MARIA ALICE FERNANDES APRESENTOU ‘MEMÓRIAS DE UMA MULHER CABO-VERDIANA’

Maria Alice Fernandes apresentou, esta quarta-feira, dia 18 de outubro, a obra ‘Memórias de Uma Mulher Cabo-Verdiana’, que reúne vários textos e desenhos que foi criando ao longo dos anos. O lançamento teve lugar no Auditório José de Castro, em Paço de Arcos e reuniu vários familiares e amigos de Maria Alice Fernandes, uma figura acarinhada e estimada na comunidade de Paço de Arcos.

O livro é editado pela Câmara Municipal de Oeiras (CMO) e tem seis capítulos, que falam desde a imigração, as memórias de infância, bem como a chegada a Portugal. Maria Alice Fernandes nasceu em Cabo Verde em 1939 e chegou a Paço de Arcos em 1977, em busca de uma vida melhor. “Primeiro veio o meu marido, em 1971, e depois vim eu com os meus filhos”, contou ao Olhar Oeiras a autora, residente em Paço de Arcos há 47 anos.

Antes de chegar a Portugal, Maria Alice Fernandes trabalhou como monitora escolar em São Domingos (Ilha de Santiago). Mais tarde, já no nosso país, trabalhou “em vários lares da terceira idade” e ainda como empregada doméstica. Pelo meio, foi mãe de oito filhos e cuidou ainda de outras tantas crianças vulneráveis. Por isso, é considerada “uma mãe de coração”. “As crianças chamavam-me ‘Mãe Preta'”, lembra Maria Alice, com carinho.

Uma vida de dificuldades

Maria Alice Fernandes é considerada uma lutadora e confessa que criar oito filhos “não foi nada fácil”. No entanto, e apesar dos sacríficios, é com orgulho que diz que conseguiu ter “quatro filhas formadas”. Alguns dos seus descendentes seguiram o exemplo da mãe e encontram-se, atualmente, a viver fora de Portugal. Na apresentação, estiveram presentes alguns familiares de Maria Alice, incluíndo dois dos seus oito filhos. Uma delas é Teresa Fernandes, mais conhecida como ‘Teresinha’, que vê a mãe como “uma inspiração”.

“Vim para cá com sete anos e nessa altura, havia muita discriminação. A minha mãe sempre tentou quebrar esse estigma e mostrar o que a comunidade cabo-verdiana tinha de bom”, recorda ao Olhar Oeiras. Tal como a mãe, Teresinha – enfermeira de profissão -, gosta de desenhar nos tempos livres.

Outro dos filhos, o músico Gaby (Gabriel) Fernandes – antigo membro da banda ‘Irmãos Verdade’ -, conta que também gosta de pintar e fazer esculturas. “A minha influência artística vem da minha mãe”, acrescenta. Sobre a mãe, Gaby vê-a como uma “grande guerreira e uma defensora da mulher e da nossas raízes”, revelando que foi graças a ela que “conseguimos ser bem acolhidos no Alto da Loba”.

Paixão pela pintura vem desde pequena

A pintura e a escrita foram, desde sempre, as grandes paixões de Maria Alice Fernandes, que se dedicou às artes nos tempos livres. “Quando era pequenina, levei muitas palmadas porque usava o carvão para desenhar. Mais tarde, o meu pai apresentou-me a um senhor que era pintor e ele falou com os meus pais. A partir daí, nunca mais me bateram”, recordou a artista, que chegou a ter alguns trabalhos expostos no Casino Estoril, entre 1985 e 2005, e tem outros tantos expostos em museus espanhóis e portugueses.

Na apresentação de ‘Memórias de Uma Mulher Cabo-Verdiana’, o seu segundo livro editado pela Câmara Municipal de Oeiras, Maria Alice Fernandes agradeceu à autarquia, pela aposta na cultura e pelo seu “empenho em dar uma melhor qualidade de vida aos munícipes. Esta aposta permitiu as pessoas ambicionar mais e melhor”. Por outro lado, dedicou também a obra ao Centro Comunitário do Alto da Loba e às “forças vivas” de Paço de Arcos.

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Valorização da diáspora cabo-verdiana

Por sua vez, esteve também presente, neste lançamento, o Embaixador de Cabo Verde, Eurico Monteiro, que lembrou o importante papel da diáspora cabo-verdiana na preservação das tradições e promoção da cultura de Cabo Verde, em todo o mundo.

Por outro lado, a vereadora com o pelouro da Responsabilidade Social e Desenvolvimento Social da CMO, Teresa Bacelar, referiu que “a autarquia tem de agradecer por tudo o que a D. Alice fez na comunidade, porque foi uma interventora social”. A autarca lembrou ainda o importante papel da comunidade cabo-verdiana no desenvolvimento do território de Oeiras. “O concelho tem 117 nacionalidades e esta comunidade ajudou muito no nosso desenvolvimento”, referiu.

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