Gonçalo Ribeiro Telles, o decano da arquitetura paisagística em Portugal e «pai da Plano Verde de Lisboa» morreu aos 98 anos. Antigo presidente do PPM, foi um dos líderes da Aliança Democrática, ao lado de Sá Carneiro e Freitas do Amaral.
Hoje, quinta-feira, é dia de Luto Nacional, decretado pelo Governo. Morreu Gonçalo Ribeiro Telles, o arquiteto que lançou as bases da política ambiental de Portugal e que, enquanto arquiteto paisagista, foi responsável pelos jardins da Fundação Calouste Gulbenkian.
A sua luta pelo ambiente durou mais de 70 anos, um longo caminho em que protagonizou algumas polémicas célebres, como a sua oposição ao cultivo industrial do eucalipto ou, então, à defesa das hortas das cidades. Estas são algumas das «lutas» em que se envolveu e que acabaram por o transformar numa das figuras atualmente mais consensuais da sociedade portuguesa.
Para o Presidente da República, o arquiteto deixa um legado alcançado por poucos, sendo uma figura «respeitada profissional e politicamente por amigos, colegas e adversários, e pelos portugueses em geral».
«Figura determinante na consolidação e alternativa na democracia portuguesa, pioneiro em Portugal das grandes questões que hoje, mais do que nunca, se mostram decisivas, homem de grande serenidade e de grandes convicções, é com emoção e saudade que me despeço de Gonçalo Ribeiro Telles, amigo de longa data, a cuja Família envio sentidas condolências», remata a nota que recorda ainda o percurso de Gonçalo Ribeiro Telles.
Por seu turno, o primeiro-ministro, que anunciou para hoje Dia de Luto Nacional, frisa que o país «tem uma enorme dívida de gratidão, quer no lançamento das bases da política ambiental em Portugal, quer no desenvolvimento de uma consciência ecológica».
Já a Câmara Municipal de Lisboa, pela voz do seu presidente Fernando Medina, lembra que Lisboa, a cidade que viu nascer o arquiteto, todos os dias procura ser mais sustentável e amiga do ambiente, identificando-se com «alguns dos frutos dos trabalhos e utopias» de Gonçalo Ribeiro Telles.
Segundo a Câmara de Lisboa, «Gonçalo Ribeiro Telles foi um homem à frente do seu tempo, um vanguardista. Pensava o território e buscava o difícil equilíbrio entre a paisagem natural e a paisagem transformada. Preconizava uma cidade mais humanizada».
«As hortas urbanas, a permeabilidade dos solos, a luta contra a construção em leito de cheia, foram alguns dos incontáveis combates nos quais se envolveu. Sempre na defesa do (bom) ordenamento do território», defende a autarquia, recordando que a sua marca distintiva também está na Lisboa, Capital Verde da Europa. «Os corredores verdes de Monsanto, de Alcântara e o Periférico, obras que agora são uma realidade, foram há muito também sonhadas por Ribeiro Telles. E foi com redobrado empenho que a Câmara trabalhou para a concretização destes sonhos».
Arquiteto paisagista, autor, em parceria com António Viana Barreto, dos Jardins da Fundação Calouste Gulbenkian, professor universitário, trabalhou também na Câmara Municipal de Lisboa. Deixa um forte legado de pensamento e obra à cidade e ao País. Cabe-nos a todos darmos-lhe continuação.
Parque Urbano da Praça de Espanha vai chamar-se Gonçalo Ribeiro Telles
Entretanto, o presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina, e o vereador José Sá Fernandes, irão apresentar à vereação camarária a proposta para que o Parque Urbano da Praça de Espanha, que neste momento está em obras e que estará concluído no início do ano que vem, tenha o seu nome.
Ali, onde antes dominavam os prédios e as faixas de rodagem, ganham terreno as árvores, os caminhos pedonais, os espaços para descansar e cursos de água.
Era assim a Lisboa que Ribeiro Telles gostava. É assim que Lisboa procura ser. Humanizada e sustentável.
Nascido em Lisboa, mas com fortes ligações a Coruche, de onde a família é originária, Gonçalo Ribeiro Telles começou a sua relação com Lisboa entre a Rua das Pretas e de São José, na casa da família onde ainda hoje mora, num segundo andar sem elevador.
Até há poucos anos, Gonçalo Ribeiro Telles descia a escadaria de madeira e percorria a cidade, utilizando sempre os transportes públicos. Foi professor e fez escola. Foi político e responsável por leis fundamentais de proteção do nosso património, como a Reserva Agrícola Nacional (RAN) e a Reserva Ecológica Nacional (REN).
Aos lisboetas deu os jardins da Fundação Gulbenkian, o corredor verde entre o Parque Eduardo VII e a mata de Monsanto.
foto de Capa: Câmara Municipal de Lisboa | csm__ALA7084