VINHO DE BUCELAS BIOLÓGICO – OS PILARES DA TERRA

Os amigos Paulo Alves e José Meira Afonso, não escondem uma paixão “muito grande” por vinho. Há seis anos levaram esse amor pelo néctar dos deuses mais longe e investiram meio milhão de euros numa quinta abandonada em Bucelas e puseram de pé o sonho das suas vidas.

Criaram a Biogrape, uma nova marca de vinhos que tem a particularidade de produzir somente vinhos biológicos, sem recurso a químicos e que aproveita os ciclos da natureza para produzir um vinho único e de qualidade inigualável.

“Produzimos vinhos que nos orgulham enquanto produtores respeitando o ambiente, cuidando da terra onde temos as nossas vinhas e intervindo o mínimo possível na adega, para dar aos consumidores um produto natural de grande qualidade”, explica Paulo Alves, enquanto dá a provar um “À parte”, um Bucelas branco que já mereceu a aprovação de grandes figuras nacionais da restauração. O chef Hélio Loureiro, por exemplo, degustou o branco e atirou que “é um vinho que faz lembrar o vinho antigo de Bucelas”, explica Paulo Alves, visivelmente orgulhoso.

Também o papa da gastronomia lusitana, o chef Vítor Sobral, se mostrou “entusiasmado” com o branco biológico que “brota” das vinhas da Quinta Casal da Cruz, segundo o produtor.

Quando a produção estiver no mercado (cerca de 25 mil litros), parte dela fará parte dos cardápios dos restaurantes de Vítor Sobral, mas Paulo Alves está convicto que outros nomes de gabarito da restauração portuguesa “escolherão este vinho para acompanhar as suas ementas”, havendo já negociações para que tal seja possível.

De resto, o empresário anota que todo o processo de produção respeita integralmente a uva, que é e deve continuar a ser a prima-dona de toda ação.

“É na vinha que se faz o vinho. O solo, de argila e calcário é adubado com as favas o centeio e a aveia que plantamos na entrelinha. A poda é feita com todo o cuidado e o acompanhamento da vinha é permanentemente. Os corredores ecológicos de loureiros, alfazemas, romãzeiras e medronheiros atraem os insetos auxiliares, como as joaninhas, que nos ajudam a controlar a doenças e as pragas que possam aparecer. No final do Verão, e se a natureza o permitir, lá teremos as nossas uvas douradas, pequenas e sumarentas, prontas a serem colhidas para pequenas caixas e levadas para a adega”.

Respeito pela natureza

Paulo Alves acredita que a aposta na produção de vinhos biológicos “tem tudo para vencer”, até porque há hoje uma demanda por produtos sustentáveis entre os consumidores, que exigem produtos sustentáveis, mas de qualidade extra, como é o caso do vinho da Quinta Casal da Cruz, sustenta o produtor.

“Somos aquilo que comemos e bebemos e por isso devemos respeitar o nosso corpo, fazendo opções que façam sentido para o nosso bem-estar e para o equilíbrio no planeta. Acreditamos que a terra nos devolve tudo o que que lhe damos e por isso devemos usá-la com respeito. Só assim é possível produzir produtos de qualidade superior. Por tudo isto acreditamos que o futuro da agricultura passa por voltar ao passado e por manter uma relação diferente com a terra que é o suporte de tudo o que produzimos”.

Criação de valor

O empresário assume que as condições “únicas” da sua quinta, que tem um poderoso e enigmático monte verde a servir de tampão de proteção das vinhas, jogam um papel preponderante no resultado final, isto é, num terroir ímpar, que já mereceu até a visita de uma comitiva de peritos franceses de enologia e de solos vinícolas.

Olhando para o futuro, Paulo Alves mostra-se entusiasmado e com crença “em muitos sucessos”, uma vez que o vinho bio produzido na sua quinta “vai deixar uma marca” no mundo da viticultura de Bucelas. E, quem sabe, catapultar a “marca” Bucelas para outros patamares de excelência, pois os vinhos de Bucelas são reconhecidamente de grande qualidade, mas falta ainda lutar por “um posicionamento”, a “criação de valor” que eleve o vinho de Bucelas para voos mais altos. Aponta para os mercados da restauração de qualidade, até porque os preços têm de fazer jus à qualidade do produto, para o mercado online (onde o produtor vende diretamente ao consumidor) e às “boas garrafeiras que já existem em Lisboa”.

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