A primeira quinta em Portugal de economia circular que transforma borras de café em cogumelos orgânicos, aliando viabilidade económica à sustentabilidade ecológica, foi hoje, oficialmente, inaugurada em Lisboa, fruto de uma parceria entre a multinacional portuguesa Delta Cafés e a NÃM.
Em plena cidade de Lisboa está a crescer um negócio inspirado num ciclo perfeito da natureza sem produzir qualquer desperdício. É esta a premissa da Nãm Urban Farm e da Delta Cafés: utilizar um recurso em fim de vida, as borras de café, para dar origem a um alimento novo, cogumelos.
De um lado, está a Delta Cafés, multinacional portuguesa, com sede em Campo Maior, Alentejo, especializada na torra e comercialização de café. Do outro, está a NÃM, uma startup criada por Natan Jacquemin, um cidadão belga, que decidiu, em 2018, transformar, todos os meses, 500 kg de borras de café em 100 kg de cogumelos. Um processo, então, levado a cabo numa cave no Largo do Intendente, em Lisboa, um lugar improvável transformado em quinta urbana.
Juntas, empresa e o empreendedor social, criaram a NÃM – Urban Mushroom Farm — e mudaram-se para Marvila, na zona oriental da capital. E, assim, de um antigo stand de automóveis nasceu a primeira quinta de economia circular, em Portugal, onde se produzem cogumelos orgânicos a partir da borra de café, transformando um tradicional desperdício num subproduto alimentar para consumo e reutilização.
Estratégia de sustentabilidade
Por seu turno, Fernando Medina, presidente da Câmara Municipal de Lisboa, «as cidades tem que passar a ser vistas como centros de produção alimentar», sublinhando que «é possível adaptar as cidades», dado que os cidadãos estão cada vez mais conscientes de que é imperativo construir um futuro mais sustentável e a nossa intenção é crescer na implementação de quintas urbanas locais».
Ciclo de produção
Neste espaço, aberto a qualquer visitante, é dada uma nova vida à borra do café para a produção sustentável e consciente de cogumelos que, posteriormente são vendidos à restauração, completando um círculo perfeito.
Neste local em Marvila, onde existe ainda uma horta biológica, nasce também um novo espaço de lazer, um social club, dirigido a todos aqueles que querem desfrutar de um ambiente descontraído, de uma refeição leve e onde podem degustar os cogumelos ou, simplesmente, saborear um café Delta.
A borra do café, misturada com palha, é a base onde crescem cogumelos que diariamente chegam a restaurantes, mercados e lojas da zona de Marvila, mas tudo é fruto essencialmente de uma paixão.
O jovem belga chegou há quatro anos a Lisboa para fazer um mestrado na Universidade Católica em Gestão e Empreendedorismo e por cá ficou, concretizando, há cerca de dois anos, uma parceria com os cafés Delta. Mas foi preciso quase um ano para preparar tudo. A produção começou em agosto e em setembro 2020 foram colhidos os primeiros cogumelos, conta Natan Jacquemin, que quer ver o modelo replicado em mais cidades e vilas, porque matéria prima não falta.
«Os portugueses bebem muito café», diz, para acrescentar: «Calculamos que só em Lisboa são 10 mil toneladas de borras de café que vão para o lixo todos os anos. É pena, porque toda esta borra não é um desperdício na verdade. É exatamente isso que a Delta e a NÃM tentam fazer aqui, transformar este desperdício em valor».
Natan já não anda de porta em porta e a borra que utiliza agora vem de máquinas de ‘vending’ da Delta. A empresa, líder no mercado nacional e que exporta para dezenas de países, já tinha de recolher a borra, agora só tem de a entregar para um projeto «único no país, de usar um desperdício da cidade e transformar em valor».
Depois de germinados os cogumelos, os sacos são colocados em contentores que recriam as condições da primavera, com mais luz e humidade e em seis semanas completa-se o ciclo. De um saco de 10 quilos de borra e alguma palha nascem dois quilos de cogumelos. A quinta tem para já quatro contentores, com capacidade para 300 sacos cada um.