José Miguel Cerdeira diz que está preparado para mudar a “cidade que ainda é bairro”. O candidato da coligação “Por ti, Lisboa”, à liderança da Junta de Freguesia de Campolide assume que a freguesia já está demasiado tempo sob o poder dos socialistas (quatro mandatos) e propõe uma série de medidas que prometem voltar a dar a importância que é devida a este território da capital.
José Miguel Cerdeira é candidato da coligação “Por ti, Lisboa” à Junta de Freguesia de Campolide. A sessão de apresentação de candidatura, no dia 13 de setembro, contou com presença de Vasco Moreira Rato, vereador e atual candidato (no 7º lugar) à Câmara Municipal de Lisboa, a deputada da Iniciativa Liberal à Assembleia da República, Angélique da Teresa e o deputado municipal do CDS Francisco Camacho.
Foi por pouco que o candidato à presidência da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, não perdia o discurso de José Miguel Cerdeira, uma vez que só conseguiu chegar à Praça de Campolide quase no final da cerimónia. Mas ainda chegou a tempo de proferir algumas palavras de incentivo ao economista que quer apear da cadeira do poder os socialistas que lideram Campolide há 16 anos.
Carlos Moedas aproveitou para “agradecer de coração o carinho que tem recebido de Lisboa”, que traduz “a força do povo de Lisboa” e “mostra a força da equipa que vai continuar a liderar Lisboa, a que se junta a força da Iniciativa Liberal, e que representa um orgulho enorme para mim”.
O candidato à liderança da Câmara da coligação “Por ti, Lisboa” considera que os valores desta coligação representam a “força do humanismo, tão bem patente nestes últimos dias”, na forma como se agiu face à tragédia do elevador da Glória, mas também o compromisso de “dar a Lisboa tudo aquilo que temos”.
O vereador Vasco Moreira Rato anotou que a Câmara de Lisboa tem estado “muito presente em Campolide nestes 4 anos”, reabilitando a habitação em bairros como a Calçada da Quintinha e a Bela Flor, lembrando que o investimento de “13 milhões” em Habitação na freguesia de Campolide “demonstram” que a Câmara não tem esquecido esta área de Lisboa.
Estacionamento e higiene urbana
Já a deputada liberal Angélique da Teresa, reconhece que Campolide tem um problema sério com a falta de estacionamento, que obriga os moradores a “andarem às voltas para encontrar um lugar onde estacionar o carro”, mas não concorda, de todo, com a posição do “bloco da esquerda” que demoniza o uso de transporte privado nas deslocações dentro da cidade. “Dizer que o uso do carro quando é necessário é mau, é uma ideia peregrina, é completamente surreal”, considerou, acrescentando que a cidade, e Campolide em particular, precisa de encontrar soluções para que os lisboetas possam usufruir de novos lugares de estacionamentos, seja através da reorganização do espaço público, seja através da “construção de novos parques subterrâneos”.
Relativamente ao problema da higiene urbana, Angélique da Teresa considera que já é tempo de “acabar com as politiquices e o passa-culpas de quem deve limpar o quê”, concentrando a tarefa da limpeza urbana, “em todo o lado”, na Câmara Municipal.
Segundo a parlamentar e candidata a deputada da Assembleia Municipal, os contentores e papeleiras “passarão a ter sensores que indicarão aos funcionários quendo devem reforçar recolhas ou quando devem vir”, não sendo as pessoas “que tem de preocupar em andar com o lixo à procura do contentor mais próximo”.
No entender da deputada, com as ruas limpas “conseguimos exigir mais civismo”, com as ruas sujas “não conseguimos nada”.
Cidade “que ainda é bairro”
José Miguel Cerdeira começou por lembrar que Campolide é “cidade que ainda é bairro; as pessoas conhecem-se, na Serafina, na Liberdade, na Bela Flor, no Tarujo e na Rabicha, mas também na Rua de Campolide ou na Calçada da Quintinha”
O economista social-democrata é um apaixonado pela sua freguesia, segundo diz. E enumera algumas das conquistas e das “maravilhas” de Campolide: “Temos o pulmão verde de Lisboa: somos uma das 7 freguesias que dividem entre si o Parque de Monsanto, que é um património que não prezamos o suficiente. Foi pensado há quase 100 anos – a comissão de arborização foi criada em 1929, e é uma prova de que o trabalho longo, estruturado, invisível, é mais importante do que o cortar de fitas”, mas há também o aqueduto, ícone de engenharia de há 300 anos, “que tanto nos orgulha e é símbolo da freguesia”.
O jovem aspirante a presidente de Junta lembrou ainda a marcha da Bela Flor/Campolide, “que tanto nos orgulha, e teve um honroso 11º lugar este ano”, mas também “os Santos à Campolide já são património da freguesia, uma prenda que damos ao resto da cidade e que deve ser bem cuidada todos os anos – sei bem o quanto a minha geração gosta de aqui vir em junho”.
Persistir e “não largar o osso”
Apesar dos pontos positivos já referidos, Campolide tem ainda um longo caminho a percorrer. E a equipa de José Miguel Cerdeira tem um programa que promete melhorar o dia a dia do território.
Para resolver a falta de lugares de estacionamento, propõe-se a construção de um silo.
“É preciso persistir porque só com estacionamento que funcione para os moradores é que conseguimos pensar em ter ruas para que todos possam aproveitar, passear, comprar, rir, viver, no fundo. Conseguir fazer o silo na General Taborda, integrando as preocupações dos vizinhos, conseguir outras parcerias para ter mais lugares, identificando lugares onde os privados possam fazer mais parques subterrâneos, instando a Câmara a fazer concursos para a construção desses parques. O ponto aqui é que o problema é de tal forma grave, que todas as soluções devem ser consideradas, com foco e sem largar o osso”.
Higiene urbana mais eficaz
Relativamente há higiene urbana, o candidato não tem dúvidas: “Precisamos de ruas limpas, sim, com melhor divisão de funções entre a CML e as juntas de freguesia, porque já vimos na cidade inteira que este modelo não funciona”.
Segundo José Miguel Cerdeira, a coligação “Por ti, Lisboa”, o presidente Carlos Moedas, “está consciente desta realidade e empenhado em mudá-la para um modelo que funcione melhor. A partir da Junta, vamos ser exigentes para que essa mudança aconteça, cumprindo por inteiro as nossas responsabilidades enquanto continuarmos com as mesmas funções”.
Mas não é só o modelo. “É preciso testar também algumas ideias novas, por exemplo, para sensibilizar o civismo de todos para a importância de as nossas ruas estarem limpas. E é preciso contar com a informação dos moradores de forma estruturada, com um mapa interativo em que se possa indicar problemas de pragas, de ratos, de baratas, problemas de acumulação de lixo, de limpeza da rua, etc.”
O candidato sabe que muitas destas responsabilidades são da Câmara, “mas a Freguesia tem de ser o defensor dos interesses de quem mora em Campolide. E só podemos ser esse defensor sério e aguerrido se soubermos dos problemas, com local, data e detalhe. Devemos aos cidadãos de Campolide que os problemas que reportam nunca caiam em saco roto, e que haja um processo para os informar do que foi decidido, concluído e do que se fez em resposta ao problema”, sublinha.
Evitar os “abusos” na ação social
Em relação à ação social, “precisamos de ação social que funcione para empoderar as pessoas, mitigando gradualmente a dependência do apoio”, apostando numa ação social coordenada, com reuniões periódicas entre as organizações no terreno em cada zona da freguesia, para coordenar estratégias mais eficazes, “evitar duplicação de respostas e abuso dos programas existentes”.
“Sabemos que o abuso destas respostas é raro, mas mesmo poucos casos desmoralizam quem trabalha de sol a sol e não tem apoios e até mesmo quem está a ajudar os que realmente precisam e têm poucos meios”, concretiza.
Informação simplificada para comerciantes
Os comerciantes da freguesia também precisam de uma atenção redobrada da autarquia e de ações concretas que facilitam as tarefas destes fregueses.
“Precisamos de apoiar os comerciantes de forma clara, para todos, e com o conhecimento de todos. Ter os regulamentos disponíveis, explicar as coisas em português simples, fazer vídeos a explicar aos cidadãos e comerciantes como podem fazer para ter licenciamento. Com mais feiras e com periodicidade definida, e que incluam os comerciantes locais num regime de preferência, quando tal fizer sentido. Aqui também importa que conversemos com os comerciantes, mas que isso aconteça de forma periódica, comunicada, e que não dependa da boa vontade ou da proximidade deste ou daquele membro da Junta de Freguesia”.
A Educação também precisa de um novo impulso, segundo o social-democrata. “Precisamos de continuar e afinar o apoio à Educação em Campolide: avaliar o que é feito, perceber onde podemos contar com parcerias com instituições que sabem o que fazem no caso dos tempos livres das crianças; dar formação aos auxiliares de ação educativa que dependem da Junta de Freguesia; assegurar o número adequado do pessoal que depende da Junta; em parceria e sempre dentro das necessidades que a comunidade escolar manifeste, contribuir para o enriquecimento curricular das escolas”.
Resgatar seniores do isolamento
A comunidade sénior, que o economista considera como “cidadãos de dignidade completa, necessita de uma abordagem mais inclusiva, que os resgate para o centro da sociedade.
“Vamos cuidar dos nossos seniores de forma particular, mas de forma que funcione. É preciso reforçar as soluções para uma vida dinâmica dos seniores: garantir que a Universidade Sénior é uma solução que chega a todos os que assim desejam; ter um foco na cidadania e segurança digital, porque a vida no digital, para muitos dos nossos mais velhos, é mais um fator para se sentirem separados, desligados, isolados, fora de tempo, quando são sim o garante de que nós menos experientes não entramos nem fora de tempo, nem fora de pé”.
Potencializar os planos de saúde do município
No âmbito da saúde, a Câmara de Lisboa promove já o Plano de Saúde 65+, um plano gratuito com teleconsultas, médico em casa, e transporte quando necessário. No entanto, “talvez faça sentido avaliar se a melhor resposta para promover a saúde dos nossos idosos é mesmo a que estamos a fazer, com respostas extra no posto de saúde da freguesia, ou se é potenciar e integrar na solução que já existe por parte da CML”.
Regresso do guarda-noturno
Para o candidato da coligação “Por ti, Lisboa, a segurança é também fundamental, “e aí, reconhecendo trabalho feito pelo atual executivo, é preciso reforçar”.
“Estar disposto a ouvir a crítica, mesmo que se trabalhe. Instar a polícia e as autoridades a testar novas soluções, trabalhando com as associações nos problemas que vamos vivendo cada vez mais com toxicodependência, ponderando soluções com apoio e contribuição da comunidade, como a videovigilância ou reforçando o uso, que já existe em certas áreas da freguesia, do guarda-noturno”.
Delegação da Junta nos bairros mais problemáticos
José Miguel Cerdeira acredita que nenhum bairro da freguesia deve sentir-se à margem, por mais problemas que tenha. E fechou o discurso com uma palavra final nas propostas para o Bairro da Liberdade, e também para a Serafina mais acima, “que quem conhece sabe que vive problemas dramáticos, e que coram de vergonha qualquer responsável político decente”
Para o aspirante a autarca, os planos sucessivos e a desilusão consecutiva ocorrem porque “não há pressão política”.
“E só haverá pressão política se os atores políticos forem forçados, dia a dia a viver os problemas das pessoas, a estar próximos. E por isso vou encetar esforços para criar uma delegação da junta de freguesia no bairro da Liberdade ou no bairro da Serafina, onde o presidente de Junta possa trabalhar 1 ou 2 semanas em cada mês. O Eixo Norte-Sul separa-nos, mas não pode ser motivo para ignorar e fechar os olhos”.
Aos olhos do candidato, Campolide precisa de “ideias sérias, e precisa de quem ouça, trabalhe e persista. Ouvir, trabalhar e persistir são os três compromissos que assumi com os moradores de Campolide na carta que deixei já a muitos nas suas caixas de correio. Porque na família, no trabalho, na política, importa que as palavras se reflitam em ações”, asseverou.
Campolide não tem praticamente áreas verdes. O candidato compromete-se a “sombrear” as artérias da freguesia, criando abrigos e plantando mais árvores nas várias ruas do território para mitigar as lacunas de proteção contra os raios ultravioleta.