João Barreta, antigo diretor municipal da Câmara de Lisboa, explica em cinco atos a economia e o nosso comércio em contexto de pandemia, salientando que estamos a viver tempos de poucas certezas e muitas incertezas.
Num contexto em que se perspetiva desemprego a crescer e queda abrupta dos rendimentos das famílias não se entendem, defende João Barreta, em artigo que damos à estampam, medidas que, no fundo, visam promover o consumo sob o pretexto de crer na defesa do consumidor, esquecendo-se que, caso não se salvem as Pessoas, não se salvarão as Empresas e….a Economia irá mesmo parar!
ATO I – O DUELO EM TORNO DA IDEIA – “A ECONOMIA NÃO PODE PARAR”
A Economia é feita de Empresas. As Empresas são feitas de Pessoas. Para que a Economia não pare há que ter Empresas e ter Pessoas. Quem pode salvar a Economia são as Empresas e, portanto, as Pessoas (as que trabalham nas empresas e as que compram aquilo que as empresas produzem e vendem).
Ora, caso não se salvem as PESSOAS, não se salvarão as EMPRESAS e….a ECONOMIA irá mesmo parar! Pergunta: Então, o que importará salvar primeiro? Resposta: As PESSOAS.
ATO II – ECONOMIA E PANDEMIA OU (DES)INTELIGÊNCIA(S) ASSINTOMÁTICA(S) ?
Talvez “apadrinhados” pela campanha “Natal 2020” que visa promover/dinamizar o Comércio dos Centros Comerciais, promovida pela Administração Central (ao mais alto nível) e algumas Estruturas Associativas (tanto do lado da(s) oferta(s), como do lado da Defesa da(s) “procura(s)”) eis que no fim de semana imediatamente a seguir à formalização de tal “campanha” surgem outras…campanhas, por parte de grandes superfícies, que parecem ignorar por completo a situação que se vive no país e no mundo.
Por sua vez, e pelo que já se vai assistindo, por arrasto, “respaldados” pela respetiva Administração Local, surgem agora campanhas de promoção do chamado Comércio Tradicional, apelando ao consumo, logo e por consequência, também a não ficar em casa! A gestão do problema da pandemia não terá estado apenas no mau planeamento, como muitos dizem, pois como se sabe também não estamos entre os melhores a cumprir planos (quando os há!).
A Economia não pode parar? Terá muitos e demasiados custos, mas…pode parar. No entanto, haverá uma certeza – poderá sempre retomar. E vida das pessoas pode parar?
Terá “um custo” que, infelizmente, todos temos como certo, sendo certo que até para os mais crentes, não haverá…retoma!
ATO III – PERCEBE-SE MAS … CUSTARÁ A COMPREENDER!
Uma tutela governamental conjunta para o Comércio e para a Defesa do Consumidor sujeita-se à suscetibilidade de poder dar sinais algo…contraditórios. É uma velha discussão que anda nos “círculos do Comércio” há décadas e que não perde atualidade.
Num contexto em que se perspetiva desemprego a crescer e queda abrupta dos rendimentos das famílias, como se apadrinham medidas que, no fundo, visam querer promover o consumo sob o pretexto de crer na defesa do consumidor?
ATO IV – DICIONÁRIO DE COMMERCIO – quando os sinais não têm significado!
Se todos aqueles que no Presente decidem, ou simplesmente opinam, sobre o(s) Futuro(s) do Comércio (e dos seus comércios) fizessem por estudar e conhecer o(s) seu(s) Passado(s) muito mais e muito melhor se decidiria e … opinaria!
Se as únicas preocupações, durante décadas, incidiram sobre “temas” como sejam, grandes superfícies versus comércio de proximidade, horários de funcionamento e abertura aos domingos, épocas de saldos e estacionamento, como pretenderão, agora, gerir melhor algo que nunca quiseram planear?
ATO V – UM “NOVO NORMAL”? O QUE É ISSO?
De facto, e não é de agora que o escrevo, um suposto “novo normal” só seria “explicável” se aquilo que vivíamos antes fosse um “velho normal”. Mas não!
O que se vivia era sim um “velho anormal” e assim sendo o que se parece querer desenhar agora é a retoma a uma espécie de um ‘novo anormal” que ninguém parece querer e em que poucos parecem crer! Certezas? Poucas! Incertezas? Todas.