O presidente da Câmara de Lisboa disse, esta quarta-feira, que apesar de a capital ter registado “casos muito pontuais” de desordem pública, como caixotes do lixo incendiados, existe uma “atenção redobrada” e defendeu “tolerância zero à violência”, apelando à serenidade, durante a cerimónia de Inauguração do Memorial das Vítimas de Holodomor – uma tragédia que levou milhões de ucranianos a morrer à fome na sequência das políticas soviéticas levadas a cabo por Estaline, em 1932-33.
“Todos estes factos que estão a acontecer em termos de violência são inaceitáveis numa sociedade democrática e num estado de direito e, portanto, tolerância zero à violência”, afirmou Carlos Moedas (PSD), a propósito dos desacatos nalguns bairros da Grande Lisboa após a morte de um homem baleado pela PSP, na segunda-feira.
O autarca, que se mostrou solidário com os presidentes das câmaras municipais da Área Metropolitana de Lisboa, disse entender ” a dor dos que perderam um ente querido, mas não podemos ser tolerantes com este tipo de violência, porque Lisboa tem de ser paz e um porto de abrigo” e, por isso, não pode aceitar este tipo de comportamentos.
O autarca, que apelou à serenidade dos lisboetas, falava aos jornalistas à margem da inauguração em Lisboa do Memorial das Vítimas de Holodomor, tragédia que levou milhões de ucranianos a morrer à fome na Ucrânia Soviética entre 1932 e 1933.
Tolerância zero
Honrando a luta do povo ucraniano pela liberdade, o presidente da Câmara de Lisboa reforçou a importância de haver “tolerância zero à violência” no âmbito das recentes situações de desordem pública.
“Que não deixemos o país ir por esse tipo de caminhos. O caminho da violência não é possível. Não queremos isso e isso não é Portugal. Os portugueses não são assim, os lisboetas não são assim, nem todos aqueles que vivem na Grande Lisboa”, salientou.
Carlos Moedas notou, contudo, que existem “muitas situações que têm de ser investigadas”, já que se regista uma violência que “não pode ser permitida”.
O social-democrata disse ainda perceber “a dor daqueles que perderam um ente querido”, insistindo numa mensagem contra a violência.
“Não podemos misturar as coisas, não podemos misturar aquilo que aconteceu e que obviamente será investigado, mas aquilo que é a violência”, referiu.
Lisboa disponível para ajudar
O autarca de Lisboa manifestou também solidariedade com todos os presidentes de câmara que tiveram na terça-feira “uma noite muito complicada“, assegurando “toda a disponibilidade” do município da capital para ajudar no que for necessário, inclusive através de meios dos bombeiros voluntários e da Polícia Municipal.
Questionado sobre as situações de desordem pública registadas na cidade de Lisboa, Carlos Moedas indicou que houve “alguns poucos casos particulares”, como alguns caixotes do lixo incendiados, mas “tudo foi imediatamente controlado”.
“Não houve muito a assinalar a não ser esses casos muito pontuais”, apontou, fazendo votos para que hoje seja “uma noite normal, serena”.
“Faço aqui um apelo, obviamente, à serenidade de todos, é muito importante”, sublinhou o autarca, referindo que está em contacto com o Governo e com as forças políticas, existindo “uma atenção redobrada” a este propósito.
Governo reúne com autarcas da AML
Carlos Moedas indicou também que esta quinta-feira estará em contacto direto com o Governo, em particular com os ministros da Presidência e da Administração Interna, na reunião do Conselho Metropolitano de Lisboa, com os presidentes de câmara dos 18 municípios desta área metropolitana.
Odair Moniz, 43 anos, cidadão cabo-verdiano, e morador no Bairro do Zambujal, na Amadora, foi baleado por um agente da PSP na madrugada de segunda-feira, no Bairro da Cova da Moura, no mesmo concelho, e morreu pouco depois, no Hospital São Francisco Xavier, em Lisboa.
Segundo a PSP, o homem pôs-se “em fuga” de carro depois de ver uma viatura policial e “entrou em despiste” na Cova da Moura, onde, ao ser abordado pelos agentes, “terá resistido à detenção e tentado agredi-los com recurso a arma branca”.
A associação SOS Racismo e o movimento Vida Justa contestaram a versão policial e exigiram uma investigação “séria e isenta” para apurar “todas as responsabilidades”, considerando que está em causa “uma cultura de impunidade” nas polícias.
Desde a noite de segunda-feira foram registados desacatos no Zambujal e, já na terça-feira, noutros bairros da Área Metropolitana de Lisboa, onde foram queimados dois autocarros, automóveis e caixotes do lixo, e detidas três pessoas. Dois polícias receberam tratamento hospitalar devido ao arremesso de pedras e dois passageiros dos autocarros incendiados sofreram esfaqueamentos sem gravidade.