Os resultados das eleições de 12 de outubro para as juntas de freguesia da capital pautaram-se por uma vitória pela margem mínima, com a coligação de Alexandra Leitão a obter 12 lideranças de juntas e a coligação de Carlos Moedas a conquistar 11. A CDU manteve o seu único bastião na cidade e o Chega não conquistou qualquer presidência de junta, mas afirmou-se como força política local a ter em conta.
Nas juntas de freguesia a coligação liderada pelo PS equilibrou a sua presença com 12 vitórias, mas a cidade de Lisboa está dividida. As 24 juntas de freguesia de Lisboa estão repartidas entre a coligação que agrupa socialistas, Livre, PAN e BE, liderada por Alexandra Leitãoe a coligação liderada por Carlos Moedas PPD-PSD/CDS/IL. Mas a CDU conseguiu sobreviver no seu reduto, Carnide, transformada na irredutível aldeia de Asterix.
Como resultado destas eleições, a cidade de Lisboa ficou “pintada” a rosa, mas também a laranja, numa paleta de cores onde sobressai o vermelho da freguesia de Carnide, o último bastião comunista na capital, que reelegeu um candidato desta cor política.
As eleições autárquicas de 12 de outubro ditaram a uma distribuição praticamente equitativa nas 24 áreas administrativas do município. 12 freguesias para o PS, 11 para o PSD, uma para a CDU. Entre as novidades e trocas, registou-se, por exemplo, que a coligação liderada por Carlos Moedas, “Por Ti, Lisboa” retirou ao PS Campo de Ourique e Campolide; e em Arroios, Madalena Natividade (Por Ti, Lisboa – CDS) foi ultrapassada por um dos estreantes dos candidatos às presidências das juntas de freguesia, João Jaime Pires (independente, apoiado pelo PS). Destaca-se, ainda o caso de Carnide, única freguesia CDU da cidade, em que Fábio Sousa saiu de cena para dar lugar à colega de partido, Susana Cruz.
Chega de fora das lideranças
Face ao crescimento do Chega nas legislativas, a transferência de votos para as autárquicas não trouxe os resultados de que a direção do partido de Ventura estaria à espera. Foi em Marvila que se registaram mais votos (já nas últimas legislativas, em março, foi aqui se votou mais nesta força política – o partido ficou em segundo lugar, com uma expressão de 25,98%. Pelo contrário, em Alvalade, Belém e Santo António, o Chega não teve resultados dignos de destaque.
Não houve grandes estranhezas nos resultados dos presidentes de junta eleitos para o quadriénio 2025-2029 na capital portuguesa, causando, porém, alguma surpresa os eleitos em Campolide e Arroios, onde os candidatos José Cerdeira e João Jaime Pires, respetivamente, conquistaram resultados que superaram as expetativas mais otimistas.
Repetentes com maioria absoluta
Entre as 24 freguesias da capital, destacaram-se seis repetentes, cinco casos de sucesso com maioria absoluta, um de resistência e dois de evolução na continuidade.
Eis alguns exemplos de autarcas que foram reeleitos para um novo mandato, com maioria absoluta.
O socialista Jorge Marques manteve-se firme na Ajuda, conquistando uma maioria absoluta que lhe dará margem de manobra para exercer uma liderança sem sobressaltos. O arquiteto Jorge Marques conquistou quase o dobro dos votos da coligação de direita “Por ti, Lisboa”. A coligação liderada pelo socialista obteve 3.095 votos face aos 1.587 votos da coligação PPD/PSD.CDS-PP.IL, mas, agora, a Assembleia de Freguesia da Ajuda vai ter dois membros dos Chega, algo que não aconteceu no anterior mandato.
O social-democrata Daniel Gonçalves, reeleito pela coligação “Por ti, Lisboa”, na freguesia Avenidas Novas, é outro caso de sucesso entre os autarcas lisboetas. Foi reeleito com quase o dobro dos votos do candidato da coligação “Viver Lisboa”, conquistando uma confortável maioria absoluta da Assembleia de Freguesia, localizada numa das áreas nobres da capital.
O também social-democrata Pedro Jesus, no Areeiro, também conquistou uma maioria absoluta que lhe dará a tranquilidade suficiente para exercer a liderança de uma autarquia com seu cunho pessoal. Pedro Jesus substituiu o anterior presidente Fernando Braamcamp e conseguiu conquistar a pulso a confiança dos fregueses.
O social-democrata José da Câmara (Por ti, Lisboa – PSD) mantém-se na presidência – 46,24%, conquistando uma confortável maioria que lhe permitirá continuar a liderar São Domingos de Benfica sem os condicionamentos de ter que “negociar” com a oposição. Nestas eleições, José da Câmara teve mais votos do que em 2021 (8.585, em 2025, versus 6024, em 2021), conseguido eleger mais dois representantes na Assembleia de Freguesia. Há, todavia, um problema com 61 votos que ficaram de fora da contagem inicial por “erro de impressão” dos boletins, mas estes votos podem ter mais peso na contagem final na luta pela eleição de mais um vereador entre a CDU e o Chega do que propriamente na eleição para a junta de freguesia, já que não alteram os resultados globais para a freguesia de São Domingos de Benfica.
O socialista Ricardo Marques (Viver Lisboa – PS), mantém-se na presidência da junta de Benfica, graças à sua vitória rotunda nestas eleições. A vitória de Ricardo Marques não sofre contestação: obteve 54,45% da votação, dobrando os votos conseguidos pela coligação “Por ti, Lisboa”, 26,89 %.
Na freguesia de Marvila não houve maioria absoluta, mas José António Videira (Viver Lisboa – PS) conseguiu resistir ao avanço da coligação “Por Ti, Lisboa” e mantém-se na presidência, sendo reeleito com 38,22%, que traduzem 5.442 votos. O autarca socialista viu, no entanto, a coligação “Por Ti, Lisboa” aproximar-se na votação, conquistando 28,17 % (4.464 votos), enquanto que nas eleições de 2021 tinha um número de votantes bem menos expressivo: 15,62 % (2.120 votos). Ou seja, a coligação PPD/PSD.CDS-PP.IL dobrou o número de eleitores em Marvila. O Chega conseguiu triplicar os eleitores na freguesia: 3.759 votos e passou a ser terceira força em Marvila. A CDU trocou de posição com o partido de extrema-direita e caiu para o quarto lugar das preferências de voto.
Filipa Veiga (Por Ti, Lisboa, independente apoiada pelo PSD) – venceu a corrida pela Junta de Freguesia de Santo António, com 49,38%, isto é, com maioria absoluta.
A coligação PPD/PSD.CDS-PP.IL manteve a liderança na freguesia de Santo António nas eleições autárquicas de outubro de 2025, reforçando a votação. Conquistou 49,38% dos votos e elegeu a presidente da junta de freguesia, Filipa Veiga, que substituiu Vasco Morgado como presidente da Freguesia de Santo António, que já não se pôde recandidatar por já ter cumprido três mandatos. A coligação de centro-direita reforçou a sua posição face a 2021, quando obteve 44,56% dos votos. Filipa Veiga conquistou 2.563 votos, enquanto que o médico Lucas Manarte, PS-L-BE-PAN, convenceu 32,75 % do eleitorado, que representa 1.733 votos. Com 9,09 de percentagem de votos (507 votos), a CDU elegeu um representante na Assembleia de Freguesia de Santo António.
Os resultados das eleições para a junta de freguesia da Misericórdia pautaram-se por uma vitória da coligação “Viver Lisboa” que traduz a consolidação da liderança socialista. No poder desde 2013, onde Carla Madeira exerceu três mandatos consecutivos, a coligação apresentou agora Carla Almeida, que obteve 38,29% (1.599 votos), vencendo as eleições por uma diferença de 104 votos.
Comparativamente com o anterior mandato, destaca-se o reforço da coligação de esquerda, que aumentou de 33,09% para 38,29%, mas a composição da assembleia de freguesia vai ficar distribuída com 5 mandatos para cada lado, pois a coligação PPD/PSD.CDS-PP.IL também obteve 5 mandatos fruto da preferência de 35,80% dos eleitores (1.495 votos).
Falta saber se Carla Almeida irá tentar negociar com os comunistas para ter uma gestão mais tranquila, uma vez que a CDU conquistou 13,70% (527 votos), dois mandatos. O Chega, por seu turno, conseguiu um mandato, graças aos 304 votos conseguidos.
Resultados por freguesia
Ajuda – Jorge Marques (Viver Lisboa – PS) mantém-se na presidência – 46,56% (3.095 votos)
Alcântara – Mauro Santos (Viver Lisboa – PS) – 47,99% (2.950 votos)
Alvalade – Tomás Gonçalves (Por Ti, Lisboa – PSD), mantém-se na presidência – 46,31% (8.567 votos)
Areeiro – Pedro Jesus (Por Ti, Lisboa – PSD) – 48,86%, mantém-se na presidência. (5.679 votos)
Arroios – João Jaime Pires (Viver Lisboa, independente apoiado pelo PS) – 42,34% (5.679 votos)
Avenidas Novas – Daniel Gonçalves (Por Ti, Lisboa – PSD), mantém-se na presidência – 50,25% (6.383 votos)
Beato – Silvino Correia (Viver Lisboa, PS), mantém-se na presidência – 38,16% (2.044 votos)
Belém – João Carvalhosa (Por Ti, Lisboa – PSD) – 57,63% (5.058 votos)
Benfica – Ricardo Marques (Viver Lisboa – PS), mantém-se na presidência – 54,45% (10.307 votos).
Campo de Ourique – Ana Mateus (Por Ti, Lisboa – PSD) – 41,24% (4.502 votos)
Campolide – José Cerdeira (Por Ti, Lisboa – IL) – 39,53% (2.702 votos)
Carnide – Susana Cruz (CDU) – 41,65% (4.072 votos)
Estrela – Luís Almeida Mendes (Por Ti, Lisboa – PSD) – 53,47% (4.691 votos)
Lumiar – Ricardo Mexia (Por Ti, Lisboa – PSD) mantém-se na presidência – 46,06% (11.782 votos)
Marvila – José António Videira (Viver Lisboa – PS) mantém-se na presidência – 38,22% (6.059 votos)
Misericórdia – Carla Almeida (Viver Lisboa – PS) – 38,29% (1.599 votos)
Olivais – Iara Ferreira (Viver Lisboa – PS) – 29,16% (4.697 votos)
Parque das Nações – Carlos Ardisson (Por Ti, Lisboa – CDS) mantém-se na presidência – 49,84% (5.308 votos)
Penha de França – Elisa Madureira (Viver Lisboa – PS) – 39,56% (4.834 votos)
Santa Clara – Carlos Manuel Castro (Viver Lisboa – PS) – 32,41% (2.962 votos)
Santa Maria Maior – Maria João Correia (Viver Lisboa – PS) – 40,95% (1.448 votos)
Santo António – Filipa Veiga (Por Ti, Lisboa, independente apoiado pelo PSD) – 49,38% (2.613 votos)
São Domingos de Benfica – José da Câmara (Por Ti, Lisboa – PSD) mantém-se na presidência – 46,24% (8.585 votos)
São Vicente – André Bivetti (Viver Lisboa – PS) – 40,33% (2.339 votos)
A corrida à Câmara Municipal de Lisboa teve Carlos Moedas como vencedor. Moedas teve mais 30 mil votos relativamente às eleições anteriores e conseguiu eleger mais um vereador (passou de sete para oito), mas fica a um vereador da maioria. Em resposta aos jornalistas, o autarca negou-se a estabelecer coligações com o Chega, que elegeu dois vereadores, mas promete tentar encontrar soluções governativas próprias dos regimes democráticos.