto no comércio causado pelas obras e agravado pelo Covid-19: «parece que finalmente as obras estão a avançar, mas os danos são muitos. Fecharam à volta de 40 estabelecimentos e eu até diria que muito em breve serão capazes de ser mais por causa da pandemia».
Na sua opinião, quem está em pior situação são os cafés, pois o metro era fundamental à sua sobrevivência.
O sr. Afonso, proprietário do Café Mini-Bar, na Rua de Arroios, defende que «o comércio vive muito do trânsito de pessoas e com as obras e com a estação encerrada ninguém passa, vão para outros sítios e adquirem novos hábitos e o comércio acaba por morrer».
As obras influenciam também a mobilidade dos passageiros, que ficam obrigados a deslocar-se mais uma estação, o que é efetivamente um problema particularmente para quem tem menos mobilidade e para quem vive em toda a zona adjacente à Almirante Reis e que usava a estação de metro de Arroios nas «suas quatro saídas», diz. De acordo, com este comerciante, «ficar na Alameda ou ficar nos Anjos (as estações mais próximas) pode é opção para chegar à Praça do Chile. Este é uma situação que causa transtorno à população de Arroios. Apesar de ter havido uma inversão demográfica, ainda existe uma população idosa que usava o metro como meio de transporte durante o dia», explica.
Riscos de contágio do covid-19
Para «ajudar ainda mais o afastamento dos clientes do comércio local», na perspectiva de Sérgio Gonçalves, antigo desenhador de arquitectura, estão as obras de requalificação previstas para aquela zona de Arroios, que «ainda não se sabe quando é que começam», e também o problema dos hóspedes dos hostels infetados com Covid-19 e que representam um perigo para os habitantes.
«Não há nenhum tipo de controlo sanitário dessas pessoas. Elas circulam e entram nos cafés e lojas sem máscara. Alguém deveria controlar essas pessoas e, também, os donos dessas pensões que alojam 200 pessoas em 40 quartos», refere Sérgio Gonçalves.
A mesma opinião é partilhada pela D. Esmeralda, que mora na Rua de Arroios, que considera «imoral» a situação de muitos migrantes que estão hospedados nas pensões e hostels da Almirante Reis, em quartos partilhados com mais cinco ou seis pessoas.
«A Câmara e a junta de freguesia já deviam ter resolvido este problema. Não bastava os assaltos que, regularmente, aqui aconteciam, agora ‘apanhamos’ com esses refugiados que não cumprem minimamente as regras de distanciamento social», afirma a D. Esmeralda.