Em disputa pelo eleitorado de esquerda, as farpas entre Alexandra Leitão e João Ferreira têm sido cada vez mais recorrentes. “O PS garantiu a maioria absoluta que Carlos Moedas não teve nas urnas”, acusa João Ferreira, defendendo que o apelo ao voto útil de Alexandra Leitão se traduz numa “chantagem incompreensível” sobre eleitorado da esquerda.
Na semana passada, na sessão de apresentação de candidatura de Miguel Belo Marques à Junta de Freguesia de Campolide, André Moz Caldas, o ideólogo do programa da coligação “Viver Lisboa”, desferiu um duro ataque na candidatura de João Ferreira, alegando que o comunista e Carlos Moedas tinham estabelecido uma “santa aliança” para impedir que Alexandra Leitão e a sua equipa ganhassem as eleições.
Com os olhos no retrovisor para vigiar a subida da CDU, fruto das boas prestações nos debates de João Ferreira, também Alexandra Leitão, a candidata socialista à Câmara Municipal de Lisboa, tem vindo a sublinhar a importância do voto útil, apelando que “apenas” o voto na coligação “Viver Lisboa” poderá apear Carlos Moedas da liderança da CML. Alexandra Leitão dramatiza apelo ao voto útil dizendo-se a “única alternativa” a Moedas.
Luta a três e não a dois
Em declarações ao “Olhares de Lisboa” à margem de um encontro com músicos, o candidato comunista torce o nariz a esta posição dos opositores que disputam o eleitorado de esquerda e insiste em mostrar que a corrida à liderança da Câmara é feita a três, e não a dois. “Se alguém viu os debates, não pode pensar que há apenas duas candidaturas para disputar a CML. A CDU está preparada e está na disputa pela CML. Nós entendemos que é possível derrotar Carlos Moedas nestas eleições. Aliás, ao longo destes quatro anos, posicionámo-nos como a mais firme e consequente oposição à gestão de Carlos Moedas”.
Até porque, ao contrário do PS, “não tomámos a posição de viabilizar, sem condições, a sua gestão. Pensamos que essa atitude foi um erro que saiu caro à cidade. Nós entendíamos que a oposição deveria ter agido de outra forma: impondo soluções que a cidade precisa, evitando que as medidas negativas avançassem. Em termos práticos, o PS garantiu a maioria absoluta que Carlos Moedas não teve nas urnas.”
Disputar votos a Carlos Moedas
João Ferreira entende que “as possibilidades que existem de derrotar Carlos Moedas nestas eleições passam por disputar votos no seu campo. Há muita gente descontente, há muita gente arrependida de ter votado em Carlos Moedas. É com satisfação e agrado que constatamos que há quatro deu o seu voto a Moedas, mas que hoje esta disposta a vota na CDU.
João Ferreira entende que “pensar que roubando votos à CDU se pode derrotar Carlos Moedas, para além de uma chantagem incompreensível sobre o eleitorado, significa que no plano das ideias, do projeto, das propostas concretas para a cidade, já perdeu”, acusou João Ferreira.
“A CDU tem uma visão e propostas para a cidade, que se distanciam destes quatro anos de Moedas, mas também, em aspetos importantes, daquilo que foram os quatorze anos do partido socialista. É significativo que não tenhamos visto até hoje a mais ténue autocritica desses 14 anos de governação socialista. O que correu bem? O que poderia ser diferente? O que poderia ter corrido melhor? Também não houve qualquer autocritica do partido socialista na viabilização das propostas de Moedas. Ora, isso faz-nos supor que a intenção é continuar tudo na mesma”, assevera.
CDU como alternativa
Segundo João Ferreira, a cidade precisa de alternativa. E a CDU quer corporizar essa alternativa. “Temos provando nos debates que temos o conhecimento da cidade, a preparação técnica e política para operar a transformação que muita gente deseja na cidade. Como as outras candidaturas não têm argumentos, fazem uma chantagem incompreensível sobre o eleitorado”, reitera.
Reunião com músicos e apresentação de propostas
O candidato da CDU à presidência da Câmara de Lisboa esteve reunido com músicos lisboetas para se inteirar das dificuldades destes profissionais da cultura.
No encontro, no Jardim da Estrela, João Ferreira apresentou algumas medidas da sua candidatura para apoiar os criadores da área da música na capital.
Ao “Olhares de Lisboa”, João Ferreira revela que tem recebido “muitas queixas” do setor da Cultura da cidade. “As pessoas queixam-se da falta de apoio para a sua atividade, tendo em conta a ausência de espaços onde possam ensaiar e também apresentar o seu trabalho de forma regular”.
Mas também há descontentamento relativamente “à burocracia e aos atrasos associados aos apoios da Câmara Municipal ao movimento associativo. O Regulamento de Apoio ao Movimento Associativo (RAM) é frequentemente alvo de queixas, na medida em que se atrasa muito nos apoios atribuídos, o que obriga muitos músicos a adiantarem recursos – aqueles que o podem fazer –, que, muitas vezes, não têm”.
Para o comunista, “há sobretudo a ausência de uma política cultural que lhe seja destinada”. Em Lisboa, diz João Ferreira, há um certo esvaziamento do pelouro da Cultura da Câmara Municipal de Lisboa.
“Temos uma concentração de tarefas numa empresa municipal, que é uma empresa de gerência de equipamentos e de animação cultural. Ou seja, temos uma conceção de cultura que se restringe a uma certa ideia de animação cultural”.
“Democratização da Cultura” e descentralização para a periferia
“Uma política cultural tem de ser muito mais do que apenas isso. Uma cidade como Lisboa tem inevitavelmente de ter uma programação cultural rica e diversificada, até porque é aqui que se concentram grande parte dos equipamentos nacionais. Mesmo na ausência de uma política municipal para a Cultura, é inevitável que se concentre uma programação cultural com alguma densidade, até por isso é especialmente notória e criticável que o Governo abdique de ter uma política municipal para a Cultura”, esclarece.
Questionado sobre as medidas concretas da CDU para mudar o paradigma da Cultura na capital, João Ferreira concretiza que faria “tudo de diferente” da liderança de Carlos Moedas nesta área.
“Temos de criar condições para que a cidade seja conduzida para uma verdadeira democratização cultural, quer da fruição cultural, quer da própria criação. O mercado hoje já garante uma oferta considerável. Não é permissível que o Município de Lisboa gaste hoje recursos muito consideráveis do seu orçamento a apoiar iniciativas como os grandes festivais de música, como o Rock in Rio ou o Meo Calorama, por exemplo, que são grandes eventos que concentram uma parte significativa dos recursos nesta área”.
Aos olhos do candidato comunista, as políticas culturais na cidade deverão proteger os criadores que não tenham uma rede de apoio regular e atempada.
“Nós precisamos, pelo contrário, que a política municipal trate de garantir as condições imprescindíveis aqueles que não sobrevivem sem apoios. É preciso cuidar do substrato cultural de uma rede muito densa de agentes culturais, que por vicissitudes várias, dependem do apoio municipal para existirem ou deixarem de existir…”.
Programa Cultura na Periferia
No sentido de robustecer estes apoios, os comunistas propõem a “criação de Gabinetes de Ação Cultural espalhados pela cidade, que dinamizem localmente a cultura”.
Até porque a cultura não só está muito concentrada nas zonas centrais da cidade, como não tem em conta que é na coroa periférica da cidade que se situam as maiores massas e concentração de pessoas. “Ou seja, temos de descentralizar não só a população, como as possibilidades de usufruto cultural”.
A CDU tem um programa, chamado Cultura na Periferia, que visa alargar a rede de equipamentos culturais a freguesias que estão despidas desses equipamentos, sobretudo nas zonas periféricas.
“Estes equipamentos, de natureza diversa e polivalente, serão adaptáveis a vários tipos de ação cultural, mas constituem uma rede que assegure o acesso da cultura em toda a cidade. E isso deve ser feito em conjunto com agentes culturais, associações, coletividades. Propomos a criação de uma rede de Centros Comunitários que possam ser cogeridos por associações e agentes culturais, mas onde a Câmara deve prestar apoio logístico e financeiro”, conclui