O Presidente da República saudou esta quinta-feira o Dia da Restauração, “em que valorosos guerreiros nos deram livre a Nação”, considerando-o um dia importante e significativo da História de Portugal. Já Carlos Moedas, presidente da Câmara de Lisboa, fez questão de salientar que “Lisboa continua a caminhar com os portugueses: assim foi na crise dinástica de 1383; assim foi no 1º de Dezembro de 1640; assim foi no 25 de Abril de 1974 e assim foi no 25 de Novembro de 1975”.
O Presidente da República lembrou e agradeceu esta quinta-feira, Dia da Restauração da Independência, aos portugueses de etnia cigana que “deram a vida” pela independência nacional em 1640 e lamentou o “esquecimento” e a “discriminação” de que têm sido alvo em Portugal, defendendo que “foi nesse dia de 1640 que “o Povo Português recuperou a sua independência, num movimento no qual, com os conjurados de 40, muitos se implicaram, descontentes com a situação do País, aquém e além-mar, e com as suas condições de vida”.
Nas comemorações desta manhã, que contaram com uma homenagem aos heróis da restauração da independência, discursaram a ministra da Defesa, Helena Carreiras. Também o Presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, esteve presente.
“Ao lembrar tantos portugueses, de tantas origens, que se envolveram no movimento revolucionário, o Presidente da República quer lembrar também os portugueses de etnia cigana que, como reconheceu então o próprio Rei D. João IV, deram a vida pela nossa independência nacional”, escreveu Marcelo Rebelo de Sousa, numa mensagem evocativa do 1º. de Dezembro no site da Presidência da República.
Na mensagem em que saúda o dia “em que valorosos guerreiros nos deram livre a Nação”, o chefe de Estado destaca o “cavaleiro fidalgo” Jerónimo da Costa e “muitos dos duzentos e cinquenta outros ciganos que serviram nas fronteiras e tombaram por Portugal”.
“Portugal lembra-os, presta-lhes homenagem e exprime a sua gratidão. Este dever de memória é de elementar justiça e rompe com tanto esquecimento e discriminação de que os ciganos têm, infelizmente, sido alvo no nosso país”, afirma.
O Presidente da República, que presidiu à sessão evocativa do Dia da Restauração, na Praça dos Restauradores, em Lisboa, sublinhou ainda na mensagem o 1.º de Dezembro como “um dia importante e significativo da História de Portugal, em que o povo português recuperou a sua independência, num movimento no qual, com os conjurados de 40, muitos se implicaram, descontentes com a situação do país, aquém e além-mar, e com as suas condições de vida”.
Estas declarações de Marcelo Rebelo de Sousa surgem apenas dois meses depois de o Presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, ter repreendido o presidente do Chega, André Ventura, por “discursos injuriosos” contra a comunidade cigana no Parlamento, na sequência de uma intervenção em que defendeu que as pessoas ciganas gozam de uma “impunidade brutal” em Portugal. Isto, já depois de o líder do partido ter sido chamado à atenção por Santos Silva, em abril, no Dia Internacional das Pessoas Ciganas, por ter afirmado, entre outras declarações, que as minorias são “apaparicadas”, uma posição agora contrariada pelo chefe de Estado.
Carlos Moedas critica classe politica
Por seu turno, o presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, fez questão de salientar: “são 382 anos do dia em que se restaurou a liberdade nacional. Numa proclamação que não foi feita sem consequências, mas que foi concretizada com o sangue e o suor de tantos heróis portugueses, num conflito que se prolongou até 1668. E que mostrou que não há liberdade sem coragem”.
O autarca, que recordou a resistência ucraniana à invasão russa, teceu críticas à classe politica portuguesa, que “não se pode fechar sobre si mesma ou crer-se imune à critica”, porque a grande lição do 1º de Dezembro “é que a classe política tem de dar o exemplo de devoção pelo bem comum e de capacidade de liderança, protegendo as instituições com visão e ambição e ouvindo todos”.
Na perspetiva do autarca lisboeta, “a memória do 1º de Dezembro exige-nos que tenhamos uma política centrada nas pessoas, que nos prepare para a transição energética e com ela nos traga um futuro de crescimento”.
Assumindo-se como municipalista, Carlos Moedas defendeu que não se pode ter um país onde um idoso não consiga ter acesso a um médico, e se o “Estado central não consegue garantir este acesso, ele tem de ser garantido pelos municípios, que não devem hesitar em construir um Estado Social Local”.
“E devem fazê-lo, acrescenta, sem dividir artificialmente a sociedade entre o setor público e o privado, mas mobilizando todos, pois uma política centrada nas pessoas abre o horizonte das soluções – não o fecha”.
Uma política centrada nas pessoas significa também uma política que “nos leva para uma transição energética sem imposições e ativismos que são inconsequentes” e que acompanha a vida das pessoas, e não uma transição que seja feita contra a vida das pessoas, com transportes públicos gratuitos (hoje 60.000 pessoas não pagam transportes na nossa cidade).
Do ponto de vista de Carlos Moedas, uma política centrada nas pessoas significa ainda “uma política que aposte no crescimento que o nosso país tão urgentemente precisa e que para obter esse crescimento aposte: nos cidadãos, nas suas qualificações e na sua liberdade para investir e trabalhar num quadro institucional estável e de regras claras e transparentes”, que “faça de Portugal uma plataforma competitiva de onde todos, portugueses e residentes estrangeiros, possam lançar para o mundo as melhores ideias”.
De forma a que Lisboa volte a ser a capital da inovação da Europa.
António Costa repôs feriado
Por sua vez, o primeiro-ministro, António Costa, que não pôde comparecer por motivos de saúde, homenageou a “memória dos que lutaram e contribuíram” para a restauração da independência de Portugal, numa mensagem na sua conta oficial do Twitter, em que apelou à celebração da “soberania” e da “força da bandeira nacional”.
“Celebramos hoje a Restauração da Independência de Portugal, uma data que evoca a afirmação da nossa nação e da nossa soberania. Homenageamos a memória dos que lutaram e contribuíram para essa conquista”, escreveu António Costa.
O líder do executivo salientou também que a reposição do 1º. de Dezembro enquanto feriado, que foi cortado durante o Governo do PSD/CDS, “é uma das medidas de que mais” se orgulha de “ter tomado enquanto primeiro-ministro”.
O dia 1 de dezembro assinala o golpe revolucionário de 1640 que acabou com o domínio da dinastia Filipina sobre Portugal, retirando o país da alçada espanhola e colocando no trono D. João IV.
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Fotos: Arquivo OL 2018