Um movimento de cidadania da freguesia do Prior Velho, concelho de Loures, organizou um protesto para denunciar a degradação das condições no atendimento do Centro de Saúde local. Exigem a contratação de médicos, enfermeiros e administrativos.
Os utentes, reunidos em ação de protesto, reclamam a contratação de médicos, enfermeiros e trabalhadores administrativos para pôr cobro à falta de respostas clínicas para a população. “Atualmente, o direito à saúde, conforme está consagrado na Constituição da República, não está a ser assegurado no Prior Velho, no Concelho de Loures”, adianta Mónica Antunes, da recém-formada Comissão de Utentes do Prior Velho.
Prescrições para doentes crónicos estão comprometidas.
“Com a falta de profissionais que se vem agravando há anos, são muitas as dificuldades sentidas pelos utentes”, refere Mónica Antunes, acrescentando que as dificuldades em obter as prescrições de medicamentos para doentes crónicos “chegam a demorar mais de um mês”.
Preocupa também “o encaminhamento para outros Centros de Saúde, para onde nem sequer existem transportes públicos diretos desde o Prior Velho”.
Mónica Antunes diz que, desde o início deste ano, “são já 2100 os utentes que se encontram sem médico de família. Neste momento, nem o horário de funcionamento é cumprido por falta de trabalhadores administrativos”.
Com o objetivo de denunciar esta situação, os utentes concentraram-se junto do Centro de Saúde, ontem, dia 29 de julho, constituindo-se uma Comissão de Utentes, subscrita por mais de 340 pessoas que participaram na concentração. A Comissão promete não calar a voz face ao “incumprimento” do direito à saúde dos cidadãos do Prior Velho.
“A Comissão comprometeu-se a dar todos os passos necessários para exigir o bom funcionamento do Centro de Saúde, com os profissionais necessários, para todos”, anota.
“População unida” contra a falta de medidas.
Contactada pelo nosso jornal, a líder associativa acentua que a “população está unida” na luta pelo “direito consagrado na Constituição” e que a Comissão “irá até as últimas instâncias” para que o poder central “resolva o problema dos utentes”.
“Não faz sentido que um centro de saúde, que serve 7 mil utentes, tenha, neste momento, apenas um médico de família. A unidade de saúde tem apenas dois médicos de família, sendo que um deles está de férias, o que é claramente insuficiente”, revela.
Para Mónica Antunes, são necessários médicos, mas também enfermeiros e administrativos para repor “o direito à saúde”, um direito de que a população da vila “está a ser privada”.
A dirigente explica que a constituição da Comissão surgiu na sequência “da falta de respostas” da Unidade de Saúde Local de São José, com quem o movimento terá reunido “há vários meses”, mas que “disse logo que não tinha capacidade para resolver a situação”.
Mónica Antunes enaltece o “espírito de união” da população, que se juntou ao movimento porque “já está farta desta falta de respostas das entidades competentes”, e avisa que a Comissão tem previsto “mais ações de protesto” contra a inércia registada na resolução de um problema que já estará a pôr em causa a saúde “de muitos habitantes” do Prior Velho.
A dirigente associativa revela que o movimento nasceu de forma espontânea, pela “revolta da população”, mas que é apartidário e luta apenas pelo direito à saúde – e informa que o presidente da Junta de Freguesia, Carlos Gonçalves, esteve presente na reunião com a USL de São José.
Mónica Antunes finaliza o testemunho com a “promessa” de não deixar cair no esquecimento esta “causa social da população”.
E adianta que, agora que o movimento espontâneo de cidadania já foi transformado numa Comissão de Utentes, vão reivindicar este “direito fundamental” junto da Administração Regional de Lisboa e Vale do Tejo. Mas se, entretanto, nada for feito, “vamos falar com a ministra (da Saúde), porque esta situação tem de ser resolvida com urgência”.
Câmara de Loures “surpreendida”
Contactada pelo nosso jornal, fonte da Câmara Municipal de Loures refere que o Executivo municipal “ficou perplexo e surpreendido” depois de saber que o Despacho n.º 4741-A/2025, de 17 de abril — em que o Ministério da Saúde fixa o número máximo de postos de trabalho em cada unidade e identifica quais as zonas qualificadas como carenciadas para efeitos da atribuição dos incentivos ao procedimento de recrutamento de pessoal médico –, não previa a contratação de médicos para esta unidade de saúde.
Depois de ter tido acesso ao despacho, a Câmara de Loures enviou uma carta ao Ministério da Saúde, no dia 29 de abril, a dar conta da preocupação do Município face à não atribuição de mais médicos para o Centro de Saúde do Prior Velho, bem como à inexistência na atribuição de profissionais de saúde para o Centro de Saúde do Catujal, cuja resposta da tutela apontou para a realização de teleconsultas, em vez da contratação de médicos.
A CML adianta, porém, que apesar da carta ter sido entregue na tutela, a situação se mantém.