As recentes eleições autárquicas ditaram, para muitos, uma surpreendente viragem política na cidade.
As sondagens apontavam para uma confortável vantagem da Coligação Mais Lisboa de Fernando Medina sobre a Coligação Novos Tempos liderada por Carlos Moedas. A esquerda acomodada ao poder local exibia-se segura da reeleição e houve até quem, mais à direita, festejasse antes de tempo a eleição do seu primeiro vereador.
Mas, na noite eleitoral, não foi assim.
Só quem não conhece a cidade e o seu genoma poderia acreditar que Lisboa estava no caminho certo tão aclamado pela maioria de esquerda no executivo municipal.
É que a Lisboa não basta estar mais bonita! Faltou ao edil camarário, nomeadamente desde 2013, tacto para os alfacinhas.
A ineficaz regulação da turistificação da cidade, e a consequente gentrificação, afastou dos bairros históricos as suas gentes. Quem vive no coração da tradição popular teve que abandonar o seu berço e estabelecer-se noutros pontos da cidade e, até mesmo, ir residir para outras localidades.
As políticas radicais na mobilidade criaram conflitos entre automobilistas e ciclistas bem como entre os peões e os utilizadores de trotinetes.
A exacerbada fiscalização da EMEL, a redução do estacionamento nos principais eixos viários e o incremento de mais zonas ZEDL aumentaram o sentimento de ataque ao automobilista.
Nos últimos 4 anos faltou investimento na cultura, no desporto, nas associações e nos clubes. Hoje temos uma comunidade desligada do associativismo recreativo, desportivo e cultural porque esse foi abandonado à sua sorte.
Lisboa foi capital europeia do desporto em 2021 e capital europeia verde em 2020 sem qualquer carisma.
Em 2017 prometeram creches e centros de saúde que não estão abertos. Prometeram 6 mil casas de renda acessível que ainda não existem. A habitação municipal ainda é praticamente inacessível para a classe média.
Faltou a Fernando Medina tacto. Faltou ao edil camarário a humildade para ler os sinais de descontentamento dos lisboetas. Faltou a humildade para ouvir e aceitar propostas da oposição.
Durante os 14 anos de governo socialista da cidade, foram inúmeras as notícias ruidosas sobre projectos urbanísticos. Por fim, a falta de sigilo com os dados pessoais de manifestantes.
Em algumas freguesias houve quem pecou na vaidade. Os eleitores castigaram-nos.
É o fim de um longo ciclo de 14 anos!
Mas o que é que podemos esperar destes Novos Tempos?
Principalmente um Presidente da Câmara Municipal de Lisboa junto das pessoas, um homem de rua e do terreno. Carlos Moedas ouvirá quem o interpele, visitará todos os lugares.
Tentará ganhar a confiança de todos os departamentos municipais, divisões e seus trabalhadores, pois sabe que uma máquina motivada é essencial para a prossecução do interesse público municipal.
Não sou eu que o digo, foi Carlos Moedas que o disse por diversas vezes. Palmilhei a seu lado a cidade nesta campanha eleitoral. Acreditem, ele é um homem muito motivado e focado no bem fazer.
Para Carlos Moedas não ter a maioria no Executivo e na Assembleia Municipal não será impeditivo para concretizar o seu programa. É um homem de diálogo e de consensos.
Lisboa será a cidade do turismo, da ciência e da inovação, das empresas e da economia. A cidade do desporto e da cultura. Do ciclista, do automobilista e do utente do transporte público. A cidade inclusiva para quem cresce, vive e envelhece.
O desafio mais auspicioso será, contudo, conseguir devolver a confiança aos lisboetas.
A confiança perdida não porque os alfacinhas contemplam uma cidade mais alindada, mas porque Lisboa ganhou mais desigualdades.
Uma cidade que no confie no seu Presidente e na sua equipa.
No fim de contas foi esse desafio que lhe deu a vitória. Assim seja.
Pedro Jesus
(autarca no Areeiro eleito pelo PSD/Coligação Novos Tempos)
Escreve ao abrigo do anterior acordo ortográfico.
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