O secretário de Estado da Proteção Civil, Rui Rocha, anuncia que o Governo vai criar o Estatuto de Carreira dos Bombeiros, mas também “fazer aprovar a nova lei orgânica da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil até ao final deste ano”. Carlos Moedas foi distinguido com o Colar de Honra e Mérito, a mais alta condecoração atribuída pela ANBP
Há precisamente 24 anos, cerca de 3000 pessoas perderam a vida, entre elas 343 bombeiros que morreram no exercício das suas funções, enquanto tentavam salvar e proteger a população. O fatídico dia 11 de Setembro é uma data que ficou gravada na História recente da Humanidade.
É também a data escolhida, em memória de todos os Bombeiros que perderam a vida durante as operações de busca e resgate no cenário de destruição, morte e sofrimento resultante do atentado terrorista às Torres Gémeas, que se celebra o Dia Nacional do Bombeiro Profissional.
Desta feita, a cerimónia realizou-se na cidade de Lisboa, no dia 11 de setembro, convertendo-se no centro das comemorações da 17.ª edição do Dia Nacional do Bombeiro Profissional, um evento promovido pela Associação Nacional de Bombeiros Profissionais (ANBP) para homenagear o trabalho incansável de todos os Bombeiros que se dedicam, diariamente, à proteção de pessoas, bens, natureza e animais.
A cerimónia nacional deste ano, realizada na Praça do Império, em frente ao Mosteiro dos Jerónimos, contou a presença de cerca de 500 Bombeiros, oriundos de Corpos de Bombeiros de todo o país, incluindo das Regiões Autónomas da Madeira e dos Açores. Em formatura, os Bombeiros prestaram uma sentida homenagem aos colegas falecidos no cumprimento do dever.
Como parte das comemorações, foram atribuídas medalhas a Bombeiros que se distinguiram pelo seu profissionalismo, coragem e dedicação ao serviço. Estas condecorações visam enaltecer o contributo destes profissionais para a proteção da população e para a dignificação da missão dos Bombeiros em Portugal.
Bombeiros portugueses entre os melhores do mundo
O secretário de Estado da Proteção Civil, Rui Rocha, sublinhou que ser Bombeiro “é mais do que uma profissão”, “é um compromisso com a vida, um ato permanente de serviço público e um exemplo de solidariedade”.
Neste ano particularmente exigente, em que o dispositivo especial de combate a incêndios rurais está em plena atividade, “os Bombeiros portugueses voltaram a demonstrar porque são considerados os mais dedicados e dos mais competentes do mundo”.
Nas últimas semanas, enfrentaram com bravura e profissionalismo os grandes incêndios rurais, que ameaçaram comunidades inteiras. “Foi graças ao vosso esforço, vidas foram salvas, casa protegidas e florestas preservadas. O combate aos incêndios rurais é uma missão dura, muitas vezes ingrata, onde cada minuto pode fazer a diferença entre a tragédia e a esperança. Ver-vos avançar contra as chamas é testemunhar o mais puro sentido de serviço público, colocar o bem comum acima dos interesses individuais”,
No entender do responsável, o trabalho dos Bombeiros vai muito além do combate a incêndios. Asseguram o socorro em acidentes rodoviários, operações de buscas e resgates, e até na sensibilização da sociedade para a segurança civil. “Cada operação vossa, traduz-se em vidas salvas, em comunidades protegidas, em confiança renovada”.
A Proteção Civil em Portugal “só é forte porque assenta em pilares sólidos, é um dos pilares mais sólidos são os nossos Bombeiros”.
Reforço de meios e revalorização da carreira
É por isso, que enquanto Secretário de Estado, “reafirmo hoje o compromisso do Governo em continuar a trabalhar convosco no reforço dos meios e equipamentos para que disponham de melhor resposta; na valorização da carreira e da formação contínua; na modernização do sistema de Proteção Civil, tornando-o cada vez mais eficaz, ágil e próximos das populações”.
Devo sublinhar que um dos objetivos deste Governo é criar o Estatuto de Carreira dos Bombeiros, mas também “fazer aprovar a nova lei orgânica da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil até ao final deste ano”.
O Governo quer também levar a cabo “o reforço e igualdade para todo o país” dos benefícios e regalias para todos os bombeiros, esperando garantir a “profícua colaboração da Associação Nacional dos Municípios”.
Pretende ainda implementar de forma progressiva em todos os corpos de bombeiros “a profissionalização da primeira intervenção, garantido o socorro e a emergência 24 horas, 365 dias por ano”, aproveitando o trabalho das equipas de intervenção permanente com “a necessária atualização de um modelo que foi criado em 2008”.
O governante não esqueceu as famílias dos bombeiros. “Elas são parte essencial desta missão. São elas que suportam as ausências, as incertezas, e por vezes os perigos inerentes à atividade. As famílias são pilares invisíveis, mas indispensáveis a todo o sistema”.
Rui Rocha prestou homenagem a todos os bombeiros mortos no cumprimento do dever. “A sua memória permanece viva em cada quartel, em cada sirene que ecoa, em que gesto de solidariedade que prestam”.
No entender do governante, a melhor homenagem que “lhe podemos prestar é continuar a trabalhar para que o serviço de proteção civil seja cada vez mais seguro, coordenado e eficaz”.
O mundo de hoje apresenta desafios de elevada complexidade: fenómenos climatológicos extremos, riscos tecnológicos e acidentes graves. Estes desafios “exigem uma intervenção integrada, onde a preparação
Em nome do Governo, Rui Rocha proferiu um “profundo agradecimento” a todos os bombeiros portugueses, que representam um “exemplo de altruísmo e coragem”.
“O vosso exemplo de heroísmo inspira-nos a todos e reforça a convicção de que unidos conseguimos superar qualquer adversidade”.
Moedas distinguido pelos Bombeiros
Durante a cerimónia, o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, foi distinguido com o Colar de Honra e Mérito, a mais alta condecoração atribuída pela ANBP, organismo liderado Presidente Fernando Curto, em reconhecimento pelo seu compromisso com a valorização dos Bombeiros, o reforço da Proteção Civil e o trabalho em prol da segurança dos cidadãos de Lisboa.
O autarca manifestou-se “honrado” por ser distinguido pelos Bombeiros, por considerar que a distinção “é algo diferente”.
“É diferente de qualquer outra medalha, de qualquer outro prémio, de qualquer outra distinção. Porque, apesar de ter sido distinguido, sinto na verdade que deveria ser sempre o contrário: Que deveríamos ser nós a distinguir os bombeiros”.
Carlos Moedas felicitou “todos aqueles que aqui estão e que comigo receberam esta condecoração”, pois “todos sentimos o mesmo orgulho em estar aqui. Quero, sim, homenagear os nossos bombeiros. Quero dizer-lhes, olhos nos olhos, algo muito simples: obrigado”.
Moedas enaltece o trabalho dos Sapadores no acidente com elevador
“É algo tão simples, mas por vezes tão raro de dizer. Mas é preciso dizê-lo. Porque sem os nossos Bombeiros nada seria igual. Lisboa não seria a mesma. Eu vi exatamente isso na semana passada. Naquele momento trágico que vivemos no Elevador da Glória, que teria sido ainda mais grave sem os nossos bombeiros. Foram eles que estiveram lá. Foram eles que nunca abandonaram o local. Que ajudaram os feridos. Hoje, quero agradecer-vos por isso. Por isso e por tudo o que são e o que fazem. Obrigado pelo vosso sacrifício”.
Moedas realçou a pronta intervenção dos bombeiros no acidente do Elevador das Glória. “Foi isso que vi na passada quarta-feira, quando vivemos na cidade de Lisboa aquela tragédia inimaginável. Uma tragédia que ninguém podia prever. Naquele dia, quando cheguei ao local, vi os nossos Bombeiros Sapadores de Lisboa. Tinham demorado 3 minutos a responder à chamada. 3 minutos a chegar ao local. No mesmo dia em que tiveram de acudir à queda de um edifício na Graça”.
No mesmo dia em que tinham uma equipa na Lourinhã a ajudar a combater um fogo, mas, mesmo assim, “estavam ali no terreno”; “mesmo assim responderam sem hesitar à chamada. Estiveram a tratar dos feridos. A transportá-los para o hospital. A remover os destroços. Estavam de frente para o inimaginável. Toda a noite.
O autarca revela que foi o comandante dos Sapadores Bombeiros de Lisboa “quem me informou da gravidade da situação”, agradecendo a “coragem” dos Sapadores de Lisboa, que “nos susteve nesta tragédia do elevador da Glória. Foi o que nos ajudou a salvar vidas naquele momento tão difícil”.
Moedas lembrou ainda que foi a coragem dos Bombeiros que evitou uma tragédia maior, “este verão, e em todos os verões, quando há um incêndio que põe em perigo vidas e bens”, mas também quando há um fogo que ameaça casas, que ameaça a vida das pessoas.
Quando isto acontece, sublinha o autarca, são os Bombeiros que estão lá com a coragem de o enfrentar. “Muitas vezes pagando o preço da própria vida, como foi o caso de Daniel Agrelo, Bombeiro Voluntário da Covilhã que perdeu a vida num acidente de viação enquanto cumpria a sua missão”.
Como foi também o caso de Joaquim Ramos, Bombeiro Sapador de Lisboa, que faleceu a combater o incêndio do Chiado em 1988.
Para Carlos Moedas, os bombeiros são também portadores de esperança. “Eu sei disso – porque é isso que sinto quando vejo os Bombeiros Sapadores de Lisboa no terreno. Sei que tudo vai ser resolvido”.
Por isso, “é que para mim investir nos bombeiros é investir nesta esperança”.
Segundo o autarca, a CML investiu “mais de 8 milhões de euros investidos nos Bombeiros Sapadores de Lisboa nos últimos 4 anos, em mais veículos, como 3 novos veículos-escadas, mais e melhor equipamento”.
“Conseguimos, pela primeira, vez ultrapassar os 1000 elementos nos Bombeiros Sapadores. E demos ainda um maior apoio às associações de Bombeiros Voluntários”, anota, acrescentando ainda que a construção de dois novos quartéis na Ajuda e no Beato traduzem o “apoio” que a Câmara tem vindo a levar a cabo nas corporações lisboetas.
“E é esta a minha missão como presidente da Câmara: dar-vos as condições para que possam trabalhar, para que consigam proteger a cidade, vidas e bens”, concluiu.
Investimento nos Bombeiros como prioridade
O presidente da Associação Nacional de Bombeiros Profissionais (Fernando Curto), prestou homenagem aos profissionais portugueses caídos em “combate”, mas também às mais de 3 centenas de Bombeiros que morreram a tentar prestar auxílio às vítimas do 11 de Setembro, bem como as mais 3 mil vítimas civis.
Em análise relativa ao momento atual da profissão, Fernando Curto lembrou que “é cada vez mais importante o investimento do Governo nas câmaras municipais, nos bombeiros profissionais”.
Mas este investimento “não pode ser considerado apenas como uma despesa, displicente ou banal, mas sim uma prioridade para garantir os efetivos suficientes e de agentes de socorro com formação e equipamentos para haver uma intervenção eficaz e adequada”.
Nesse sentido, o responsável reclama que se equacione a possibilidade de o financiamento que é atribuído às Associações Humanitárias de Bombeiros “possam ser devidamente orçamentadas as verbas necessárias para os Bombeiros profissionais que desempenham funções nessas associações”, pois esta orçamentação iria “facilitar a compreensão” das quantias que estão destinadas ao quadro de Bombeiros profissionais que trabalham nestas associações.
Aos olhos de Fernando Curto, esta orçamentação iria permitir “uma melhor organização financeira e melhor organização nos recursos humanos”, para saldar o trabalho dos Profissionais, “pode ser exigida uma ainda maior operacionalidade e exigência no desempenho das suas funções” para melhor servir as populações.
Para Curto, a situação atual, em que o Governo financia as Associações Humanitárias e não as câmaras municipais, pelo facto do Estado não pode financiar o próprio “estado”, “é caricata”.
No entender do responsável, esta lei “deve ser alterada”, com “urgência”, mudando o regime de financiamento para que as autarquias possam reforçar o investimento no quadro de pessoal dos Bombeiros e ainda poderem comparticipar os orçamentos para aquisição de equipamentos.
“Deve-se acabar com o miserabilismo com que os Bombeiros ainda são conotados. Além do investimento nos corpos de Bombeiros profissionais, exigimos respeito. Algumas câmaras municipais não cumprem a lei, alteram horários, fragilizando a sua própria estrutura de Proteção Civil, em vez de valorizarem. E se a lei penalizasse um autarca pelo facto de no seu concelho não existir um efetivo proporcional às necessidades do território?”, questiona.
Apurar responsabilidades
Fernando Curto anuncia que a Associação Nacional de Bombeiros Profissionais está a ultimar um relatório sobre os incêndios do verão, adiantando que a estrutura “irá tirar as suas conclusões” sobre os resultados das intervenções e, caso se apurem responsabilidades, avançar com a “substituição das chefias” que cometeram falhas graves no terreno ou na coordenação do combate aos fogos.
O responsável lembra que as conclusões do relatório serão enviadas ao Governo, mas aproveitou para reclamar “por mais condições”, “mais formação”, para que todos os Bombeiros se tornem ainda mais operacionais.
Vítor Melícias foi homenageado
O padre Vítor Melícias, que desempenhou as funções de capelão dos Bombeiros portugueses anos a fio e que, nesse período, foi uma espécie de guia espiritual dos Bombeiros lusos, foi outro dos homenageados.
Para além dos oradores, a cerimónia contou com a presença do presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses (António Nunes), o presidente da Associação Portuguesa de Bombeiros Voluntários (João Marques), o presidente da Escola Nacional de Bombeiros (Lídio Lopes) e o comandante do Regimento de Sapadores Bombeiros de Lisboa (tenente-coronel Alexandre Rodrigues), para além de vários comandantes de Bombeiros de todo o país, deputados e autarcas.