INCÊNDIO NO CHIADO FOI HÁ 35 ANOS

Foi a 25 de agosto de 1988 que assolou uma das maiores tragédias da história da cidade de Lisboa. Para assinalar a efeméride, naquele que é o Dia Municipal do Bombeiro, a Câmara Municipal de Lisboa (CML) homenageou, esta sexta-feira, dia 25 de agosto, todos aqueles que ajudaram a combater as chamas, num cenário, conforme considerou o vereador Ângelo Pereira, responsável pelo pelouro da Proteção Civil, com muito menos recursos do que atualmente.

A cerimónia contou ainda com a presença de todas as corporações de Bombeiros Voluntários da cidade, e começou com a colocação de uma coroa de flores em memória dos que combateram e dos que faleceram em 1988 na sequência do incêndio no Chiado. Ângelo Pereira começou a sua intervenção a agradecer a todos os presentes, entre os quais responsáveis da Liga dos Bombeiros Portugueses, Regimento de Sapadores Bombeiros de Lisboa, entre outros.

“Hoje é Dia Municipal do Bombeiro, um dia que muito simbolicamente se celebra de ano a ano, mas também diariamente no terreno, através do empenho e dedicação” de todos os operacionais, começou por afirmar o vereador. Na sua visão, é ainda “dever” da autarquia “prestar homenagem a quem arrisca a sua vida a salvar os outros”. Por sua vez, Ângelo Pereira recordou o incêndio no Chiado como “das piores catástrofes de Lisboa”, e ressalvou que “muito mudou” desde então.

CML quer continuar a investir na Proteção Civil, garante Ângelo Pereira

Neste sentido, o autarca falou dos investimentos realizados pela autarquia nos últimos anos, precisamente para garantir, com eficácia, o socorro na cidade. Aqui, o vereador lembrou ainda “o reforço” em meios humanos e materiais por causa da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), que foi essencial não só para garantir uma resposta eficaz durante o evento, mas também para ficar para o futuro da cidade.

“Foi um evento sem acidentes de maior, muito graças à Proteção Civil”, frisou. No entanto, reconhece ainda que ainda “há um longo caminho pela frente e arestas a serem limadas”. Por isso, considera que é importante continuar a investir em meios, para que os Bombeiros consigam “operar não só em Lisboa, mas também no país e no resto do mundo”. Aqui, o autarca lembrou os 15 operacionais do RSB que, em fevereiro deste ano, estiveram na Turquia, na sequência de um sismo que assolou o país. Foi aqui que estes operacionais salvaram, com vida, uma criança de 10 anos.

Grandes mudanças nos últimos 35 anos

“É uma prova de que estamos capacitados e preparados para sermos cada vez mais rápidos na resposta”, acrescentou Ângelo Pereira. Contudo, o autarca reconheceu que o cenário era bastante diferente há 35 anos. “Na tragédia do Chiado, a insuficiência de meios foi evidente. Hoje estamos a assistir a uma mudança de paradigma”, reforçou. Este incêndio, recorde-se, destruiu os icónicos Armazéns Grandella e ainda os Armazéns do Chiado. Em simultâneo, o fogo atingiu mais 18 edifícios, alguns deles históricos. No total, registaram-se mais de 50 feridos e duas vítimas mortais, uma delas um bombeiro.

No entanto, e apesar da escassez de recursos, entre os quais viaturas e meios de proteção individual, o vereador da Proteção Civil reforçou que os soldados da paz “estiveram lá e aqui ficaram nos meses seguintes”, a tentar salvar alguma coisa dos escombros. “Muito mudou desde aí, desde a organização do teatro de operações, aos postos de comando e dos próprios meios”, sublinhou ainda Ângelo Pereira. Por fim, o vereador lembrou que, recentemente, a CML investiu em equipamentos para substituir os que estavam obsoletos. O objetivo é “dar mais dignidade” a estes operacionais.

CML já investiu mais de cinco milhões de euros a capacitar os bombeiros

Recorde-se que, até ao momento, a CML já investiu cerca de cinco milhões de euros em meios para os Bombeiros Sapadores de Lisboa. Estes foram equipados com diverso material de apoio logístico, de combate a incêndios, ambulâncias e drones. Ao mesmo tempo, foram ainda adquiridos nove motociclos, bem como equipamentos de proteção individual e de desencarceramento, desfibrilhadores, rádios, entre outros. Alguns destes veículos estavam em exibição nesta cerimónia, tais como um veículo escada e uma mota de socorro.

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Ao Olhares de Lisboa, Ângelo Pereira destacou que, “nos últimos dois anos, foram feitos os maiores investimentos nos equipamentos e também nos recursos humanos dos nossos bombeiros”. Ao mesmo tempo, o autarca salienta ainda que “é importante continuar este investimento para que seja possível proteger e socorrer a nossa cidade da melhor forma possível. Finalmente, o vereador faz um “balanço positivo” destes investimentos, reforçando que “os corpos de bombeiros estão satisfeitos. Os meios vão ao encontro dos pedidos que têm sido feitos pelo comando”, referiu.

O primeiro a chegar ao incêndio

Por sua vez, Fernando Corrêa dos Santos, antigo repórter fotográfico do vespertino Diário Popular, foi o primeiro a chegar ao local do incêndio. O fotojornalista, com mais de 70 anos de carreira, vive no Chiado – onde também vivia na altura do incêndio -, contou ao Olhares de Lisboa que, naquela madrugada “estava deitado. Tive um feeling (pressentimento), fui à janela e vi umas fagulhas. Peguei na máquina e nos rolos e vim para a rua começar a disparar”. Daquele dia, recorda-se de assistir ao fogo a alastrar-se pelos Armazéns Grandella, mas que não conseguiu fotografar mais de perto “porque não me deixaram”.

“Era um grande braseiro”, recordou Corrêa dos Santos, de 89 anos. Após captar as primeiras imagens do incêndio, o fotojornalista correu para a redação do Diário Popular para revelar as fotografias. “Estava no laboratório, com um rádio a pilhas, a ouvir a evolução do incêndio. [Na altura] estava já a chegar às antigas instalações da Rádio Renascença, que eram perto da minha casa”, recordou. No entanto, o profissional não foi a casa, para “tentar salvar recordações”, e continuou a fazer o seu trabalho.

Durante o dia, continuou a recolher mais imagens no local do incêndio. Muitas destas imagens saíram na edição daquele dia do Diário Popular – jornal onde trabalhou mais de 20 anos até ao seu fecho, em 1991. Para Corrêa dos Santos, o dia 25 de agosto de 1988 foi “uma grande tragédia” para a cidade. Nesta sexta-feira, 35 anos depois do incêndio, aproveitou para mostrar alguns desses registos ao vereador Ângelo Pereira, bem como a outros curiosos.

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