Em semana de Black Friday, João Barreta partilha a sua opinião sobre esta iniciativa: “a seguir às “black friday”, “black weekend” e outros “black mega consumismos”, seguem-se “dias difíceis”, desta vez, bem mais difíceis, quiçá mesmo, “black days”, “black weeks”, “black months”.
E eis-nos chegados àquela época do ano em que no comércio quem dita as regras é quem vende e não quem compra. Poder-se-á perguntar, e não é sempre assim que acontece? Não é sempre a oferta a determinar o comportamento da Procura? Talvez sim, talvez não!
Mesmo que quase como se de uma regra se tratasse, decerto poderíamos deparar-nos com a exceção ou exceções que a confirmariam, pelo que aconselha o bom senso a relegar tal abordagem para um outro plano, numa outra sede, num outro contexto mais propício.
Neste tempo que antecede o mês das compras, lá virão as black friday, as black weekend e outras derivações, por vezes, menos claras, mas sempre … “black”! São compras “sem IVA” ou com descontos no valor do dito imposto que se diz de “valor acrescentado”, “50% em todos os artigos assinalados”, entre outras derivações promocionais que os comércios foram aprendendo, por dever ou obrigação, e aprendendo a promover, por necessidade imperiosa de afirmação de prova de vida no mercado.
O “saber-Comércio” é vasto, aprende-se porque se ensina, ensina-se porque se aprende e, apesar da Oferta viver e sobreviver da Procura, esta vive e sobrevive da Oferta, pelo que se as “vontades” surgem como dado adquirido, pouco mais restará às partes do que “trabalhar os tempos”.
Se de um lado haverá tempos de maior ou menor predisposição para comprar, para consumir, seja por mais ou menos rendimento disponível, seja pela época ou data mais ou menos festiva, do outro lado, o propósito consistirá em mobilizar, sempre e cada vez mais, a(s) procura(s) à sua volta, mais ou menos próxima(s), atraindo-as mais e melhor do que faz(em) a(s) concorrência(s).
Haverá, portanto, que desenganar os que possam julgar que não será a Oferta a decidir o que a Procura compra, onde, quando e quanto irá comprar. Se tal ocorrerá(?), assim, apenas nestes … “black periods”, mais tarde se aferirá. A questão este ano, ainda, tão marcado pelo “DesComércio”, que já não só o que adveio da crise pandémica, residirá no facto de que todas estas “black promotions” antecedem um ano que se antevê bem negro por razões que todos identificamos, mas pouco ou nada conhecemos e, menos ainda, saberemos explicar.
Pandemia ou pós-pandemia, guerra e pós-guerra, inflação crescente após inflação crescente, energia a menos com custo(s) a mais, problemas a mais com medidas a menos, confiança em baixa e alta desconfiança, tudo parece confluir para a inevitabilidade da recessão económica, da depressão psicológica, da crise do Comércio, dos comércios em crise, etc.
A tendência aponta para que o poder de compra não acompanhe, os poderes da venda, apesar da procura continuar sempre a necessitar da oferta e vice-versa. Podendo até não vir a confrontar-nos com uma nova vaga de … “DesComércio”, poderá ficar mais evidente, para todos, que a ilusão de um tal e tão falado, a dado momento, “Novo Normal” não passou de uma … mera desilusão.
E, uma vez mais, é o comércio, que não sendo arte nem ciência, prova que o “Velho (A)Normal” estará de volta, pois a seguir às “black friday”, “black weekend” e outros “black mega consumismos”, seguem-se “dias difíceis”, desta vez, bem mais difíceis, quiçá mesmo, “black days”, “black weeks”, “black months”. E se uma simples “Black Friday” já incomoda(va) muita gente, … o que dizer de um … “ano negro” ou … “Black Year”?
Autor: João Barreta, ex-diretor das Atividades Económicas da Câmara de Lisboa