O presidente da Câmara Municipal de Lisboa (CML), Carlos Moedas, visitou, esta quarta-feira, 4 de outubro, as obras do Plano Geral de Drenagem de Lisboa (PGDL). Para já, estão a ser colocados no terreno a cabeça e o corpo da tuneladora, que vai começar a escavar o primeiro túnel, entre Monsanto e Santa Apolónia, em novembro.
Carlos Moedas, acompanhado pela vereadora Filipa Roseta e do engenheiro José Silva Ferreira, coordenador do PGDL, explicou que existirão dois túneis. Desta forma, um irá desde Monsanto até Santa Apolónia e terá cinco quilómetros. Já o segundo conta com cerca de um quilómetro e segue desde Chelas até ao Beato. O diâmetro de cada túnel, acrescentou Moedas, será de 5,5 metros. Por sua vez, a profundidade de cada um será de 70 metros abaixo do solo. “Será uma obra única e invisível”, sublinhou o autarca, lembrando, que estes túneis irão reduzir o risco de cheias na cidade de Lisboa.
Nesta quarta-feira, foram colocadas a cabeça e o corpo da tuneladora H2O, na zona de Campolide. Atualmente, o equipamento está posicionado a 25 metros de profundidade, naquele que será o ponto de partida para o início da escavação. Desta forma, os dois túneis serão responsáveis por receber e conduzir as águas pluviais até ao Rio Tejo. Estas águas são recolhidas através de diversas bacias de retenção, entrando, posteriormente, numa estrutura que vai encaminhá-las para um dos dois túneis principais, em direção ao Rio Tejo.
Por outro lado, foi ainda explicado, na mesma apresentação, que a cidade de Lisboa foi construída sobre leitos de rio, o que contribui para as inundações. “Quando chove muito, a água sobe e começam a surgir inundações nas zonas mais baixas”, explicou José Silva Ferreira. Desta forma, e paralelamente aos dois túneis, o PGDL prevê também a instalação de túneis mais reduzidos. Estes, por sua vez, encaminham as águas para os dois túneis principais. Por outro lado, existirá também um reservatório de água com 17 mil metros cúbicos, e ainda várias bacias anti-poluição, responsáveis por filtrar os resíduos das águas pluviais.
Água captada será reutilizada
Estas bacias serão responsáveis por captar e armazenar as primeiras águas da chuva, consideradas como as mais poluídas. De seguida, são conduzidas até às Estações de Tratamento de Águas Residuais (ETAR), no sentido inverso ao da drenagem. Por sua vez, a água reciclada será armazenada em depósitos independentes, inseridas dentro destas bacias antipoluição. Estes depósitos vão depois alimentar os marcos de água reciclada, de cor roxa, e que se distinguem dos conhecidos hidrantes vermelhos. Assim, estas águas pluviais podem ser utilizadas na lavagem de pavimentos, regas e incêndios.
Isto já acontece, por exemplo, no Parque das Nações, onde as águas reaproveitadas da Fábrica de Água de Beirolas, denominadas Água +’, são usadas para regar espaços verdes. Os dois túneis têm um custo a rondar os 130 milhões de euros. O primeiro a ser construído será o de Santa Apolónia. Finalmente, quando este estiver concluído, parte da tuneladora será desmontada e vai ser transportada pela Avenida Infante Dom Henrique. Daqui, seguirá para Chelas, para começar a segunda perfuração. Cada um dos dois túneis tem um diâmetro de 5,5 metros.
Contudo, eles alargam à chegada ao Rio Tejo. Deste modo, pretende-se “reduzir a velocidade da água e esta não entrar à bruta no rio”, explicou o coordenador do PGDL, José Silva Ferreira. Em Santa Apolónia, o final do túnel terá um diâmetro de 30 metros, exemplificou. De acordo com o responsável, com estes equipamentos, “inundações em Alcântara e no centro da cidade vão ficar praticamente esquecidas”.
Túneis conseguem recolher até 180 metros cúbicos de água por segundo
“Vamos mitigar entre 70% e 80 dos problemas de inundação”, prosseguiu José Silva Ferreira. A capacidade destes túneis será de cerca de 180 metros cúbicos por segundo. Desta forma, consegue dar resposta em casos de chuva muito intensa. A tuneladora tem 130 metros de comprimento e uma cabeça de corte com 70 toneladas. Existem também três motores neste equipamento, que, à medida que vai escavando, vai colocando várias placas de betão ao longo do túnel.
Em simultâneo, este equipamento conta ainda com um mecanismo que encaminha o material recolhido na escavação para um tapete rolante, que chegará até aos 4230 metros de comprimento. Ou seja, a função deste tapete é recolher o material escavado, e encaminhá-lo para o final da tuneladora. De seguida, estes escombros serão recolhidos e levados posteriormente para aterro. Por fim, o equipamento conta também com uma câmara hiperbárica, que serve para os técnicos recuperarem os níveis de oxigénio, depois de terem estado a uma profundidade considerável.
Máquina vai trabalhar 24 horas por dia
Esta tuneladora foi “feita por medida” na China e vai estar a trabalhar durante 24 horas por dia. Por isso, contará com duas equipas ao serviço, cada uma com 14 a 16 pessoas. O PGDL inclui ainda a construção de um compartimento na bacia situada em Monsanto/Campolide. Desta forma, será possível garantir um caudal mínimo de água do Caneiro de Alcântara. Por sua vez, este será conduzido por uma tubagem própria, e que seguirá para uma mini central hídrica. Ou seja, o objetivo é reduzir o consumo de energia elétrica na Fábrica da Água, em Alcântara.
“Incómodos” em quatro pontos da cidade
Aos jornalistas, o presidente da CML admitiu que a construção destes dois túneis vai causar “incómodos” em quatro zonas da cidade. São elas a Avenida da Liberdade, Santa Marta, Almirante Reis e Santa Apolónia, com as perturbações a durar até meados de 2025. “Esta obra é tão essencial para as nossas vidas e eu sei que tem incómodo, mas é um incómodo para resolver o futuro e para não termos problemas de cheias para o futuro. É a nossa contribuição”, sublinhou Carlos Moedas.
Estes quatro pontos da cidade já contam com estaleiros para a construção de furos de recolha de água. A apresentação da tuneladora decorreu no Estaleiro de Campolide, na Quinta do Zé Pinto, onde irá começar a escavação do primeiro túnel. Por sua vez, o túnel de Santa Apolónia deverá ficar concluído no final de 2024 e o de Chelas/Beato em 2025. No entanto, o edil lisboeta admitiu a possibilidade de haver alguns atrasos. “Uma obra desta dimensão, obviamente terá atrasos. É normal que tenha, mas este é o cronograma que temos”, afirmou Carlos Moedas.
Por fim, espera-se que esta obra, que vai custar 250 milhões de euros, fique concluída em julho de 2025. “É a maior obra talvez feita em Lisboa”, sublinhou Carlos Moedas, reforçando que “as cheias do ano passado não aconteceriam ser existisse os dois túneis”. “Nunca se fez uma obra desta dimensão nem em Lisboa nem noutras partes da Europa”, acrescentou o autarca, considerando ainda que o PGDL ajuda também a combater “as alterações climáticas”. “Temos de conseguir mudar as nossas cidades”, referiu.