Cinema português de luto. Morreu António-Pedro Vasconcelos

O realizador António-Pedro Vasconcelos, que morreu aos 84 anos, foi um dos principais nomes do cinema português das últimas décadas, grande crítico do modelo de apoio ao setor, considerava-se um dissidente e quis filmar até ao fim.

O realizador português António-Pedro Vasconcelos, autor de filmes como “O Lugar do Morto” e “Os Imortais”, morreu em Lisboa, os 84 anos, revelou a família em comunicado. “A família de António-Pedro Vasconcelos informa que o nosso A-PV partiu esta noite, a poucos dias de completar 85 anos de uma vida maravilhosa”, pode ler-se no comunicado divulgado hoje.
Nascido em Leiria em 10 de março de 1939, António-Pedro Vasconcelos foi realizador, produtor, crítico e professor, tendo fundado o Centro Português de Cinema, como indica a biografia patente na Academia Portuguesa de Cinema.

Benfiquista dos ‘sete costados’, o realizador António-Pedro Vasconcelos morreu na noite de terça-feira no Hospital da Luz, em Lisboa, a poucos dias de completar o seu 85.º aniversário. Interveniente activo em muitos dos debates que marcaram o Portugal democrático, polemista ocasional, benfiquista fervoroso — estatuto que o familiarizou junto do grande público da televisão —, a dedicação a essas tantas causas paralelas, da campanha presidencial de Mário Soares à política cultural e à luta contra a privatização da TAP, nunca obscureceu a sua paixão pelo cinema.

Muitos êxitos de cinema

Deve-se-lhe um dos êxitos de crítica e de bilheteira mais significativos do cinema alguma vez feito em Portugal, O Lugar do Morto (1984), a par de obras de assinalável impacto comercial como Jaime (1999) ou Call Girl (2007). Iniciada antes do 25 de Abril, a sua filmografia acabou, porém, por resumir-se a 12 longas-metragens de ficção e um par de documentários. A par do cinema, tendo assinado vários êxitos de bilheteira, como “A Bela e o Paparazzo” (2010), António-Pedro Vasconcelos também foi crítico de literatura e cinema, cronista e comentador televisivo, “com forte intervenção cívica”, como escreveu José Jorge Letria no livro de entrevista com o realizador, “Um cineasta condenado a ser livre” (2016).

Cineasta teve cargos institucionais

Um dos campos de intervenção foi a Associação Peço a Palavra, que se bateu publicamente contra a privatização da TAP. “Hoje, mais do que nunca, temos a certeza que o nosso A-PV, que tanto lutou para que todos fôssemos mais justos, mais corretos, mais conscientes, sempre tão sérios e dignos como ele, será sempre um Imortal”, escreveu a família em comunicado. Consciente das mudanças profundas, a nível global, da produção de cinema e televisão, e de que a economia da indústria já não se restringia à sala e à exibição televisiva, mas começava a passar pelos formatos de home video, A-PV afasta-se durante largos anos da realização.

Assim, começa por ser coordenador do Secretariado Nacional para o Audiovisual entre 1991 e 1993 e será depois presidente do grupo de trabalho para o Livro Verde da Comissão Europeia sobre a indústria audiovisual.  “Uma missão fundamental para fazer sair o cinema português da sua pequenez”, dizia ao PÚBLICO em 2018, pois “era preciso uma política integrada para o audiovisual” e “ajudar a internacionalizar o cinema português”. Aceitou estes cargos institucionais apesar de as suas posições políticas estarem em desacordo com o ideário dos governos com os quais trabalhou.

Foto de capa: Sport Lisboa e Benfica

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