O Bairro da Madragoa, na freguesia da Estrela, é um dos bairros típicos da capital. É também um dos bairros mais antigos de Lisboa, e, em tempos, foi lugar de varinas e pescadores. Contudo, noutros tempos mais remotos, foi ainda lugar de conventos e palácios.
Alguns exemplos são os antigos Conventos das Bernardas, Trinas e Inglesinhos, que hoje têm usos distintos. O primeiro, na Rua da Esperança, recebe atualmente o Museu da Marioneta, gerido pela Câmara de Lisboa/EGEAC.
Este local foi construído em 1651, 150 anos após a criação do bairro da Madragoa, e concluído em 1708. Em 1755, ficou danificado devido ao terramoto que assolou a cidade. Por isso, teve de ser reconstruído, obrigando as religiosas a irem temporariamente para outros conventos.
Até ao século XIX, este convento foi ocupado por freiras até à extinção das Ordens Religiosas. Por outro lado, no século XIX, o espaço passou a ser um colégio privado. Já no início do século XX, passou a ser um cineteatro, o Cine Esperança, inaugurado em 1924.
Foi aqui que, em 1926, se estreou a fadista Hermínia Silva. Ao mesmo tempo, foi também palco dos primeiros ensaios das Marchas Populares de Lisboa, em 1932. Nos anos 50, passou a ser uma oficina, até entrar em estado de degradação. Desta forma, a Câmara Municipal de Lisboa comprou o espaço, onde realizou obras de reabilitação. Aqui, instalou o Museu da Marioneta, um restaurante, e ainda o Esperança Atlético Clube, uma das principais coletividades da Madragoa.
Convento das Trinas
Já na Rua das Trinas, um pouco mais acima, encontra-se o antigo Convento das Trinas, atualmente o Instituto Hidrográfico. Este edifício foi construído a partir de um aglomerado de pequenas casas que foram aumentadas e foi habitado pelas trinas. Por sua vez, estas eram uma congregação religiosa que tinha como objetivo angariar dinheiro para proceder ao resgate dos fiéis cristãos.
De seguida, passou a ser ocupado pelas religiosas da Ordem das Franciscanas Hospitaleiras da Imaculada Conceição, a partir de 1878, que ali ficaram até à implantação da República, em 1910. Posteriormente, o edifício já foi um hospital provisório, arquivo de identificação, arquivo do Ministério das Finanças, e ainda um tribunal.
Atualmente, e desde 1969, acolhe o Instituto Hidrográfico, gerido pela Marinha Portuguesa. Neste sentido, o seu objetivo é a investigação e estudo do mar, cujo trabalho é aplicado na área militar. Aqui, ainda é possível encontrar alguns elementos originais do edifício, tais como a cozinha maior ou o lavatório, datados do século XVIII.
Convento das Inglesinhas
O edifício onde hoje está situado o Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG), na Rua do Quelhas, albergou durante quase três séculos o Convento de Santa Brígida, mais conhecido como Convento das Inglesinhas. Ou seja, esta designação deve-se ao facto de as religiosas serem todas de nacionalidade inglesa. A 30 de maio de 1834 foi decretada a extinção das ordens religiosas em Portugal, o que levou ao fim de muitos conventos.
No entanto, e no caso do Convento das Inglesinhas, estas freiras, como eram abrangidas por uma ordem britânica, não foram afetadas com esta extinção. Por isso, permaneceram em Lisboa até 1861. Nesse ano, as doze freiras que ainda lá viviam venderam os bens da Ordem e regressam à Grã-Bretanha.
Mais tarde, em 1864, o edifício da Rua das Inglesinhas é adquirido pelos Jesuítas. Estes instalaram ali o Colégio de Jesus, que funcionou até à implantação da República, em 1910. Por sua vez, já no século XX, o edifício ganha uma nova utilização. Desde aí, já recebeu três pequenos museus, as instalações da Emissora Nacional e o Instituto Superior do Comércio (atual ISEG).
Havia mais de 70 casas religiosas em Lisboa no século XIX
Estes três conventos pertenciam a um conjunto de mais de 70 casas religiosas de Lisboa. Mosteiros, conventos, hospícios e outros espaços religiosos caracterizavam a paisagem urbana de Lisboa. Por fim, com a extinção das ordem religiosas, em 1834, estes edifícios ganharam novos usos, acompanhando a evolução da cidade até aos dias de hoje.