O bairro de Campo de Ourique, em Lisboa, está na moda. Todos o querem. Chegam com objetivos diferentes, mas uma coisa é certa: todos gostam de aí viver e trabalhar, apesar dos problemas de estacionamento e do corte ao trânsito na Rua Maria Pia.
Camões escreveu: «Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades/ Muda-se o ser, muda-se a confiança/ Todo o mundo é composto de mudança,/ Tomando sempre novas qualidades». Estes versos que continuam (e vão continuar) a ser atuais, mas que, por mais estranho que possa parecer a muitos, não se aplicam ao Bairro de Campo de Ourique. Os tempos mudaram, sim, mas a vontade dos residentes continua a ser soberana, a essência deste Bairro manteve-se ao longo de séculos e existe uma relação cada vez mais sólida com quem continua a viver em Campo de Ourique, onde «todos são família».
Nas ruas de traçado ortogonal de Campo de Ourique, está um dos bairros de Lisboa com um comércio mais interessante, onde, ao longo do tempo, foram nascendo uma série de lojas de tecidos e de decoração e que, hoje em dia, é um dos locais preferidos de muitos decoradores e designers.
Campo de Ourique é um local relativamente calmo e as suas ruas convidam a dar longos passeios. Ao fim de semana ainda se encontram pais e filhos a brincar no Jardim da Parada e senhoras a caminho da missa vestidas a preceito. As pessoas que aqui vivem gostam de preservar o seu espaço e quem o visita não quer sair!.
Apesar de vivermos em plena pandemia, Campo de Ourique está a mudar, mas a transformação não é sentida da mesma forma por todos. Nesta freguesia, com um dos valores por metro quadrado mais caro da cidade, jovens casais de classe média são obrigados a sair das casas onde começaram a constituir família. No bairro eleito por estrangeiros para comprar casa, os mais jovens, que estão a constituir família, «têm de sair».
A freguesia é conhecida pela pacatez e espírito de comunidade, um autêntico oásis dentro da cidade. Mas, o estacionamento, o trânsito e o transporte público são «dificuldades crónicas» do bairro. Junta de Freguesia e moradores estão de acordo: há «muitas dificuldades», nomeadamente no que diz respeito à mobilidade. Várias famílias queixam-se da dificuldade no acesso aos estabelecimentos de ensino, nomeadamente creches”.
Rua Maria Pia sem autocarros há meses
Num bairro onde o Metro não chega, todos aguardam pela tão falada linha circular de Metro, que teima em esquecer esta zona da cidade. Os moradores da Rua Maria Pia, perto da Meia Laranja, queixam-se amargamente de estarem, há vários meses, sem transportes públicos, por causa da «substituição do coletor de água, que colapsou no principio do ano».
Há meses, a conviverem com um buraco na via pública que impede a circulação do trânsito e que os tem privado de autocarros que lhes permitam ir trabalhar ou deslocar-se para fazer compras, os moradores lamentam que «as obras só tenham sido iniciadas em 22 de Junho e que se prolonguem, segundo as melhores previsões, até 12 de Dezembro», o que lhes dificulta as pequenas deslocações para irem ao supermercado e às farmácias.
A estimativa inicial era de que o buraco – que tinha cerca de dois metros de profundidade e um metro e meio de largura e que foi originado pelo colapso de um coletor de água – fosse tapado em «dois dias», mas o tempo passou e os moradores começaram a «entrar em desespeto». «Disseram-nos que houve uma manilha que rebentou e tem de ser substituída. E que já não sabiam quanto tempo ia demorar, porque não era fácil de encontrar», queixa-se Joana Fernandes, de 79 anos. «Mas nós é que não podemos viver assim. Pelo menos que arranjem autocarros pequenos, que consigam circular aqui e ajudem os mais idosos”, pede.
«É uma situação que causa sérios transtornos aos residentes, porque não têm transporte para se deslocarem para outros pontos da cidade», diz Joana Fernandes, concluindo: «Se isto tivesse turismo, a história era diferente».