Com a substituição de Fernando Medina por Carlos Moedas, o Governo passa a enfrentar oposição aos planos para a linha circular do metro. Ontem, 17 de novembro, uma moção do PCP, aprovada com os votos a favor dos eleitos pela coligação “Novos Tempos”, do PCP e do BE, e com os votos contra dos eleitos pela coligação “Mais Lisboa” (PS/Livre), pede a «reavaliação imediata de todo o processo relativo à linha circular»
Câmara Municipal de Lisboa aprovou esta quarta-feira uma moção do PCP que manifesta «viva oposição» à linha circular do Metropolitano e insta o Governo à «reavaliação imediata» do projeto, desistindo inclusive da obra dos viadutos do Campo Grande. Mas, o ministro do Ambiente, João Matos Fernandes, já veio a público afirmar que a suspensão da linha circular neste momento é «completamente extemporânea» e, apesar de mostrar «muita vontade» em reunir com o município, assegura que não volta atrás na decisão.
«A obra continuará evidentemente, tem estudo de impacto ambiental aprovado, não é o que o homem quiser é aquilo que ali está depois de anos e anos de trabalho. Está há meses em obras e foram feitos todos os estudos para se perceber qual era a linha mais urgente a ser feita», frisou.
A iniciativa do PCP, que visa suspender o projeto da linha circular do Metropolitano, foi aprovada com os votos a favor dos eleitos pela coligação “Novos Tempos” (PSD/CDS-PP/MPT/PPM/Aliança), do PCP e do BE, e com os votos contra dos eleitos pela coligação “Mais Lisboa” (PS/Livre), que apenas votaram favoravelmente a definição de prioridades na expansão da rede.
O vereador do PCP João Ferreira explica que a moção aprovada pelo executivo visa «manifestar a sua viva oposição à concretização do projeto da linha circular e instar o Governo a determinar ao Metropolitano de Lisboa a reavaliação imediata de todo o processo relativo à construção da Linha Circular, incluindo a instrução ao Metropolitano de Lisboa para não assinar a consignação da obra dos viadutos do Campo Grande», uma das fases mais importantes da linha circular, marcada para esta semana, e que o ministro Matos Fernandes também recusa. «Obrigaria a indemnização muito significativa ao empreiteiro, não tem sentido esse pedido», contrapõem o ministro do Ambiente.
Além disso, o executivo municipal decidiu – com os votos contra dos eleitos pela coligação PS/Livre, à exceção do vereador do Livre, Rui Tavares, que se absteve neste ponto – «solicitar ao Governo uma articulação urgente com a Câmara Municipal de Lisboa, para identificar as prioridades que devem ser estabelecidas para a rede do Metro, reavaliando o impacto da suspensão imediata das obras da linha circular, refazendo projetos e fazendo os estudos de impacto financeiro».
Por unanimidade, a Câmara de Lisboa aprovou ainda «definir como prioridades a expansão da rede do Metro: a Alcântara e à zona ocidental de Lisboa; a ligação a Loures, através da Linha Amarela; e a ligação a Benfica através da Linha Verde, via Telheiras».
Apresentada pelos dois vereadores do PCP que integram o atual executivo de Lisboa, João Ferreira e Ana Jara, a moção foi discutida e aprovada na reunião privada de câmara, que se realizou hoje de manhã.
Consensos alargados
No final da reunião, João Ferreira disse que há «um consenso já relativamente alargado quanto à oposição à linha circular», que envolve as populações que vão ser afetadas e os técnicos e especialistas na área da mobilidade «que se manifestaram contra este projeto, não apenas pelos prejuízos que dele resultam diretamente, mas também porque na prática ele está a adiar investimentos na expansão da rede do Metro, que são esses sim, ao contrário deste, necessários e prioritários».
O vereador PCP lembrou ainda as deliberações da Assembleia da República para suspender a linha circular, em que «o Governo acabou por não acatar e de uma forma obstinada, um pouco contra tudo e contra todos, decidiu ir em frente com este projeto», com o apoio do anterior executivo municipal de Lisboa, sob a presidência do socialista Fernando Medina.
Com a alteração da composição do executivo, na sequência das eleições autárquicas de 26 de setembro, em que o social-democrata Carlos Moedas venceu a presidência da Câmara de Lisboa, «há uma mudança qualitativa fundamental que permite ao município assumir uma posição pública e junto do Governo de recusa deste projeto e de defesa da necessidade de uma reavaliação de prioridades», defendeu João Ferreira, considerando que seria “incompreensível” persistir na concretização da linha circular do Metropolitano.
Carlos Moedas e PCP de acordo
Esta moção do PCP permite a Carlos Moedas retomar uma das suas principais bandeiras da sua campanha para as eleições autárquicas: transformar a linha circular do Metropolitano e a futura Linha Amarela numa linha única “em laço” (Odivelas, Campo Grande, Rato, Cais do Sodré, Alameda, Campo Grande, Telheiras), para manter as ligações diretas (sem transbordo) de Odivelas, norte de Lisboa e Telheiras ao centro da cidade.
Para Carlos Moedas, o projeto da linha circular do Metropolitano de Lisboa «é um erro, está longe de ser a melhor opção para servir a cidade, deve ser seriamente ponderada a alteração de algumas das propostas e em muitos casos corrigir mesmo para melhores soluções que sirvam os lisboetas e quem se desloca e trabalha na cidade», declarando-se «satisfeito com a aprovação desta moção contra a linha circular do Metro, porque reforça o que tenho referido sempre sobre esta opção».
«Como já tenho referido e é bom que fique claro: eu não defendo que seja tudo mudado, que suspendam todas as obras que já estão em curso, o que eu defendo é que estamos no meio do caminho e é crucial resolver a questão dos problemas de transbordo no Campo Grande, que afeta milhares de pessoas que vivem em Odivelas e Telheiras e que a manter esta linha circular deixarão de ter acesso direto ao centro da cidade, obrigados a um transbordo e a tudo o que isso implica», declarou o recém eleito presidente da Câmara de Lisboa.
«Tenho defendido a opção em laço que me parece a melhor solução e que é aplicada também noutras capitais europeias. Ainda vamos a tempo de corrigir a situação. Estou disponível e acredito que com o empenho e a racionalidade do Governo e do Metro podemos chegar a uma muito melhor solução para Lisboa, que sirva toda a população que vive, trabalha e visita a nossa cidade», defende o autarca.