A Peixaria Veloso já tem mais de 50 anos de história e já é uma referência na cidade. O espaço localiza-se no Mercado 31 de Janeiro, em Arroios, e é atualmente gerido pela filha da fundadora, Açucena Veloso, falecida em 2018 e que está, desde 2020, eternizada na história dos mercados de Lisboa com a atribuição do seu nome àquele mercado, onde começou a trabalhar com nove anos.
Susana Veloso, gerente da Peixaria Veloso, no Mercado 31 de Janeiro, em Arroios, conta, ao Olhares de Lisboa, que é “uma grande responsabilidade” dar continuidade ao legado deixado pela sua mãe, Açucena Veloso, falecida em 2018 num acidente de viação. “Eu sabia mais ou menos como é que as coisas funcionavam”, explica a gerente, até porque sempre ajudou a mãe na peixaria desde pequena. Contudo, revela que não foi fácil assumir o negócio porque a Peixaria Veloso tem 15 funcionários e é uma referência na comunidade.
“Foi muito desafiante, mas graças a Deus tive a ajuda das pessoas que aqui trabalhavam”, conta Susana, formada em Comunicação Empresarial, e que faz um pouco de tudo na peixaria, desde a compra do peixe até à contabilidade e gestão de recursos humanos. A Peixaria Veloso está aberta de terça a sábado, entre as 07h00 da manhã e as 14h00. No entanto, o trabalho, para Susana, começa muito antes disso. “Nós vamos buscar o peixe à uma da manhã ao mercado abastecedor e é um trabalho contínuo desde então”, acrescenta.
Mercados têm maior proximidade com o cliente
Susana não tem ideia de quantos clientes tem a Peixaria Veloso. Mas sabe que, ao longo de uma semana, é capaz de vender “toneladas” de peixe. Grande parte do peixe vendido segue para restaurantes e estabelecimentos de renome em Lisboa. Alguns exemplos são o restaurante Gambrinus, na baixa da cidade, e ainda estabelecimentos de chefs como Justa Nobre, Henrique Sá Pessoa, entre muitos outros.
“Nós distinguimo-nos pela qualidade e pelo serviço, que é mais personalizado”, conta a gerente, reforçando que são estas características que distinguem a Peixaria Veloso, mas também o próprio comércio tradicional. “Sabemos como é que os clientes gostam das coisas”, acrescenta. “Aqui, sabemos que a filha não gosta de chocos, que o neto quer peixe sem espinhas, que o marido gosta de salmonetes”, explica a gerente, acrescentando ainda que, por outro lado, existem ainda outros clientes que só aparecem “para dar dois dedos de conversa”.
Representar os Mercados foi experiência inesquecível
Susana Veloso foi, em 2023, a madrinha da Marcha dos Mercados, juntamente com o chef Ruben Pacheco Correia. “O convite surgiu pela Associação dos Comerciantes nos Mercados de Lisboa, que quis convidar uma pessoa relacionada com os mercados”, recorda, sublinhando que já tinha contacto com o mundo das marchas “há muitos anos”, até porque já tinha sido mascote e marchante. “Quando me convidaram, pensei que estivessem a brincar, porque normalmente são sempre pessoas famosas”, conta Susana, para quem “representar” os Mercados “foi uma honra” e uma experiência inesquecível”.
“Gostei muito do convívio, os marchantes estavam muito animados”, prossegue a empresária, para quem ser madrinha da Marcha dos Mercados “foi uma grande responsabilidade porque estava a representar todos os mercados da cidade”. No entanto, considera também que “foi uma oportunidade para divulgar o trabalho que as pessoas fazem nos Mercados de Lisboa. Se nós não formos fazendo alguma coisa por isto, passando de geração em geração, as coisas vão-se acabando”.
Mudança no estilo de vida das pessoas
Na perspectiva de Susana Veloso, que tem quase 40 anos, e uma vida inteira ligada aos mercados, “a maioria deles está a fechar, porque as pessoas deixaram de os valorizar”. A gerente da Peixaria Veloso considera ainda que o estilo de vida mais agitado das pessoas também contribui para a preferência pelas grandes superfícies. “Eu acho que as rotinas também mudaram, as pessoas preferem coisas mais práticas”, sustenta.
Por outro lado, Susana lamenta ainda que “alguns comerciantes não acompanhem esta evolução, o que também, a seu ver, não contribui para que os mercados se tornem mais atrativos. “Quando vamos a outros países, encontramos muita gente nos mercados, encontramos mais variedade de oferta. Eu acho que, em Portugal, não há publicidade aos mercados”, conta a empresária, que pede ainda que se criem “condições e incentivem os comerciantes a evoluir”.
Ficar no mercado até morrer
Apesar de ter uma equipa com 15 funcionários e capacidade para “ter uma loja própria”, Susana Veloso recusa-se a sair do Mercado 31 de Janeiro, porque “gosta do mercado e do ambiente de mercado”. Aqui, realça, onde toda a gente se conhece e existe uma relação de amizade, não só com os clientes, mas também com os restantes comerciantes. “A minha mãe teve várias oportunidades e convites para ter loja própria e ela nunca quis. Por isso, acabámos também por manter essa tradição”, explica ainda.
A atribuição do nome Açucena Veloso ao Mercado 31 de Janeiro partiu da Câmara Municipal de Lisboa, ainda na altura em que Fernando Medina era o presidente daquela autarquia. O espaço conta ainda, na entrada, com um memorial dedicado à peixeira, inaugurado em 2020. “Acho que é uma homenagem que fica na história de Lisboa”, considera Susana. “A história dela e da sua vida representa o povo português e acho que esta homenagem era merecida, não digo isto apenas por ser a minha mãe”, acrescenta.
“Eu costumo dizer ao meu filho, podemos deixar a vida do peixe, mas a tua avó vai ficar eternizada na história de Lisboa e acho que isso foi a melhor homenagem que lhe podíamos fazer”. Susana recorda ainda a mãe como uma “mulher batalhadora e lutadora. Era uma pessoa muito bem disposta, as gargalhadas dela ouviam-se na rua, e tinha sempre uma palavra amiga para todas as pessoas”.
Todo o tipo de peixe
Apesar de ter formação superior, Susana sempre gostou de trabalhar com o peixe, e sempre imaginou que a sua vida iria passar por aí, algo que a mãe não via com bons olhos, porque “achava que isto era uma vida muito dura”. No entanto, fez questão de transmitir tudo o que sabia aos filhos, para o caso de, um dia, virem a precisar, recorda a gerente da Peixaria Veloso.
Este estabelecimento fica logo à entrada do Mercado 31 de Janeiro, e vende “todo o tipo de peixe”, do mais comum ao mais raro. Contudo, acrescenta Susana, no passado não era assim. “Antigamente, as peixeiras só vendiam uma qualidade de peixe. No caso da minha mãe, ela só vendia pescadas”, lembra a empresária.
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