Produtores locais enaltecem trabalho do Mercado Quatro Estações

Os Serviços Intermunicipalizados de Água e Saneamento (SIMAS) de Oeiras e Amadora realizaram, no dia 25 de março, na sede do SIMAS em Oeiras, mais uma edição do Mercado Quatro Estações. Produtores locais garantem que este tipo de iniciativas é fundamental para escoar a produção sustentável que não tem espaço nas grandes cadeias de retalho.

Jacinta Campo aborda um produtor para se inteirar se ainda tem grelos na banca. Telmo Manique responde que já vendeu tudo, mas que tem outros hortícolas “de grande qualidade”, mas a moradora do concelho de Oeiras perde o interesse nos legumes e pergunta o preço dos mirtilos. Acaba por comprar uma embalagem e, numa dialética interna, deita contas à vida para apurar se pode levar mais frutas para casa. Acontece que não vinha prevenida e entrou no Mercado “por acaso”, depois de ver os cartazes do certame, mas mostrou-se “muito bem impressionada” com a oferta proporcionada no pequeno mercado de produtos locais.

“Não sabia que havia aqui este mercado. Vim a uma formação na biblioteca, que acabou por ser cancelada, e resolvi entrar. Isto é muito bom para os consumidores, mas também para os produtores locais. O presidente (Isaltino Morais) está sempre a fazer coisas pelas pessoas”, atira, acrescentando que “gosta de ajudar” os agricultores “mais pequenos”, até porque “vendem produtos de melhor qualidade”.

“É sempre bom constatar que ainda há jovens a fazer este trabalho. Está toda a gente a deixar o campo e, assim, vamos ter de importar tudo aquilo que comemos, o que é mau para a economia e para o nosso bolso”, atira.

Telmo Manique sorri e tenta, mais uma vez, convencer a dona Jacinta a comprar legumes ou “estes moranguinhos maravilhosos”. A cliente hesita, mas rende-se e acaba convencida pela “simpatia do vendedor e a cor vermelha” da fruta.

Fugir do “garrote” dos grandes

O produtor revela que a sua família é originária do Fundão, “a terra das cerejas”, mas que cultivam outras frutas e legumes no concelho de Oeiras. O jovem agricultor assume que a vida agrária “não é fácil”, uma vez que as margens de lucro “são baixas” e são sugadas pelas grandes empresas que operam no mercado. Também por essa razão Telmo Manique ganhou coragem para ajudar a família no negócio, tomando as rédeas da parte comercial e da distribuição.


O produtor enaltece iniciativas como o Mercado das Quatro Estações dos SIMAS, que promovem o trabalho desenvolvido pelos produtores independentes e “ajudam na divulgação e escoamento dos produtos”.

O agricultor diz que há produtos que, devido “à falta de um canal de distribuição”, acabam por não ser vendidos, mas que os legumes e frutas comercializados na sua banca, como noutras, provêm de metodologias de cultivo e produção “mais sustentáveis e naturais”, o que reflete a qualidade “superior” dos produtos que vão parar ao prato dos consumidores.

Telmo Manique sustenta que o “garrote” imposto pelos grandes retalhistas do setor alimentar “é uma guerra perdida”. E defende que a realização de mercados sustentáveis “é fulcral” para a sobrevivência dos pequenos produtores. “Nós produzimos frutas e legumes segundo os métodos artesanais. As grandes cadeias de supermercados não têm interesse em vender os nossos produtos. Este tipo de iniciativas, ajudam-nos a sobreviver”, conclui.

Mercados como “tábua de salvação”

Depois de 23 anos de trabalho na função pública, Paula Duarte decidiu “seguir o coração” e mergulhar no mundo do desenvolvimento humano. Através da reeducação alimentar perdeu 27 kg e “ganhou algo maior: a paixão por ajudar outras mulheres a cuidarem de si com prazer e equilíbrio”, criando uma pequena empresa que se dedica à produção de snacks naturais, mas também bolos caseiros, biscoitos e granola, sem aditivos.

À semelhança do agricultor Telmo Manique, Paula Duarte sublinha que os mercados sustentáveis jogam um papel determinante para os pequenos empreendedores e produtores terem a oportunidade de escoar a sua produção, feita em pequena escala, mas com “muita qualidade e amor”.

“Este tipo de mercados podem servir como a tábua de salvação para aqueles que não têm oportunidade de mostrar os seus produtos nas grandes cadeias alimentares. Agradeço muito à organização por possibilitar a minha presença neste mercado, porque é a única forma de os consumidores conhecerem as coisas que faço, com amor e de forma totalmente natural”, refere Paula Duarte.

Mini horta na varanda

Esta edição do Mercado das Quatro Estações, contou com a realização do workshop da Associação Femina, que deu valiosas dicas de como plantar ervas aromáticas e vegetais em pequenos espaços, com recurso a adubos naturais, como a casca de ovo, e aproveitando a água da chuva ou de lavagem de alimentos para a rega. Desta forma, “vamos cultivando um futuro cada vez mais sustentável e embelezando pequenos espaços em casa ou na varanda”, conclui Cândida Marreiros, porta-voz da organização, acrescentando que este evento é uma celebração da sustentabilidade, da alimentação saudável e do artesanato, proporcionando um espaço único de partilha e aprendizagem.

O certame recebeu a participação da Associação Ajuda de Mãe, que foi a convidada especial desta edição, uma associação de solidariedade social que presta apoio a mães solteiras ou vítimas de maus-tratos do concelho de Oeiras. Os visitantes ficaram a conhecer melhor o trabalho desenvolvido por esta instituição e a adquirir os seus produtos solidários, contribuindo para a causa solidária de ajuda a jovens mães em apuros.

 

 

 

 

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