O 25 de Abril é um momento marcante do nascimento da democracia portuguesa. A data simboliza o início de um caminho de profundas transformações económicas, sociais e culturais. E, por isso, segundo a EGEAC, as Festas de Abril ganham este ano uma expressão e um significado maiores, com as comemorações dos cinquenta anos da Revolução dos Cravos que, em Lisboa, será lembrada e festejada um pouco por toda a cidade: na rua e em diversos espaços culturais.
Ao longo de 2024, Lisboa celebra orgulhosamente os 50 anos daquele «dia inteiro e limpo», o 25 de Abril, defende Carlos Moedas, presidente da câmara da capital, adiantando que a EGEAC tem “um alargado programa cultural aberto a todos os lisboetas, onde as exposições se juntam ao teatro e à literatura, ao cinema e à música. Fazemo-lo porque em Lisboa temos memória e sabemos que um país sem história é um país sem futuro. E nós olhamos para o futuro’’.
No programa, que decorre ao longo deste mês, a EGEAC quer ilustrar e recordar o dia 25 de abril de 1974 através da fotografia, do teatro, da dança, da música, da arte contemporânea e da poesia, fixando o passado, celebrando o presente, mas também projetando o futuro. O momento alto será na noite de 24 de abril, no Terreiro do Paço, numa grande festa promovida pela Câmara Municipal de Lisboa e produzida pela EGEAC. Esta celebração começa, às 22h, com um videomapping, nas fachadas do Terreiro do Paço, composto por fotografias de Alfredo Cunha e música de Rodrigo Leão, numa parceria com a Comissão Comemorativa 50 anos do 25 de abril.
Canções de intervenção no Terreiro do Paço
Segue-se o concerto Uma Ideia de Futuro que irá juntar em palco a Orquestra Sinfonietta de Lisboa, o Coro de Santo Amaro de Oeiras, o Coro da Escola Artística do Instituto Gregoriano de Lisboa e vários solistas, num total de 180 músicos. Seis histórias narradas na primeira pessoa, por seis jovens atores, traçando um retrato do Portugal de hoje e mostrando o caminho percorrido, inspiram a banda sonora, composta a partir de canções de José Afonso, José Mário Branco, Sérgio Godinho, Fausto, Adriano Correia de Oliveira, Fernando Lopes Graça e Carlos Paredes. As histórias e as canções serão acompanhadas pela projeção de imagens.
Com conceção e direção artística de Luís Varatojo, este espetáculo apresenta ainda um tema inédito, ‘Abril é Sempre Primavera’, com letra de José Luís Peixoto e música de Luís Varatojo e Filipe Raposo, e culmina com um apontamento piromusical. Mas as Festas de Abril começam já este mês. A partir do dia 23 de abril e até 26 de maio, vai ser inaugurado no Mercado do Forno do Tijolo, em Arroios, a exposição 10 dias que abalaram Portugal do Arquivo EPHEMERA. Uma iniciativa integrada nas Comemorações Municipais e Nacionais dos 50 anos do 25 de Abril que testemunha o início da democracia após a Revolução.
Uma viagem pela luta anti-fascista
O Museu do Aljube – palco simbólico de resistência e liberdade – inaugura a nova exposição 25 de ‘Abril, Sempre!’, que propõe uma viagem pelas resistências desde o 25 de Abril de 74 até aos nossos dias. Estará também de portas abertas com dois dias de festa (20 e 21) e muitos artistas convidados, conduzirá um percurso por locais emblemáticos da revolução e participará num podcast para Pensar o 25 de Abril através das Humanidades. Com propostas variadas, para todas as idades, e maioritariamente gratuitas, as Festas de Abril passam por outros museus, monumentos, galerias, teatros e cinema geridos pela EGEAC.
No Teatro do Bairro Alto estará em cena (dias 12 e 13) Guião para um País possível, espetáculo de Sara Barros Leitão, criado a partir de registos do parlamento português. O Castelo de São Jorge convida todas as pessoas a participarem em oficinas de trabalhos manuais (dias 14, 21, 25 e 28) para Fazer do Castelo, Abril, construindo um mural de cravos de papel com mensagens de liberdade.
Senha da revolução lançada pela rádio
No dia 18, o Museu do Fado inicia um ciclo de conversas em torno do legado de liberdade e de independência artística de Amália Rodrigues, com conceção e moderação de Miguel Carvalho, autor do livro Amália, Ditadura e Revolução. As canções, as palavras, as histórias, os textos e os poemas servem ainda de inspiração a outras duas propostas das Festas de Abril: o espetáculo Quis Saber quem sou, do Teatro Nacional Dona Maria II, com texto e encenação de Pedro Penim, que sobe ao palco do Teatro São Luiz (20 a 28), e o Dia do Livro – Noite da Rádio, assinalando o Dia Mundial do Livro (23) na Casa Fernando Pessoa, dando voz aos jornalistas da rádio para lembrar que foi a rádio a dizer a primeira palavra na noite de 24 para 25 de abril de 1974.
Destaque ainda para Luísa Cunha – uma obra em seis partes, uma obra sonora para ouvir em seis espaços, entre as cinco Galerias Municipais e o Atelier-Museu Júlio Pomar (de 19 de abril e 5 de maio). Para Carlos Moedas, “no momento em que o regime democrático cumpre meio século, é importante que Lisboa, um dos principais palcos da Revolução, apresente um programa comemorativo que procura reforçar a democracia e destacar algumas das principais conquistas do 25 de Abril’’.
Meio século de liberdade
Por isso, as comemorações dos 50 anos do 25 de Abril desenvolvem-se ao longo de todo o ano de 2024, associando-nos ainda às comemorações nacionais que vão encher a cidade dos valores de Liberdade, Paz, Democracia e Progresso. Um dos grandes nomes da literatura, Albert Camus, cita Carlos Moedas, disse que a liberdade não é mais do que uma oportunidade para sermos melhores. Assim, hoje, nos 50 anos de Abril, é o momento para recordar este valor da liberdade.
A liberdade – do ponto de vista do edil lisboeta – significa um horizonte aberto de possibilidades. Significa a oportunidade de sermos melhores do que aquilo que fomos, de nos reinventarmos a cada momento, de vivermos com a audácia de olhar para o futuro sem medos. Abril abriu este horizonte de possibilidades.
Passaram 50 anos deste momento definidor daquilo que somos, e poderíamos pensar que o seu simbolismo está a esmorecer. Perante isso, Moedas defende que é importante explicar ás novas gerações, que dão como garantidas a liberdade e a democracia que Abril nos deu, que não relembrar a memória de Abril é cair na tentação da ditadura, onde o horizonte se fecha e a audácia desaparece.