Foi ao som de um fado de Vicente da Câmara que José da Câmara — filho do patriarca de um clã de intérpretes da canção nacional que agora se dedicam à política — pisou o palco de apresentação da sua recandidatura à presidência da Junta de Freguesia de São Domingos de Benfica. Carlos Moedas aproveitou a ocasião para acusar Alexandra Leitão de “cinismo político”.
A sessão de apresentação de candidatura de José da Câmara, no dia 1 de outubro, contou a presença do presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas,do vereador Rui Cordeiro, Luís Newton, presidente da Concelhia do PSD Lisboa, entre outras figuras da coligação “Por ti, Lisboa”.
Rodeado dos amigos, família e da sua extensa equipa de candidatos, o Ex fadista José da Câmara, que se candidata integrado numa coligação que inclui os partidos PSD/CDS/IL, fez um balanço do seu mandato, reconhecendo que “cheguei com vontade de vencer, encontrei obstáculos e burocracias, mas nunca deixei de lutar pelas pessoas e pela freguesia”, referiu, acrescentado que as pessoas estiveram sempre no centro da sua ação.
Contas à obra feita
Em retrospetiva dos quatro anos da sua presidência, José da Câmara diz que muito foi feito. “Reabilitámos vários jardins e canteiros; construímos 500 metros de passeio na Estrada de Benfica; nos últimos seis meses pintámos mais de 200 passadeiras de peões; resolvemos mais de 3400 ocorrências no espaço público; reparámos vários buracos das estradas”, aponta, acrescentando que a Junta de Freguesia de S. Domingos de Benfica inaugurou uma nova biblioteca, requalificou o Pavilhão do Calhau, “um novo espaço para usufruto da população, não só a do bairro, mas também de todos os que irão frequentar este equipamento, que albergará vários eventos culturais e terá atendimento social”.
Mas a intervenção da autarquia não se ficou pelo referido, sublinha o candidato. “Sob a nossa gestão, criámos novos espaços de aprendizagem nas escolas da freguesia, como as salas multissensoriais; realizámos uma campanha para a adoção de animais; desenvolvemos o projeto para a construção do campo de basquetebol no Parque Bensaúde, retirado da Rua Olavo de Eça Leal a pedido dos moradores e lançámos o concurso para a requalificação do campo do Largo Mário Neves”.
Por outro lado, o autarca anuncia que “já temos o projeto de execução do Mercado de S. Domingos de Benfica”, que terá uma nova centralidade, “com mais funções comerciais”, mas explicou, no entanto, que a obra ainda não foi iniciada devido ao “chumbo dos partidos da oposição, à exceção do PCP, da proposta de despesa plurianual desta obra”.
Na ação social, José da Câmara salienta o apoio a “180 agregados familiares” e a distribuição de 11700 refeições aos mais carenciados.
Na área da higiene urbana, destaca o “investimento nunca antes visto” em meios mecânicos e humanas e as “23 horas de trabalho diário”, que resultou na recolha de “24 toneladas” de lixo nas ruas da freguesia.
Objetivos para quatro anos
Quanto às propostas para o próximo mandato, José da Câmara ressalva a construção de um parque de estacionamento “dissuasor” de 100 lugares no lugar do talude nas traseiras da Escola Delfim Santos, “o que permitirá aumentar a segurança nos dias dos jogos de futebol”; a adesão ao projeto Teatro em Cada Bairro; solicitar à CML o regresso da antiga sede Junta de Freguesia — dependente do recuo na instalação de uma esquadra de polícia no edifício – para usufruto da população.
O candidato quer avançar com a construção do Mercado de São Domingos de Benfica e a requalificação do Mercado de São João, bem como organizar a Feira do Empreendedor, para que os artesãos locais possam mostrar as suas criações ou produtos.
Na segurança, é objetivo reforçar a iluminação pública, substituindo lâmpadas antigas por tecnologia LED, em articulação com a CML, promover o regresso dos guardas-noturnos e a instalação de câmaras de videovigilância.
O candidato assume ainda o compromisso de adquirir um novo sistema móvel de higienização do espaço público, através de uma carrinha que circulará pela freguesia para recolher e lavar os contentores do lixo do sistema porta-a-porta ou a colocação de sensores inteligentes nas papeleiras para verificação das taxas de enchimento.
Alfinetadas na governação socialista da CML
José da Câmara concluiu o discurso com um apelo ao voto da coligação “Por ti, Lisboa”, “Por ti, S. Domingos de Benfica”.
O vereador Rui Cordeiro usou da palavra para dar algumas alfinetadas na direção dos 14 anos de gestão socialista na CML. O autarca refere que o anterior executivo camarário (PS) “deixou as contas (da CML) no negativo”, tal como o saldo contabilístico da Junta de Freguesia de S. Domingos de Benfica. “O José (da Câmara) também herdou uma situação complicada”, com as “contas no negativo”, atirou.
Segundo o vereador, com o objetivo de repor alguma “normalidade” na freguesia, o executivo de Carlos Moedas investiu 1 milhão de euros nos arruamentos de S. Domingos de Benfica, atribui meio milhão de euros aos clubes da freguesia, construiu habitação pública, entre outras medidas.
Rui Cordeira considera que a governação de Moedas “foi dificultada” pelo facto de não ter maioria. “Foi muito difícil”, mas, ainda assim, o executivo liderado por Carlos Moedas “fez muito” para voltar a pôr a cidade de Lisboa nos eixos, defende Cordeiro.
Moedas acusa Leitão de “cinismo político total”
O candidato de PSD/CDS-PP/IL e atual presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, fez questão de mostrar confiança total nas capacidades do “amigo e grande homem” que quer continuar a liderar a autarquia de S.D. de Benfica.
Dirigindo-se a José da Câmara, disse: “Tens os valores certos. És um homem de família, de valores que partilhamos, que gosta de pessoas e que é um homem de palavra”, mas “és também uma pessoa genuína, que, quando não sabe responder, se informa com quem sabe mais do assunto”, considerou.
Carlos Moedas e Alexandra Leitão têm andado num bate-boca mediático, num jogo de forças à conquista de votos. No dia em que veio a público uma sondagem que dava um “empate” entre a coligação “Por ti, Lisboa” versus “Viver Lisboa” nas intenções de voto, ambos com 28% das intenções de voto, Moedas passou ao ataque.
Após considerar que os autarcas “têm a responsabilidade de falar com as pessoas na rua”, Moedas apontou baterias para o “cinismo político total” de Alexandra Leitão relativamente à crise na habitação em Lisboa. “Falar de habitação que o PS nunca fez em Lisboa, é de um cinismo político total”, reiterou.
“Alexandra Leitão anda a dizer que vai mobilizar 4500 casas para habitação pública, mas onde estão as casas?”, questiona, aproveitando para acusar a sua oponente de ter um trajeto político oriundo da “extrema esquerda” e que está aliada com “os radicais” do Bloco de Esquerda, que “nada fizeram pela habitação na cidade” e “defendem as ocupações de casas”.
Para Moedas, esta aliança de socialistas com bloquistas traduz um dado “perturbador”: a coligação “Viver Lisboa” “está radicalizada” e toma partido pelos “ocupas”.
Críticas e projetos
O autarca social-democrata destacou o trabalho dos últimos quatro anos, tendo como base a construção de um estado social local, com destaque para a habitação pública, “onde a CML fez mais em 4 anos do que o PS em 14”.
Moedas realçou que brevemente os projetos de habitação pública previstos para o Vale de Santo António e o Vale de Chelas, construir habitação nos 2250 hectares que estão parados há 20 anos, não estão esquecidos.
Outras das medidas passam por intervir na Tapada das Necessidades, um projeto para o qual destina 20 milhões de investimento, para requalificar todo o espaço.
O autarca destaca ainda a retirada de “mais de 100 tendas junto à Igreja dos Anjos”, com soluções de realojamento para que as pessoas não ficassem na rua, afirmando que “muitas pessoas não queriam que a situação se resolvesse” e a CML dispõe de uma equipa que acompanha a população sem-abrigo.
Sobre os problemas a resolver, o candidato apontou o lixo, que considera resultar de “desresponsabilização política” após a descentralização de competências para as juntas de freguesia, uma medida da responsabilidade dos socialistas.
Com “ganas”
Para o Carlos Moedas o combate político “faz nas ruas a ouvir as pessoas” e “não pelas opiniões de comentadores ou jornalistas”.
Carlos Moedas apelou à mobilização dos lisboetas nas eleições autárquicas de 12 de outubro, para decidirem se querem “um retrocesso” ou o avançar do projeto que iniciou em 2021, lembrando que os apoiantes devem “bater às portas” das pessoas para lembraram a importância de votarem na sua lista.
Repetindo uma expressão já usada, assume-se com “ganas” de prosseguir com o seu projeto para cidade.
Pela Iniciativa Liberal, Ana Cristina Pereira reclamou uma freguesia em que “quem quiser abrir um negócio, não seja confrontado por um labirinto de burocracia”, agilizando-se a criação de emprego e a iniciativa privada.
Luís Vaz Ribeiro, do CDS, que se assumiu como “filho da terra”, defende uma freguesia que promova os valores “da (instituição) família e da comunidade”, mas também os apoios sociais dos idosos e dos mais jovens.