Adeptos do Sporting não perdoam as medidas de Carlos Moedas que condicionaram os festejos do título no sábado à tarde. A cerimónia de celebração do título nos Paços do Concelho ficou marcada pelas vaias à presença do autarca.
Uma onda verde e branca tomou conta dos Paços do Concelho em Lisboa no passado dia 19. A multidão de sportinguistas esperou pacientemente pelo autocarro da equipa leonina durante algumas horas. Antes da entrada triunfal da equipa lisboeta na Câmara Municipal de Lisboa, a multidão rejubilou euforicamente com a presença dos seus heróis, lançando fumos verde e brancos para festejar a conquista do bicampeonato.
Desta feita, a habitual comparência das equipas vencedoras do campeonato nacional de futebol ficou “manchada” pelos apupos e as vaias contínuas dos adeptos face à presença do presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, que, visivelmente incomodado, mas sem deixar de sorrir, pedia “uns minutinhos” para honrar a conquista histórica do bicampeonato pelo Sporting Clube de Portugal.
O edil demorou muito a começar a falar, dadas as vaias da massa de adeptos “leoninos” na Praça do Município, e o autarca, de resto, pediu várias vezes para falar, sem sucesso, mas acabou por discursar ao som das vaias e dos apupos.
Debaixo de uma enorme onda de descontentamento sonoro — espoletado pelo encerramento dos espaços comerciais depois das 16h nas imediações do Estádio do Sporting no dia da conquista do campeonato –, Carlos Moedas partiu para o elogio da equipa, lembrando que Lisboa “é mais uma vez verde e branca”, “é mais uma vez Sporting Clube de Portugal”.
“E que orgulho é estar aqui convosco. Ver esta praça coberta mais uma vez de verde e branco. Desde sábado que vivemos esta festa. No Marquês e por toda Lisboa. Por todo o país. Por todo o mundo, provando que o Sporting, tal como o Visconde de Alvalade pretendia, é tão grande como os maiores da Europa. Mas não só. Provaram que o Sporting é das maiores instituições desportivas de todo o mundo”, disse o edil.
Dirigindo-se aos adeptos, Moedas lembrou a importância do treinador Rui Borges na conquista do campeonato: “O mister Rui Borges disse algo no momento em que chegou ao Sporting que ficou marcado: Quando faltar inspiração, que não falte atitude. A vossa época foi exatamente assim. Mesmo quando tudo parecia impossível, mesmo quando o choque parecia ser insuperável, mesmo quando as dúvidas se multiplicavam, mesmo aí nunca vos faltou a atitude que faz campeões”, demonstraram que no Sporting “não há impossíveis”.
Para Carlos Moedas, a equipa leonina provou ser possível que, pese embora as múltiplas contrariedades ocorridas ao longo da época, conseguiu “superar-se”. “Sim, porque conseguiram superar tudo”, nomeadamente “as tantas lesões que eu acho que nunca um candidato ao título tinha sofrido tal desafio”, afirmou Moedas, lembrando os contributos “por fora” do Nuno Santos, o Daniel Bragança e o João Simões, que contraíram lesões graves e poucos jogos fizeram pela equipa. “O bicampeonato também é vosso”, atirou.
De acordo com o autarca, esta equipa superou também um choque. “Uma mudança repentina que parecia abanar tudo”, mas esta equipa venceu e “foi capaz de superar todos os obstáculos”.
Elogio dos “vikings”
Moedas lembrou o papel decisivo da “enorme liderança do Morten Hjulmand – um grande capitão, um verdadeiro líder, um sportinguista apaixonado. O nosso capitão Coates saiu, mas tu estiveste sempre à altura do desafio. Obrigado, Morten, pelo teu exemplo. A tua liderança ajudou a equipa a conseguir superar-se”.
O autarca, claro, homenageou o goleador Viktor Gyökeres, que parece ser desta que vai sair do Sporting, um jogador de quem muitos desconfiavam, mas que é hoje considerado como uma das melhores contratações de sempre do clube de Alvalade. “O Viktor superou os seus próprios recordes. Parecia impossível, mas o Viktor conseguiu. 101 jogos, 96 golos”.
“E sei bem que, se há alguém que se orgulha do que conseguiste, essa pessoa é o Manuel Fernandes. O Manuel Fernandes que está lá em cima, neste momento, a celebrar o bicampeonato. Seguramente ao lado de outros grandes goleadores como Peyroteo ou Yazalde, que estão lá em cima a olhar por todos nós”.
Carlos Moedas destacou ainda a “paixão” da equipa ante os infortúnios e as viragens de resultados históricas no campeonato, sendo o expoente máximo dessa mesma paixão o icónico roupeiro Paulinho.
“Se eu tivesse de encontrar um símbolo para essa paixão única que mostraram durante toda a época, esse símbolo está aqui connosco: é o meu amigo Paulinho. O símbolo do amor pelo Sporting. Obrigado por nos mostrares a todos o melhor que tem o futebol. És não só um enorme sportinguista, és também um grande lisboeta”.
Varandas pediu respeito pelos adeptos.
Durante a cerimónia na Câmara Municipal de Lisboa, onde a equipa principal de futebol do Sporting Clube de Portugal foi recebida para assinalar a conquista do bicampeonato nacional, o presidente Frederico Varandas falou aos presentes a partir do palco instalado às portas do edifício. Ao falar dos festejos, o presidente sportinguista pediu para que as autoridades não tratem os adeptos como meliantes.
“Meu Deus, que festa. Eu percebo que só vos chegue parte da informação, mas quero agradecer ao presidente Carlos Moedas, porque foram mais de 24 horas a tentar encontrar as razões técnicas e políticas para que não houvesse condicionamento da festa. Sou militar e respeito muito todas as forças de segurança, mas não tratem os adeptos de futebol como criminosos”, referiu.
“Não prejudiquem algo que faz parte da nossa cultura, como o futebol. Não prejudiquem centenas de milhares de adeptos que têm paixão pelo seu clube apenas por uma minoria que não se sabe comportar. E que lição deram centenas de milhares de pessoas novamente. Numa festa linda foram bicampeões a saber festejar”, apontou o líder leonino.
Frederico Varandas recordou os treinadores que já não “moram” em Alvalade, mas que também contribuíram para o título. “Quero dirigir-me a quem não está aqui hoje: Ruben Amorim, João Pereira e [Hugo] Viana também são campeões. Muito obrigado por tudo, porque também contribuíram para estarmos aqui”.
Rui Borges, o “doutorado” em carácter
Varandas não poupou nos elogios aos seus jogadores “heróis”, mas as palavras mais sentidas foram para o treinador Rui Borges, que considerou como um “doutorado” em carácter.
“Já o ouvi dizer que é de Mirandela, mas míster, deixe-me dizer que é-me indiferente se é de Mirandela, da Praça de Londres ou de Cascais. O que me interessa é a sua capacidade de liderança, de gestão de grupo e competência. Também já o ouvi dizer que nunca estudou… Nunca estudou, mas é licenciado e doutorado em carácter, nobreza e valores – e mais. Pode dar muitas lições e explicações a pessoas que nunca conquistaram nada na vida”, sublinhou Varandas.
Acrescentando que este treinador “conseguiu ser campeão, fazer 19 jornadas sem perder, ir à Luz e ao Dragão, e nunca teve o ‘onze de gala’ disponível e que andou a jogar nas primeiras jornadas”.
Tricampeonato
Depois de andar afastado dos títulos durante vários anos, o Sporting Clube de Portugal voltou a intrometer-se entre os seus dois rivais (Benfica e Futebol Clube do Porto) pelas conquistas do campeonato.
Sob a liderança de Frederico Varandas, conquistou três títulos de campeão nacional (2021, 2024 e 2025).
O presidente sportinguista quer mais, mostrando fé na próxima temporada, na conquista do tricampeonato. “Nós respeitamos muito os nossos rivais, mas nós queremos muito, muito, mas mesmo muito, o tricampeonato”.