CDU entregou as listas de candidatos à Câmara Municipal de Lisboa, à Assembleia Municipal de Lisboa e às 24 freguesias da cidade. Um quarto dos candidatos são independentes, o que traduz a pluralidade da coligação e a vontade de mudança na liderança da cidade, segundo João Ferreira.
Uma delegação da CDU Lisboa, composta por cerca de três dezenas de pessoas, entre os quais João Ferreira (candidato à presidência da CML), Sofia Lisboa (primeira candidata à AML) e Francisco Mendes, o mandatário concelhio, entregou hoje, dia 29 de julho, no Tribunal as listas de candidatos às eleições autárquicas 2025 para a Câmara de Lisboa – foram apresentadas um total de 694 candidaturas.
Em declarações aos jornalistas, João Ferreira mostrou-se confiante no “reforço da votação na CDU” nestas eleições autárquicas, apontando a possibilidade de uma “vitória”, nomeadamente na Câmara de Lisboa.
Listas têm 160 Independentes
João Ferreira destacou a composição política das listas entregues no Palácio da Justiça, em que, para além dos membros do Partido Comunista Português e do Partido Ecologista “Os Verdes”, e da ID (Associação Intervenção Democrática), “se contam mais de 160 candidatos independentes, o que comprova a CDU como a grande frente popular e unitária nas autarquias”.
O líder comunista reforçou que as listas dos candidatos da CDU apresentam “muitos independentes”, um quarto dos candidatos, o que comprova que o projeto autárquico da Coligação conseguiu reunir um espectro bastante alargado de pessoas “preocupadas com o rumo que a cidade tem tido”.
“São homens e mulheres ligados à vida e às aspirações da população, identificados com diversos sectores de atividades”.
Segundo João Ferreira, as listas da CDU são compostas por vários dirigentes associativos e de movimentos de massas, trabalhadores de vários setores, incluindo trabalhadores do município, dirigentes sindicais e estudantis.
“São homens e mulheres que conhecem a realidade da cidade de Lisboa e todos os dias dão expressão à exigência e à luta por uma Lisboa a que todos tenham direito”.
As listas da CDU, Coligação Democrática Unitária, PCP-PEV, combinam candidatos com experiência autárquica e provas dadas com candidatos que o são pela primeira vez, demonstrando renovação e ligação à realidade concreta da cidade, segundo João Ferreira.
“Temos muitas pessoas ligadas à realidade da cidade, às associações, às freguesias, trabalhadores de vários setores. Ou seja, a lista é muito diversificada e representativa de vários setores.
Mulheres superam o número de candidatos masculinos
O candidato à presidência do Município enaltece a determinação da CDU em continuar a lutar pela igualdade de género nas suas listas de candidatos. “No total das listas apresentadas, 49% dos candidatos são homens e 51% são mulheres. Das 26 listas apresentadas, 13 são encabeçadas por mulheres, sendo uma mulher a segunda candidata à CML e duas mulheres as primeiras candidatas à AML”.
A estes candidatos juntam-se centenas de ativistas e apoiantes da CDU “comprometidos com a luta pela cidade da nossa vida, que encontram na CDU o espaço de convergência, alternativa e transformação de que Lisboa necessita”.
“Não estamos sozinhos”
Questionado pelo “Olhares de Lisboa” sobre a possibilidade de a CDU, após ter recusado integrar a coligação de esquerda “Viver Lisboa”, ficar fragilizada por avançar sozinha nestas eleições, João Ferreira desvaloriza a questão.
“A CDU, pelo facto de ser uma coligação, não vai avançar sozinha. Avança coligada entre três partidos, mas também muitos independentes, que estão connosco nesta candidatura.
Muitas destas pessoas, noutras eleições e noutros momentos, votaram noutras forças políticas. Aliás, muitos destes candidatos votam noutras opções políticas em eleições nacionais. Mas entenderam que era importante, neste momento da cidade, votarem CDU. Não estamos sozinhos, de maneira nenhuma. E esperamos que nestas eleições em particular, conseguirmos ir para além das fronteiras normais da CDU”.
João Ferreira sublinha que CDU “não apareceu agora nestas eleições” e que tem vindo a desenvolver um trabalho na vereação (na oposição) que tem capitalizado a aprovação de “muitas pessoas independentes”.
“Nos últimos quatro anos, temos feito um trabalho quotidiano de ligação à cidade. Aos bairros, ao movimento associativo, aos problemas da cidade. Fruto desse trabalho, há um reconhecimento coletivo da intervenção da CDU, mesmo de muita gente que não está ligada ao partido, porque reconhecem que a CDU tem características próprias, que a diferenciam das demais”.
Em eleições locais, pesa mais a dimensão local do projeto com que cada um se apresenta e os próprios candidatos, reforça o candidato à CML.
“Creio que a ação que a CDU tem desenvolvido ao longo dos anos, tem-se refletido no alargamento da base de apoio da nossa candidatura”.
Para o também vereador da CDU na CML, a cidade precisa de políticas que a lista apresentada tem, “com gente capaz e competente” para levar a cabo as políticas públicas de que a cidade precisa.
Necessidade de mudança
Na corrida pela liderança da Câmara, João Ferreira sublinha que as “outras candidaturas, nomeadamente o candidato Carlos Moedas, têm sido marcadas por uma grande impreparação e falta de experiência em gerir a cidade”.
João Ferreira aponta para a necessidade de “haver uma mudança”, em áreas incontornáveis, como a habitação, “onde precisamos de travar a onda especulativa que se abateu sobre a cidade”; as questões da mobilidade e do meio ambiente, “que têm vindo a degradar-se notoriamente”; a desqualificação do espaço público, “temos de montar um programa assente no transporte público”, para diminuir o número de carros que entram na cidade.
Para o candidato comunista, Lisboa precisa de uma política que “dê a dimensão que uma capital europeia deve ter”, apostando numa verdadeira política cultural e desportiva.
“A animação cultural, em época festiva, não faz por si só uma política cultural. Lisboa precisa de uma política que democratize a cultura por toda a cidade, que leve a cultura a todos os bairros e freguesias, e que não se concentre apenas num núcleo cultural para as franjas mais privilegiadas da cidade”.
Política “participada”
João Ferreira aponta, no mesmo âmbito, para a necessidade de envolver a população numa “política participada”, com o objetivo de democratizar verdadeiramente as tomadas de decisão, em áreas e assuntos que precisam de ouvir a opinião do povo antes de se avançar com qualquer medida.
“Nós vamos ter de tomar decisões importantes em Lisboa. Precisamos de saber o que vamos fazer com os terrenos do aeroporto, precisamos de ouvir as pessoas para sabermos de que forma vamos urbanizar os terrenos que ainda estão por urbanizar, como os terrenos do Vale de Santo António”
“É fundamental envolver os cidadãos nestas decisões. Nós não podemos continuar a deixar a cidade nas mãos do promotor imobiliário, do especulador. Temos de resgatar a cidade dos fundos imobiliários, envolvendo as pessoas, que têm de ter uma palavra a dizer nas decisões que são importantes para as suas vidas”.
Antiga estrela da televisão é mandatário da CDU de Lisboa
Francisco Lucas Mendes é o mandatário da CDU na cidade de Lisboa. Segundo João Ferreira, poder contar com o apoio do antigo apresentador de televisão e cantor, “é motivo de um forte orgulho” para a estrutura partidária, pois representa o engajamento de um independente “com muito valor” aos valores defendidos pela CDU na cidade de Lisboa.
O lisboeta Francisco Lucas Mendes tem 51 anos. Foi apresentador de televisão e cantor. Hoje, é uma das peças fundamentais do serviço educativo da Orquestra Sinfónica de Lisboa, uma estrutura portuguesa que se dedica ao domínio da pedagogia musical em Portugal e no Brasil. Detém um projeto educativo “Crescer com a Música” que se encontra implementado em várias escolas.
Em declarações exclusivas ao OL, Francisco Mendes confessa sentir-se “honrado” por participar numa campanha “de gente muito competente”, que “sabe aquilo que é preciso para mudar o estado de abandono a que Lisboa chegou”.
“Sou mandatário porque me revejo nos valores de trabalho, honestidade e coerência que caracterizam esta coligação democrática. Em tempos de promessas vazias e políticas de marketing, é urgente afirmar quem nunca virou a cara à luta a quem dá voz a quem não se rende, a quem constrói todos os dias esta cidade”.
Francisco Mendes assume-se de esquerda, mas não tem filiação partidária em qualquer partido, mas explica que a realidade vivida na atualidade motivou o seu engajamento às ideias da CDU Lisboa. “Estamos a viver tempos muito conturbados, em que a intolerância doentia está a ganhar terreno aos valores do humanismo, da solidariedade. Após os resultados eleitorais das legislativas, senti a necessidade de assumir um compromisso com um projeto muito digno para a minha cidade”.
Francisco Mendes assume-se de esquerda, mas não tem filiação partidária em qualquer partido, mas explica que a realidade vivida na atualidade motivou o seu engajamento às ideias da CDU Lisboa. “Estamos a viver tempos muito conturbados, em que a intolerância doentia está a ganhar terreno aos valores do humanismo, da solidariedade. Após os resultados eleitorais das legislativas, senti a necessidade de assumir um compromisso com um projeto muito digno para a minha cidade.”
O ex-apresentador clarifica que a decisão não foi tomada de ânimo leve. “Li todos os programas políticos dos partidos para a minha cidade. E o da CDU é, sem dúvida, aquele com que mais me identifico. Tenho 51 anos e senti a necessidade de me envolver nos valores em que acredito.”
“Estou muito preocupado com o cenário atual, não só em Portugal. Já se está a pôr a própria democracia em causa, pelo que decidi dar o meu pequeno contributo para defender este projeto verdadeiramente democrático, que é abrangente e inclusivo de muitas pessoas independentes, como eu.”
Apesar de ser independente, Francisco Mendes firma a sua pertença ao movimento da esquerda unitária com uma declaração de fidelidade ao projeto da CDU para Lisboa: “Sei que com a CDU é possível uma cidade onde o serviço é respeitado, onde a cultura é apoiada e onde se investe na mobilidade, na escola pública e na saúde para todos.”
Medo de “pertencer”
O mandatário da CDU de Lisboa revela que a decisão de integrar o projeto não ficou isenta de riscos profissionais, pois a colagem da sua imagem a uma força política de esquerda “pode não ser bem vista em certos círculos”, mas reitera que está de “corpo e alma” envolvido nesta mudança de que Lisboa precisa.
“Tenho alguns colegas que têm receio de manifestar os seus interesses políticos, por medo de sofrerem represálias no trabalho. Eu também já tive esse medo, mas, felizmente, graças ao meu trabalho atual, já posso ser livre. Tenho muita pena de não ter tomado esta decisão há 10 anos. Num estado democrático, não deveríamos ter medo de assumir as nossas opções ideológicas, sejam de direita ou de esquerda, mas as pessoas ainda estão condicionadas pelo medo”, conclui.