Conversão do antigo Hospital Militar de Belém num centro intergeracional ainda é miragem

O antigo Hospital Militar de Belém está votado ao abandono. O presidente da Junta de Freguesia da Ajuda defende o reaproveitamento urgente do equipamento de saúde e aponta soluções, mas as entidades competentes andam no jogo do “empurra” e não se vislumbra uma solução definitiva.

A hipótese aventada pelo Governo de transformar o antigo Hospital Militar de Belém, na Ajuda, e vir a ser a nova casa de cerca de 200 imigrantes estrangeiros que viviam em situação de sem-abrigo alertou a população local. O anúncio do Governo, em finais de outubro de 2024, apanhou toda a gente de surpresa e causou um forte alarido entre os moradores da freguesia da Ajuda.

O presidente da Junta de Freguesia da Ajuda, Jorge Manuel Marques, já havia defendido a necessidade vital de o antigo hospital ser reaproveitado para a criação de um equipamento que conjugasse a requalificação do hospital com um centro intergeracional, que poderia alavancar as dinâmicas sociais e económicas de uma freguesia que está envelhecida e tem alguns problemas de integração, segundo a perspetiva do autarca.

Entretanto, essa hipótese já terá caído por terra. E os planos de o Governo avançar com a transformação do antigo Hospital Militar esfumaram-se, para gáudio do autarca e dos moradores. Agora, Jorge Marques defende que já se perdeu tempo em demasia e que já vai sendo hora de aquele espaço ganhar uma nova vida.

Metade do problema resolvido

Em declarações ao “Olhares de Lisboa, o autarca congratula-se com o recuo do Governo e da Câmara Municipal, mas refere que “apenas está resolvido metade do problema”. Isto é, a paragem do aproveitamento do espaço num centro de acolhimento para migrantes. “Agora, ainda não se sabe o que fazer com este edifício, que é enorme e serviu de hospital durante a pandemia, mas podia muito bem ser reaproveitado para se criar um serviço de cuidados paliativos ou para acolher muita gente que fica nos hospitais e que não são recolhidos pelas famílias, por exemplo”, explica.

E acrescenta que o antigo hospital militar “poderia ser transformado num hospital de segunda linha”, até porque “não seria muito difícil de montar, porque aquilo foi um hospital durante muitas anos”.


Desperdício de dinheiro público

Na perspetiva do autarca, aquele antigo equipamento de saúde deveria estar ao serviço das necessidades das pessoas, uma vez que, ao estar ao abandono, “é dinheiro público que está a ser desperdiçado”.

“Não se entende como é possível que um país como Portugal, que tem imensas dificuldades, desperdice um equipamento com aquela qualidade”.

Jogo do “empurra”

Como nos explica Jorge Marques, a Junta já terá voltado à carga na defesa da ideia de reaproveitar o espaço e fez, inclusive, uma nova ronda de contactos para se inteirar da viabilidade do projeto, mas obteve uma mão cheia de nada.

“Já contactámos o secretário de Estado, os responsáveis pelas Forças Armadas, e todos nos disseram que é um equipamento que tem de ser usado. Mas, na verdade, ninguém sabe o que fazer àquele equipamento. A Câmara de Lisboa acha que ele deve ser usado, mas não o quer comprar, porque acha que ele deve ser cedido. Pelos vistos, o ministro da Defesa é da opinião que deve ser vendido e não cedido. Atuamos como um país rico, que não somos, e estamos a desperdiçar recursos daquele calibre”.

Com as eleições legislativas à porta, o líder da Junta da Ajuda mantém-se na expetativa e com “esperança” em que os novos governantes avancem como uma solução definitiva. “Não é possível continuarmos a desperdiçar recursos, não é possível continuarmos com tantas casas públicas fechadas, com tantos equipamentos públicos encerrados. A cidade, enquanto comunidade, não se pode dar ao luxo de desperdiçar tantos equipamentos. Nós não somos suficientemente ricos para deixarmos esses espaços abandonados. E o reaproveitamento não é assim tão difícil”, conclui.

Foto de capa: Eduardo Portugal. Arquivo Municipal de Lisboa.

 

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