Ameaça de chuva forte para o fim da tarde põe os comerciantes de Algés em alerta máximo. Os comerciantes lembram as cheias de 2022 e preparam-se com medidas de proteção, mas temem que nova catástrofe se abata sobre a freguesia.
A escadaria que dá acesso às instalações da administração do grupo Apapol, que detém 27 confeitarias e padarias no concelho de Oeiras, é escura, mas movimentada, num constante abrir e fechar da porta metálica que veda a entrada no prédio.
Num dia em que a ameaça de chuvas fortes causadas pela depressão Martinho faz reviver memórias de catástrofes em Algés, os comerciantes mostram-se apreensivos com a probabilidade de repetição do quadro dantesco ocorrido em 2022.
Bem presentes na memória dos habitantes, as cheias de 2022 ainda hoje são motivo de conversa (e controvérsia) na zona ribeirinha de Algés. Ana Aleixo, da gerência da Apapol, que se situa na baixa de Algés, recorda ao “Olhar Oeiras” os momentos “aflitivos” vividos então e lembra a situação “caótica” registada na rua Major Afonso Pala.
“Foi muito complicado para todos os comerciantes e pessoas que vivem nesta zona. Houve inundações que arrastaram tudo e constituiu um dos momentos mais tristes na história recente de Algés. A força da água destruiu completamente uma das nossas lojas e provocou danos muito graves nos edifícios da zona ribeirinha”.
Mãos ao alto para evitar o pior
Agora, face à advertência das autoridades meteorológicas, de novo temporal ocorrer, e de as cheias voltarem a acontecer, Ana Aleixo afiança que resta a “esperança” de não se voltarem a repetir e iça as mãos ao alto para que “São Pedro” tenha clemência e poupe Algés de nova catástrofe.
Como forma de proteger uma das padarias e loja do grupo, situada no coração da zona baixa de Algés, a responsável assume, porém, que já montaram uma barricada improvisada contra a água, composta por sacos de areia.
E explica que é a única forma de conter a força da água, uma vez que não foram contempladas com as comportas que o Município de Oeiras pôs à disposição dos comerciantes e moradores. “Estávamos fechados quando a Câmara distribuiu as comportas, mas acho que essa solução tem resultado e poderá ajudar a evitar as inundações nestas lojas e habitações”, afirma.
De prevenção
A loja de produtos de cosmética onde trabalha Sílvia Magalhães fica localizada numa cave da rua Luís de Camões, também na zona ribeirinha de Algés. A empregada de loja recorda-se bem das cheias de 2022 e bate na madeira para que não se voltem a repetir. “Foi um caos. Houve dezenas de comerciantes que perderam os seus negócios e muitas pessoas que ficaram na rua”, sublinha.
Apesar da intempérie registada em 2022, a loja onde Sílvia Magalhães ganha o pão de cada dia não sofreu “danos de monta” e foi poupada pelos deuses da fortuna. Já a claraboia do espaço que serve de armazém foi atingida pelo ramo de uma árvore e “sofreu alguns danos materiais”, mas nada de muito “importante” dado o caos generalizado instalado em todas as ruas da zona ribeirinha.
Para prevenir males maiores, a funcionária da loja “está de prevenção” e acredita que a comporta pode evitar a inundação do espaço. Mas lamenta o “abandono” a que a rua Luís de Camões “tem sido votada”.
Resolver a situação em definitivo
Um outro comerciante de Algés, que não quer ser identificado, mostra-se intranquilo pela possibilidade de novas cheias ocorrerem em Algés. “Já viu a chuva que está a cair? Se nada for feito, vamos ter uma situação muito complicada”, atira.
Em estado de prontidão e prevenção, as equipas dos bombeiros e da Proteção Civil de Oeiras foram deslocadas para as ruas de Algés para distribuírem as comportas pelas artérias mais sensíveis da freguesia. Não obstante, o comerciante não se mostra “muito confiante” pela presença das autoridades de proteção civil no terreno, dado o histórico do saldo das ocorrências.
“Entendo que os bombeiros e a Câmara (de Oeiras) fazem aquilo que podem, mas esta situação tem de ficar resolvida na raiz: na Ribeira de Algés. Estamos sempre com o credo na boca e já vai sendo hora de resolverem este problema. É todos os anos o mesmo fado. Já morreram pessoas e muitos comerciantes ficaram sem os seus negócios. Não culpo ninguém em particular, mas o Estado central já deveria ter resolvido o nosso problema há muito. Os governos sucedem-se e fica tudo na mesma”, atira, indignado.
Lembre-se que a Câmara de Oeiras e vários governos já reconheceram a necessidade de haver uma intervenção estrutural na Ribeira de Algés. Os protocolos já foram assinados e estava previsto iniciarem-se as obras em abril deste ano, mas Isaltino Morais já alertou para a possibilidade de a mudança de governo vir a condicionar o avanço definitivo da intervenção e, grosso modo, voltar tudo à estaca zero.
Fotos: Arquivo OL